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sexta-feira, abril 20, 2007

Kessíphoda

Numa matéria, no último dia 10, do Jornal do Commercio, sobre o descaso da administração pública com a conservação do Parque das Esculturas nos arrecifes do porto em frente à praça do Marco Zero, no Bairro do Recife, o jornal entrevistou o artista plástico Francisco Brennand autor das maravilhosas obras lá expostas. A base da principal delas, a Torre de Cristal, com 32 metros de altura, corre o risco de cair, comprometida pela ferrugem.

Disse, Brennand, já estar cansado de recorrer às autoridades apresentando sugestões para manutenção do Parque e que, infelizmente, não é um fato que ocorra somente no Recife.

Dizia o texto:

“Francisco Brennand observa, porém, que esse tipo de problema não é novo nem específico do Recife”. No Rio de Janeiro, um conjunto de casas coloniais, onde morou Augusto Rodrigues (pintor português nascido em 1848 e que morreu no Rio de Janeiro no ano de 1888), foi invadido por sem-teto. O mundo todo está atravessando períodos difíceis, diz.”

Referia-se, Brennand, ao Largo do Boticário no Cosme Velho no Rio de Janeiro, tombado pelo poder público, que deve seu nome ao sargento mor da Colônia Joaquim da Silva Souto, militar reformado, boticário da Corte e que lá vivia em sua fazenda.

Na década de 20 e 30 do século passado, as casas foram reconstruídas e restauradas por seus proprietários em seu estilo colonial original. Destacava-se a casa nº 20 reconstruída por Lucio Costa com jardins de Burle Marx e que, hoje, está invadida por sem-teto como lembrou Brennand.

Como vocês puderam ler também, na matéria, o repórter ou a repórter esclarecia ao leitor, através de informação entre parênteses, após o nome de Augusto Rodrigues, tratar-se de escritor português nascido em 1848 e falecido em 1888, no Rio de Janeiro.

Brennand, obviamente, referiu-se a Augusto Rodrigues, seu conterrâneo, nascido em Recife, em 1913, filho de tradicional família pernambucana.

Pintor, desenhista, gravador, ilustrador, fotógrafo, caricaturista e poeta, trabalhou no ateliê de Percy Lau e realizou sua primeira exposição individual em 1933, ainda no Recife.

Em 1935 mudou-se para o Rio de Janeiro. Durante anos, morou no Largo do Boticário tendo sua casa se transformado em ponto de encontro de amigos e artistas. Em meados dos anos 60 do século passado, liderou uma luta vitoriosa pela preservação do histórico Largo que poderia ter sido destruído quando da construção do túnel Rebouças.

Em 1989 lançou o livro “Largo do Boticário - Em Preto e Branco” com 80 fotografias tiradas ao longo dos anos. Morreu em 1993.

O pintor português citado pelo jornal seria o Augusto Rodrigues Duarte, nascido em Nespereira (Portugal) em 1848 e falecido no Rio de Janeiro em 1888, cidade aonde chegou menino, e onde realizou seu aprendizado artístico, matriculando-se em 1866 na Academia Imperial de Belas-Artes. Sua obra mais célebre, Exéquias de Atala, está hoje exposta no Museu Nacional de Belas-Artes. Augusto Duarte, brilhante aluno de Vitor Meireles foi pintor de história e de gênero paisagista e infelizmente não se tem notícia de onde morou e, certamente, não se referiu a ele Francisco Brennand.

Só posso encontrar explicação para erro tão grosseiro no fato do jornalista desconhecer tanto um quanto outro pintor e ter acessado o Google para socorrer-se. Estampou-se em sua tela o nome de Augusto Rodrigues Duarte logo tomado como informação para o texto do jornal.

Esperei dez dias para ver se o Jornal do Commercio dava uma nota retificando sua informação. Nada, nem um pio. Infelizmente não é rara esta atitude do JC. Finge-se de morto fiel ao lema, corporativista, de “esqueçam, que esquecerão” subestimando seus leitores e pondo em cheque sua própria credibilidade.

Hoje, inclusive, perdeu nova oportunidade de se redimir em editorial sobre a mesma matéria de 10 dias atrás sobre o abandono do Parque das Esculturas.

Em homenagem a este tipo de comportamento sonso de levar com a barriga com ar de “num tô nem aí”, criei o personagem grego Kessíphoda, pai da escola kessiphoidiana, segundo a qual a não ação é a melhor solução para ações equivocadas ou inconvenientes, grosseiramente incorporada ao nosso dia a dia como a teoria do “fez merda, não mexe que espalha!”

Devemos ficar atentos aos adeptos de Kessíphoda!

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Faltou dizer que o famoso personagem grego, por acidente embarcou na Nau de Cabral e desembarcou numa nova nação, por volta de 1500 dC. Desde então sua legião de seguidores não para de crescer neste país do futuro. O mais famoso deles hoje se encontra "tranquilis".

11:45 AM  

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