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sábado, agosto 11, 2007

O marquepeuta

A excelência do fotógrafo é evidente.

Bruno Giovannetti há 37 anos fotografa São Paulo, sem disfarces, revelando a criatividade e a capacidade de adaptação de sua população, como descrito em matéria de Humberto Saccomandi no jornal “Valor” deste fim de semana.

Está expondo seu trabalho no MAC Ibirapuera juntamente com o artista plástico Gregório Gruber.

Encafifou-me imaginar uma extensão da foto, não da mensagem, mas do autor da mensagem.

Porque diabos um fulano se propõe a ouvir problemas por tão pouco? Convenhamos que requer competência. Você é, literalmente, “todo ouvidos”. Não pode se estressar com o problema do infeliz na sua frente, afinal “o seu problema é nosso”!

Por R$ 1,99 a hora, talvez possa se tratar de um psicólogo ou psiquiatra de robusta formação acadêmica em processo de pesquisa heterodoxa avaliando o comportamento de pessoas simples que a ele se entregam e desandam a contar suas agruras!

Normalmente não é este o ambiente para uma psiconsulta. Precisa haver toda uma atmosfera, um clima, instalações acolhedoras, por vezes luxuosas, que já indicam ao perturbado paciente que ali a conta é salgada. Isso já conforta, convence que o atendimento é de um profissional de alto coturno.

É quase uma mania do brasileiro, se é caro é bom!

Devemos levantar, também, a hipótese de que talvez o nosso personagem seja um iniciante no ofício, esteja ainda na fase de criar mercado, apostando na propaganda boca a boca e cobrando preço promocional.

Num consultório de tal precariedade, obviamente, não poderá receitar drogas de quatro a cinco reais o comprimido. Afinal, um só comprimido, pagaria duas horas de consulta.

Deve ter receitas alternativas mais condizentes com o bolso dos fregueses, como ervas, matinhos, velas, infusões variadas e, nos casos de maior gravidade, doses cavalares da boa e velha cachaça.

Ocorreu-me, também, que o nosso marquepeuta, misto de marqueteiro com terapeuta, além de lançar o R$ 1,99 na terapia ainda faz uma beleza de venda casada.

Como se nota na foto, ao lado do irresistível chamamento, tem uma placa de “Aluga”.

Sabe como é, fulaninho foi expulso de casa pela patroa, não tem onde posar, está vagando sem rumo, perdidão, precisa de conselhos e, se possível, um teto.

Juntou a fome com a vontade de comer. O cliente expõe seus problemas, por módica merreca, e aluga uma casinha por outras poucas.

Pode ser que não resolva seu problema de cabeça, mas o do bolso, com toda certeza resolve!