Parque Herr Goebbels

Vou propor à prefeitura do Recife a troca do nome do parque de Boa Viagem para Parque Herr Goebbels em homenagem ao Ministro da Propaganda de Hitler.

Nada mais justo. Antes mesmo de o projeto final ser apresentado, a prefeitura lançou uma intempestiva e milionária campanha publicitária vendendo o futuro parque como o “orgulho do Recife e cartão postal do Brasil”!

Porque diabos um parque em Boa Viagem, mesmo assinado pelo Oscar Niemeyer, seria o orgulho do Recife e o cartão postal do Brasil?

Ta certo que é um projeto lindíssimo que certamente colocará Recife entre as cidades do mundo que têm uma obra do grande arquiteto. Mas, com a devida vênia, o Recife se orgulha de sua beleza, de seus rios e suas pontes, de sua praia de Boa Viagem, de seus museus e monumentos.

Meio mal tratada pela prefeitura com parques caindo aos pedaços, também é verdade. Cartão postal do Brasil é, sem dúvida, um exagero.

Porque, então, campanha tão milionária da prefeitura? Há uma explicação. O prefeito precisa do apoio da população da cidade para tocar adiante o seu projeto. Não da população vizinha ao parque que já o repudiou pela maneira desastrada como o prefeito tocou a questão, mas dos outros, os que não moram nas proximidades.

O que fazer?

Fazer do povão massa de manobra contra os que classificou de “elite intransigente”, os mesmos que levantaram a bandeira do parque na qual pegou carona o prefeito. Pegou a carona, se aboletou na direção e encomendou uma praça e um centro cultural para o local. (ver “O trapalhão, o arquiteto e a professora”).

A reação foi imediata. Não era isto que a população queria. Que fez o prefeito? Solicitou ao escritório do Niemeyer que desse uma modificada no projeto diminuindo a área impermeável para shows externos e aumentando a área verde.

Ao invés de esperar e reapresentar o projeto preferiu lançar mão da propaganda para cooptar a população vendendo sua idéia do parque. Nada mais natural do que o poder público explicar seu projeto ao povo, não é mesmo? Não, não é! Como não esperou pelo novo projeto incorporou os ensinamentos de Goebbels de “despertar emoções, pois é muito mais fácil vender uma mensagem quando esta não passa pelo crivo da razão. Todo o povo deve ser literalmente massacrado pela propaganda, e as informações oficiais serem as únicas disponíveis”.

Contratou um cantor popular, encomendou uma canção apelando para o ufanismo do recifense com refrão memorável e repetido “ad nauseum”. Imagine uma campanha de propaganda com R$ 1milhão de verba para veiculação somente no Recife. É coisa de encher qualquer saco. Eu mesmo não agüento mais ouvir qualquer canção com o Alceu Valença, garoto de propaganda contratado pelo prefeito!

Voltando a Goebbels: “As faculdades receptivas das massas são muito restritas e seu raciocínio é débil. Por outro lado, esquecem rapidamente o que se lhe diz. Sendo assim, toda propaganda eficiente deve confinar-se a algumas coisas essenciais e simples, que, na medida do possível, devem ser expressas em fórmulas estereotipadas. Estes slogans devem ser repetidos persistentemente até que o último dos indivíduos tenha conseguido captar a idéia que lhe foi apresentada”.

O prefeito aprendeu direitinho e queimou um milhãozinho na campanha. Aprendeu a ser eficiente, mas não eficaz.

Se eu fosse seu assessor de comunicação, diria a ele o seguinte: “Prefeito, nossa encomenda do parque tem um pecado original que é a área externa para shows ao ar livre. Mesmo se não for verdade, queiramos ou não, remete à bagunças como o Recifolia e shows de trios elétricos de axé, de pesarosa lembrança. E, para ser sincero, prefeito, não sei mesmo se podemos garantir que lá não teremos shows para grandes audiências como fizemos contratando Sandy e Junior. Temos que ter a humildade de reconhecer o erro. Não tira pedaço, ao contrário, sairemos ganhando.

“O pessoal da zona sul do Recife e de Piedade, em Jaboatão, é carente de um parque aprazível e de um bom teatro. O certo é convidar a imprensa para uma coletiva quando você dirá simplesmente: o parque de Boa Viagem não terá local para shows ao ar livre. Terá um bom teatro para quinhentas pessoas que abrigará concertos e shows musicais e cênicos, local para exposições, pequenas lojas de artesanato e quiosques para refeições ligeiras. Terá também muita área verde para contemplação, pista para caminhadas, ciclovia, parquinho para crianças e um projeto lindíssimo do fabuloso arquiteto Niemeyer.”

Economizaria um dinheirão dos cofres municipais e, tenho certeza, seria aplaudido de pé!

Eu estaria na primeira fila!