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Local: Varanda em Pernambuco

quinta-feira, setembro 20, 2007

Do mar e Daspu

Moro num edifício na quadra da praia de Piedade. Como à sua frente só tem três pequenos terrenos, sem edificações, pode-se dizer que é a beira mar. Se não é verdadeiramente a beira mar, mais dia menos dia, será.

O mar em Pernambuco, desde o litoral norte até parte do litoral sul, tem avançado sobre a praia comendo nacos impressionantes de areia. Há anos.

Dizem que aqui em Piedade tudo começou quando um espertalhaço aterrou o mar em frente a um terreno seu para criar alguns milhares de m² a mais na sua propriedade original.

A área do fulano é na foz do rio Jaboatão, ao sul, e o dique ali criado desviou o rumo das correntes marítimas que passaram a levar areia para o mar aberto ao invés de lançá-las nas praias contíguas, ao norte.

Outros dizem que foi a construção do porto de Suape a causa de tudo.

Alguns outros diques já foram feitos o que só provocou o deslocamento do problema para algumas centenas de metros à frente.

Estas são somente algumas das tantas teorias que freqüentam as conversas dos moradores do local. O certo é que o mar já derrubou muros, parte de piscinas e amedronta diuturnamente vários moradores de edifícios a beira mar. Além, é claro, de desvalorizar seus imóveis.

Parte das praias, outrora belíssimas com extensos areais, tornaram-se bunkers protegidos por muralhas de pedras horrorosas que seguram a força das marés.

As obras de contenção do mar, para os prefeitos, são um prato cheio para a corrupção. São caminhões e caminhões de pedras jogadas na praia e no mar. Como, convenientemente, não existem fiscais contando pedras e caminhões não deixa de ser um bom negócio. Que venha o mar!

Não sei por que entrei neste assunto. Queria somente dizer que moro numa praia familiar. A bem da verdade, quase familiar. Minto. Familiar é, mas, eventualmente, pouco ortodoxa.

Outro dia uma jovem mãe tomou um senhor porre, e sabe como é, os diabos afloram. Despiu-se em plena praia e seu marido, que a tudo assistia da varanda de seu apartamento, desceu espavorido com uma toalha nas mãos para cobrir a nudez de sua cara metade, ou meia bunda, sei lá. Fez o maior sucesso entre os barraqueiros.

Uma parceira dela, que veste um fio dental tão mínimo que não se vê nem o fio, nem os dentes, quiçá o esôfago, também tem uns diabinhos que não param quietos e vira e mexe lhe apresentam as mais esdrúxulas companhias que ela acolhe de braços abertos. Braços e pernas, a bem da verdade.

Lembrei-me disso lendo uma nota no jornal de ontem informando que Gabriela Leite, criadora da Daspu, está escrevendo sua biografia. O livro vai se chamar “Mulher, mãe, avó e puta”.

Registre-se que as senhoras da praia ainda não são avós!