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quarta-feira, maio 23, 2007

Insignificâncias

Antonio Carlos Magalhães, o avô, disse que considera "insignificante um corrupto e um corruptor de R$ 20 mil ”. Referia-se a seu sobrinho, Paulo Magalhães, flagrado, na humilhante condição de trombadinha, deixando-se corromper por aquela mísera quantia. No que depender do tio, será expulso da família por incompatibilidade de status negocial.

ACM, cidadão urbano, cacique político, não endossa o dito popular de que “por onde passa um boi, passa uma boiada”. Mesmo porque nunca associou seu impoluto nome a uma solitária rês, sempre a robustos rebanhos.

De qualquer maneira a “Operação Navalha” da Polícia Federal que flagrou Magalhães, o pobre, parece ter desvendado irregularidades, roubos enfim, que alcançam a não desprezível soma de R$ 1,3 bilhão e envolvem na bandalheira, mais uma vez, os de sempre: deputados, senadores, funcionários públicos, ministros, secretários, governadores, prefeitos e os eternos corruptores, os empreiteiros.

Bastante significante. Ou não?

Depende. Agora, por exemplo, no próximo dia 31, se consumará um estelionato de aproximadamente R$ 2 trilhões de reais. Perto deste, a Operação Navalha é troco. Mas este será um estelionato “legalizado”.

Nos idos de 1987 os cidadãos que mantinham contas de poupança foram garfados, pelo Plano Bresser, em 8,08% na correção monetária devida às suas aplicações. Repetindo: suas aplicações foram corrigidas a menor em 8,08%. Somando todas as aplicações, este valor a menor, se corrigido, alcançaria hoje a incrível montanha de quase R$ 2 trilhões!

Agora vem o mais significante da coisa, mesmo para um ACM da vida: se até o dia 31 próximo, você, poupador, não entrar com uma ação na justiça reclamando seu direito, pasme, seu dinheiro será incorporado ao patrimônio dos bancos!

O que era seu do banco será, legalmente.

Para mover a ação você precisa de um extrato de sua poupança de junho a julho de 1987 que os bancos são obrigados a fornecer. Você, com razão, deve estar se perguntando: mas se a correção é devida e os bancos têm os nomes dos poupadores tungados, porque não depositam logo a grana em suas contas?

Era só o que faltava! Onde você pensa que mora, na Suíça, aquele lugarejo chato e sem graça? Aqui é Brasil, meu velho, Brasil, o país cordial do verão, do futebol, das grandes bundas e pequenos cidadãos, ora porra! Quer o seu, vai atrás, qual é?

Se todos fossem atrás dos seus direitos, em prazo hábil, não haveria dinheiro bastante. Nada melhor, portanto, para o bem de todos e felicidade geral da nação, que se leve de barriga o maior número possível de imbecis. Entre os quais, galhardamente, me incluo.

Ontem saí de minha inércia macunaímica e fui procurar se, por acaso, em tal data eu tinha uma conta de poupança. Para minha surpresa, tinha! Não só eu, como meus filhos, menores à época, portanto, no meu CPF. Ligo para meu banco e peço o tal extrato. Sou, simpaticamente, informado que a requisição tem de ser por escrito e assinada, via fax ou pessoalmente. Enviarão em 25 dias! Retruco que o prazo termina dia 31. Afirmam que o prazo será prorrogado, não sei baseado em que.

Resolvo arriscar e mediante acordo com meu atendente, gentilíssimo, preparo a requisição, assino, escaneio e envio anexada a um e-mail. Pronto.

Para me informar entrei na página do IDEC, Instituto de Defesa do Consumidor. A boa notícia é que o Instituto está propondo uma ação civil pública contra a Nossa Caixa Nosso Banco, Caixa Econômica Federal, ABN Amro (Real), Banco do Brasil, Bradesco (BCN, Mercantil e FINASA), Itaú (Banestado), Safra e Unibanco (Bandeirantes), com o objetivo de beneficiar indistintamente todos os poupadores lesados dessas instituições financeiras, associados ou não ao Instituto. Como você imaginava que deveria ser.

É a esperança que me resta. De qualquer maneira me associei ao IDEC para colaborar com suas causas que, no final das contas, são as de todos nós. Nada mais justo, afinal é uma organização sem fins lucrativos que vive de anuidades de associados, doações e vendas de sua revista.

Se você ainda não pegou o avião para se mudar para países insossos, plenos de significâncias e vai continuar compartilhando solo com ACMs, aconselho que faça o mesmo e prestigie o IDEC.

O site é www.idec.org.br

E fique atento. O prazo para entrar com ação para reaver outra tungada, a do Plano Verão, só caduca em 2009. Boa sorte!