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Local: Varanda em Pernambuco

quarta-feira, maio 30, 2007

Brasília


-" Alô!

- Gerbastos, meu irmão, como vai?

- Oi, o que manda?

- Preciso entrar com aquele projeto, o três.

- O da Paraíba, não está pronto ainda!

- Não, pô, o três, o de Alagoas!

- Piorou, não tenho nem esboço!

- Mas rapaz, prometi pro Calheiros que dava entrada amanhã, ele já falou até com o presidente!

- Olha, a Dilma tá me pressionando pelos projetos do Rio Grande, não dá para ver tudo ao mesmo tempo.

- Vou pedir pro Tarso falar com ela para ela se acalmar e a gente tocar o três.

- Olha, não fica envolvendo muita gente não que quando estive na PF com o Paulo Lacerda notei que ele estava meio desconfiado.

- Fica frio, falo pro Múcio dar um alô prá ele, fica frio!"

Você já foi a Brasília? Então vá.

Não a Brasília monumental, turística de Lúcio Costa e Niemeyer, não.

Vá a Brasília intestina dos gabinetes, elevadores, bares e corredores. Vá à Câmara, ao Senado, perambule pelas ante-salas. Repare nos tipos, nas conversas murmuradas, nos sorrisos matreiros e nos grandes e fraternais abraços!

Note a legião de aspones, assessores, lobistas e pés de chinelos em geral suplicando uma atençãozinha de uma “otoridade” qualquer. O ar da Brasília intestina cheira a propina, comissão, compadrio, puxa-saquismo, mutreta, cheira a ralo, como no filme.

Fui poucas vezes a Brasília e menos ainda a negócios. Veja como você que me lê já ficou ouriçado quando eu disse que fui a negócios. Ir a Brasília a negócios já causa uma enorme desconfiança no interlocutor e um certo desconforto no narrador. A primeira coisa que vem a cabeça é “O que esse cara foi fazer lá? Deve ter arrumado uma boquinha, uma mamata qualquer”.

Ninguém vai a Brasília impunemente. No avião, se você está de terno, bem vestido, já é olhado de soslaio com a certeza silenciosa de que "ali vai mais um picareta."

Da última vez que lá estive fui a uma reunião no Ministério da Cultura nos idos tempos do Weffort. O porte que Deus me deu, modéstia à parte, me abria todas as portas com um bajulador “bom dia, doutor”. Fiquei chocado com o número de marginais do poder perambulando pelos corredores.

Dei toda esta volta para dizer que as citações nas gravações da Polícia Federal devem ser consideradas com muita, muita cautela. Não, não defendo que não devam existir as gravações. Pelo contrário, devem sim. Os homens de bem que pareçam honestos e sejam honestos! Que sejam mais seletivos em seus contatos.

Mas deve-se ter em mente que qualquer zé ninguém para se passar por alguém vai, em qualquer conversa, citar o maior número possível de autoridades para se dar uma importância que não tem. O bostejo no baixo meretrício político é regra.

O telefonema que abriu este texto poderia ter existido e ter sido gravado pela PF.