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Local: Varanda em Pernambuco

quarta-feira, outubro 22, 2008

Eneida e o fiscal.

Aqui em Piedade temos fiscais de praia. Peito estufado, braços meio abertos como se músculos tivessem, andar de atirador de faroeste, coletes da prefeitura com destaque na palavra fiscalização, lá vão eles de lá para cá.

Principalmente nos fins de semana quando a platéia é maior.

Sempre me perguntei que cacete fiscalizam. Os barraqueiros de praia disseram não saber, mas foram unânimes em dizer que sempre bicam uma caninha. Cortesia, naturalmente.

Neste último domingo tomava eu minha cervejinha com a Eneida quando ela me pede para chamar os tais fiscais pois iria reclamar da falta de lixeiras nas barracas o que fazia com que os clientes jogassem seus lixos pela areia.

Eneida tem essa mania. Vêm à praia nos fins de semana e resolve que vai solucionar todos os problemas de Jaboatão, das praias e do prédio em que moro onde ela tem apartamento.

Não se passaram dez minutos e lá vem uma dupla de estufados fiscais. Chamei o que vinha na frente, mais velho de cabelos acaju. Detrás de seus óculos escuros, nem deu bola. Insisti, gesticulando, nada. O de trás, mais jovem se dirigiu a mim: pois não?

Perguntei se seu companheiro era surdo. Respondeu que não, mas que ele andava sempre com um fone do rádio ouvindo música. Pela concentração imagino que ouvisse Tchaikovsky.

Não bastasse essa desatenção, Eneida, que não perde uma oportunidade de deitar regras, resolveu cair de falação para cima do fiscal. Perguntou se não era obrigação dos barraqueiros colocarem lixeiras para as mesas. Disse o jovem que sim.

Continuou, Eneida: “então porque vocês não fiscalizam?” Responde o fiscal: “fiscalizar, fiscalizamos mas são os barraqueiros que tem que ter as lixeiras, nós não temos lixeiras”. Ficamos sem entender se ele sabia o significado de fiscalizar.

Se nesta simples troca de palavras o entendimento do jovem emprumado já estava difícil, Eneida caprichou e concluiu.

Começou explicando o ciclo da poluição: jogam o lixo nas praias, as marés cheias os concentram, os ventos levam o lixo para as ruas, entopem as galerias pluviais e provocam as cheias a que estamos cheios de ver, doenças, dengue, enfim, o caos!

Se o rapaz já havia vacilado na fiscalização imaginem a cara de espanto frente ao ciclo da poluição. Conseguiu dizer um “é verdade” e escafedeu-se.

O mais velho dos cabelos acaju, deveria, agora, estar ouvindo Vivaldi ou, mais provavelmente, a banda da Calcinha Preta.

Calado chegou, calado se foi.