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terça-feira, maio 06, 2008

Papo de botequim.

Meu amigo, você soube? A moça se jogou do nono andar do prédio ali defronte hoje de manhã. Como é que pode? Uma moça jovem, bem de vida aparentando normalidade, senão felicidade mesmo.

Ultimamente tenho tido um pensamento recorrente que se por vezes me inspira por outras me desanima. Afinal, porque não damos certo? Todos queremos o melhor dos mundos, todos somos extremamente bem intencionados, todos queremos o bem comum, então, porque não damos certo? Porque nos matamos e assassinamos?

Imagino que o problema começa por uma má avaliação e generalização do que é ser bem intencionado, o que é o bem comum e etc. É tudo muito relativo. Tenho meus valores, você tem os seus e, quase com certeza, nossas avaliações do justo e correto, por exemplo, não serão coincidentes. Essa dissonância de valores, que imaginamos universais, desde que coincidam com os nossos, é um obstáculo para nosso acerto na correção de propósitos.

Segunda razão que me ocorre é querer resolver o mundo. Como é uma tarefa impossível, criamos campanhas grandiosas, genéricas, de camisetas pintadas que servem, quando muito, para levantar uma bandeira moralista pontual que será esquecida no dia seguinte. Bom exemplo são essas passeatas contra a violência, todos de branco, caminhando até o boteco preferido para um chope com os amigos. Satisfeitos, regurgitam cidadania, e tchau, amanhã continuamos a matar criancinhas.

Ocorreu-me que, talvez, por querermos resolver tudo, principalmente os outros, com a megalomania dos insanos, querendo ser grandes tornamo-nos pequenos, inoperantes e simplesmente discursivos. Fico imaginando que se pensarmos pequeno talvez possamos ser grandes, fazendo algo acontecer. Não devemos pensar o mundo, mas o indivíduo.

Imagino sempre que existem momentos críticos de transformação na vida, oportunidades de mudanças de paradigmas que não podemos deixar passar. São momentos que podem fazer a diferença.

Essas dúvidas iniciaram analisando a oportunidade que alguns políticos atuais têm para fazerem a política no Brasil dar um enorme salto de qualidade. Tiveram a sorte de assumirem seus governos com políticas e programas definidos e entregues por seus antecessores em bandeja de prata, de mão beijada.

Contaram com os bons ventos da fortuna, das conjunturas internacionais e nacionais favoráveis, com o tirocínio de agirem contra o que pregavam, na oposição, sabendo que o rumo deixado por seus adversários, quando governo, era o correto. Imaginei que essa assunção da política do adversário fosse um gesto de dignidade. Qual nada. Era só esperteza.

Tendo às mãos o ponto crítico do grande salto da pequenez para a grandeza, da soberba para a humildade, da política dos medíocres para a dos grandes estadistas, estão deixando passar a oportunidade. Veja o caso do Lula, por exemplo.

Ele e seu PT foram contra o plano real e toda a política de equilíbrio fiscal do governo de FHC. Ao assumir, nomeou imediatamente um tucano conservador, para o Banco Central e um médico cordato para a Fazenda para assegurar que sua política econômica fosse a mesma da de seu antecessor.

Ultimamente chegou a elogiar, imagine, o Médici e o Geisel, mas só tem palavras de despeito, arrogância e ironia com FHC, seu parceiro de luta contra a ditadura militar e responsável pelas únicas políticas que dão certo em seu governo.

Por isso não damos certo. Não temos a nobreza da humildade, da convivência do tal brasileiro cordial. Não sabemos respeitar os eventuais adversários. Não somos capazes do salto de qualidade dos espíritos, do caráter e da solidariedade.

Deveríamos pensar as pessoas e não os países. Não se educam manadas, no máximo, as controlamos, até o próximo estouro. Precisamos educar o indivíduo, dando-lhe novas ferramentas para valorar a honestidade, a retidão de caráter, a compostura, o respeito.

Por isso, meu amigo, não damos certo. Porque temos a mania do palco, do universal e principalmente, da covardia e do anonimato das multidões.

Disse Dostoievski “se queres ser universal, cultiva a tua aldeia”! Digo se quer melhorar o mundo comece por você.

Meu caro, o grande rumo não é ir para Passárgada onde sou amigo do rei. É ficar no meu chão, respeitando e sendo respeitado pelo vizinho da porta ao lado.

Quando esse respeito se tornar pandêmico, estará feito, mudamos o mundo.

Garçom traz outra! Esta já secou.