Porradas, gênios e criatividade.
Enquanto deputados, senadores e seguranças trocam porradas no Senado, resolvi falar de encantamentos.
Encanta-me a criatividade dos publicitários e marqueteiros. Mais ainda suas explicações para apresentar e justificar suas performances mercadológicas.
Em todos os níveis, desde o diretor de criação de uma grande agência, passando pelos diretores de marketing de grandes anunciantes, até o pintor de uma singela placa de beira de muro.
Todos sabem que não se pode desperdiçar oportunidades para mostrar a importância de seus afazeres.
Sempre que penso nisso lembro-me do Sola. Não me recordo de seu primeiro nome. Era dono de uma empresa de painéis luminosos, desde simples letreiros de fachada até relógios imensos como o do Banco Itaú no topo do Conjunto Nacional, na Avenida Paulista em São Paulo.
Ainda não estávamos na era digital, era tudo mecânico e elétrico, mesmo, e ele nos apresentava o projeto do famoso relógio do Itaú.
Não bastava o porte grandioso da empreitada, por si só, já referência para qualquer empresa de luminosos. Não. Ele começava a valorizar seu trabalho desde a apresentação dos parafusos.
No fundo eram simples parafusos, mas ele contorcia-se como a personificar o parafuso fixando as peças num teatro que vez por outra me fazia rir. Para provocar, cortava sua performance e abreviava: tá bom, Sola, é um parafuso, já entendemos!
Não se dava por achado. Enquanto o maldito parafuso não completasse todas as voltas por ele imaginadas não parava com seu contorcionismo. Grande figura, o Sola. Pelo menos seus luminosos eram muito eficientes.
Dei toda essa volta para falar na culinária pernambucana, ou quase.
É riquíssima. Ultimamente, como em todo Brasil, tem havido uma valorização de chefs e uma modernização dos cardápios contemplando todas as cozinhas do mundo: italiana, espanhola, japonesa, francesa, mediterrânea em geral, fora as grandes e ótimas churrascarias de espeto corrido e seus maravilhosos buffets com sortidíssimas opções de frutos do mar.
Não abandonamos, entretanto, os pratos típicos da região cada vez mais deliciosos. Um escondidinho de charque, um sarapatel, favas, galinha a cabidela, cozido, buchadinha, pituzada, quiabada, e por aí vai.
De tão farta, saborosa, colorida e magistralmente tocada por mãos de grandes chefes internacionais e locais, a culinária pernambucana é um prato cheio para ótimas peças publicitárias. Certo?
Veja bem, não é bem assim. Seria por demais conservador para os gênios do marketing de plantão criar prosaicos anúncios salientando o óbvio: a delicia dos pratos a nosso dispor. Preferem buscar aquele lampejo de gênio que, normalmente, só eles mesmos reconhecem.
Exemplifico. O restaurante de um hotel cinco estrelas do Recife, não me lembro qual, resolveu promover diferentes fondues, no inverno (como se no Recife tivesse inverno).
Eram fondues de camarão, agulha branca, avestruz e também carne e queijo. Infelizmente não guardei um anúncio de recordação, mas vou tentar descrever.
Ao invés de fotos optaram pela economia do desenho. Desenhos simples, de traço, de menino de primário, preto e branco mesmo. Num ambiente visual tão insosso, o raio da genialidade!
Os desenhos mostravam a avestruz, os camarões e as agulhinhas correndo apavoradas dos implacáveis garfos dos glutões! Verdade. Como se comêssemos o boi, a avestruz e as agulhas e não apetitosos nacos de filés para a fondue.
É de dar pena. Dos bichinhos. Há uma rejeição imediata à proposta e uma irresistível sensação de proteção aos coitadinhos chorando de pavor de nossos talheres. Não sei o que deu essa campanha mas certamente deve haver uma explicação maravilhosa para tal disparate!
Agora vamos olhar a foto do anúncio que ilustra esse meu dito. A idéia é ótima. É uma espécie de rodízio de chefs no restaurante da afamada Casa dos Frios, durante três semanas.
Olhe bem. Você tomaria uma canja de galinha que fosse dessas mulheres tão mal humoradas? Será possível que precisavam colocar cinco prestigiadas chefs com tamanha cara de poucos amigos?
Como seria belo este anúncio com cinco sorrisos francos e abertos nos convidando para o almoço!
Ah, meu Deus, a criatividade! Voltemos às porradas parlamentares!
Encanta-me a criatividade dos publicitários e marqueteiros. Mais ainda suas explicações para apresentar e justificar suas performances mercadológicas.
Em todos os níveis, desde o diretor de criação de uma grande agência, passando pelos diretores de marketing de grandes anunciantes, até o pintor de uma singela placa de beira de muro.
Todos sabem que não se pode desperdiçar oportunidades para mostrar a importância de seus afazeres.
Sempre que penso nisso lembro-me do Sola. Não me recordo de seu primeiro nome. Era dono de uma empresa de painéis luminosos, desde simples letreiros de fachada até relógios imensos como o do Banco Itaú no topo do Conjunto Nacional, na Avenida Paulista em São Paulo.
Ainda não estávamos na era digital, era tudo mecânico e elétrico, mesmo, e ele nos apresentava o projeto do famoso relógio do Itaú.
Não bastava o porte grandioso da empreitada, por si só, já referência para qualquer empresa de luminosos. Não. Ele começava a valorizar seu trabalho desde a apresentação dos parafusos.
No fundo eram simples parafusos, mas ele contorcia-se como a personificar o parafuso fixando as peças num teatro que vez por outra me fazia rir. Para provocar, cortava sua performance e abreviava: tá bom, Sola, é um parafuso, já entendemos!
Não se dava por achado. Enquanto o maldito parafuso não completasse todas as voltas por ele imaginadas não parava com seu contorcionismo. Grande figura, o Sola. Pelo menos seus luminosos eram muito eficientes.
Dei toda essa volta para falar na culinária pernambucana, ou quase.
É riquíssima. Ultimamente, como em todo Brasil, tem havido uma valorização de chefs e uma modernização dos cardápios contemplando todas as cozinhas do mundo: italiana, espanhola, japonesa, francesa, mediterrânea em geral, fora as grandes e ótimas churrascarias de espeto corrido e seus maravilhosos buffets com sortidíssimas opções de frutos do mar.
Não abandonamos, entretanto, os pratos típicos da região cada vez mais deliciosos. Um escondidinho de charque, um sarapatel, favas, galinha a cabidela, cozido, buchadinha, pituzada, quiabada, e por aí vai.
De tão farta, saborosa, colorida e magistralmente tocada por mãos de grandes chefes internacionais e locais, a culinária pernambucana é um prato cheio para ótimas peças publicitárias. Certo?
Veja bem, não é bem assim. Seria por demais conservador para os gênios do marketing de plantão criar prosaicos anúncios salientando o óbvio: a delicia dos pratos a nosso dispor. Preferem buscar aquele lampejo de gênio que, normalmente, só eles mesmos reconhecem.
Exemplifico. O restaurante de um hotel cinco estrelas do Recife, não me lembro qual, resolveu promover diferentes fondues, no inverno (como se no Recife tivesse inverno).
Eram fondues de camarão, agulha branca, avestruz e também carne e queijo. Infelizmente não guardei um anúncio de recordação, mas vou tentar descrever.
Ao invés de fotos optaram pela economia do desenho. Desenhos simples, de traço, de menino de primário, preto e branco mesmo. Num ambiente visual tão insosso, o raio da genialidade!
Os desenhos mostravam a avestruz, os camarões e as agulhinhas correndo apavoradas dos implacáveis garfos dos glutões! Verdade. Como se comêssemos o boi, a avestruz e as agulhas e não apetitosos nacos de filés para a fondue.
É de dar pena. Dos bichinhos. Há uma rejeição imediata à proposta e uma irresistível sensação de proteção aos coitadinhos chorando de pavor de nossos talheres. Não sei o que deu essa campanha mas certamente deve haver uma explicação maravilhosa para tal disparate!
Agora vamos olhar a foto do anúncio que ilustra esse meu dito. A idéia é ótima. É uma espécie de rodízio de chefs no restaurante da afamada Casa dos Frios, durante três semanas.
Olhe bem. Você tomaria uma canja de galinha que fosse dessas mulheres tão mal humoradas? Será possível que precisavam colocar cinco prestigiadas chefs com tamanha cara de poucos amigos?
Como seria belo este anúncio com cinco sorrisos francos e abertos nos convidando para o almoço!
Ah, meu Deus, a criatividade! Voltemos às porradas parlamentares!
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