Vendedor inato!
A cliente ideal é tão rara quanto o nome, Inajan.
Mas antes de apresentá-la vou situá-lo, meu leitor, nas minhas competências de vendedor.
Jovem com 18 anos ou perto disso, meu pai deu para mim e para meu irmão um fusca azul para dividirmos irmamente. Apesar do potencial explosivo da proposta, até que nos saímos bem. Uma noite um, outra o outro, fim de semana sim, fim de semana não, e íamos tocando.
Um dia que resolvemos vender o fusquinha.
Anunciamos no jornal de domingo. À tarde vem o primeiro candidato a comprador. Olha o carro, cara de desdém, muxoxos, tédio e começa a ladainha:
- Os pneus estão gastos, não é?
- Olha aqui um arranhãozinho! É muito rodado, é?
Perdi a paciência!
- Meu senhor o carro é usado e é este que está à venda e não o novinho que você deve ter na cabeça!
Sem jeito desculpou-se e continuou olhando o carro.
- Pintura meio queimada, não é?
- É, disse eu, queimada e minha. Agradeço a visita, mas para você não vendo mais o carro, não.
Saiu soltando fumaça pelas ventas e eu sossegado saí com o meu fusquinha.
Em outra ocasião devo ter batido o recorde mundial!
Meu pai adorava fazenda. Teve duas, uma no Mato Grosso à beira do Rio Araguaia. Eu, ao contrário, fazenda não era e não é o meu forte. Sou mais de praia.
Um dia meu pai me chama e diz que combinou, para sábado, vender um gado na fazenda do Araguaia, mas infelizmente não poderia ir. Falou para eu ir em seu lugar. Sim, porque meu pai não sugeria, convocava!
Para chegar à fazenda peguei um vôo comercial em Congonhas, SP, para Goiânia. Pernoitei e sábado cedinho me encontrei com o piloto Carlos e seu monomotor que nos levaria até Bandeirante, pequena cidade do Mato Grosso.
O pouso era numa pista de terra e taxiava-se o aviãozinho para debaixo de uma frondosa árvore, em frente à venda local, na beira do Rio Araguaia.
De lá, pegamos um barco com motor de popa até a sede da fazenda, uma casa de concreto aparente, sobre pilotis, para evitar as enchentes do rio. Entrava-se na casa subindo por uma escada de ferro que depois de usada era içada, como nos castelos medievais, impedindo a entrada de estranhos, homens ou bichos.
Só meu pai, mesmo, com seu engenho e arte, construiria tal casa naquele fim de mundo.
Muito bem. Chegamos, e enquanto esperávamos o comprador do gado, ficamos tentando pescar um tucunaré, missão quase impossível pela voracidade das piranhas do local. Piranhas peixes, mesmo! Mal a isca batia na água e já avançava uma piranha!
Foi-se a tarde e nada do comprador. Só não fiquei contrariado porque o local era deslumbrante.
O rio Araguaia tem som de peixe em tempo integral. Movimentam-se em suas águas desde as piranhas até botos enormes. Pássaros de todas as espécies de ricas plumagens em vôos maravilhosos.
Anoiteceu e o comprador, nada. Fomos dormir. Na manhã seguinte, domingo, continuamos com a pescaria e ao meio dia preparamos a partida. Já embarcados para voltarmos a Bandeirante, surge o comprador num barquinho.
- Bom dia!
- Bom dia, respondi.
- Então, vamos ver o gado?
- Que gado? indaguei.
- Uai, moço, o gado que o Dr. Durval me ofereceu para comprar!
- Ah! Aquele gado? Não está mais a venda, não. Estava até ontem à tarde.
Peguei o barco, o monomotor, o avião em Goiânia e cheguei de volta em Congonhas.
Mas antes de apresentá-la vou situá-lo, meu leitor, nas minhas competências de vendedor.
Jovem com 18 anos ou perto disso, meu pai deu para mim e para meu irmão um fusca azul para dividirmos irmamente. Apesar do potencial explosivo da proposta, até que nos saímos bem. Uma noite um, outra o outro, fim de semana sim, fim de semana não, e íamos tocando.
Um dia que resolvemos vender o fusquinha.
Anunciamos no jornal de domingo. À tarde vem o primeiro candidato a comprador. Olha o carro, cara de desdém, muxoxos, tédio e começa a ladainha:
- Os pneus estão gastos, não é?
- Olha aqui um arranhãozinho! É muito rodado, é?
Perdi a paciência!
- Meu senhor o carro é usado e é este que está à venda e não o novinho que você deve ter na cabeça!
Sem jeito desculpou-se e continuou olhando o carro.
- Pintura meio queimada, não é?
- É, disse eu, queimada e minha. Agradeço a visita, mas para você não vendo mais o carro, não.
Saiu soltando fumaça pelas ventas e eu sossegado saí com o meu fusquinha.
Em outra ocasião devo ter batido o recorde mundial!
Meu pai adorava fazenda. Teve duas, uma no Mato Grosso à beira do Rio Araguaia. Eu, ao contrário, fazenda não era e não é o meu forte. Sou mais de praia.
Um dia meu pai me chama e diz que combinou, para sábado, vender um gado na fazenda do Araguaia, mas infelizmente não poderia ir. Falou para eu ir em seu lugar. Sim, porque meu pai não sugeria, convocava!
Para chegar à fazenda peguei um vôo comercial em Congonhas, SP, para Goiânia. Pernoitei e sábado cedinho me encontrei com o piloto Carlos e seu monomotor que nos levaria até Bandeirante, pequena cidade do Mato Grosso.
O pouso era numa pista de terra e taxiava-se o aviãozinho para debaixo de uma frondosa árvore, em frente à venda local, na beira do Rio Araguaia.
De lá, pegamos um barco com motor de popa até a sede da fazenda, uma casa de concreto aparente, sobre pilotis, para evitar as enchentes do rio. Entrava-se na casa subindo por uma escada de ferro que depois de usada era içada, como nos castelos medievais, impedindo a entrada de estranhos, homens ou bichos.
Só meu pai, mesmo, com seu engenho e arte, construiria tal casa naquele fim de mundo.
Muito bem. Chegamos, e enquanto esperávamos o comprador do gado, ficamos tentando pescar um tucunaré, missão quase impossível pela voracidade das piranhas do local. Piranhas peixes, mesmo! Mal a isca batia na água e já avançava uma piranha!
Foi-se a tarde e nada do comprador. Só não fiquei contrariado porque o local era deslumbrante.
O rio Araguaia tem som de peixe em tempo integral. Movimentam-se em suas águas desde as piranhas até botos enormes. Pássaros de todas as espécies de ricas plumagens em vôos maravilhosos.
Anoiteceu e o comprador, nada. Fomos dormir. Na manhã seguinte, domingo, continuamos com a pescaria e ao meio dia preparamos a partida. Já embarcados para voltarmos a Bandeirante, surge o comprador num barquinho.
- Bom dia!
- Bom dia, respondi.
- Então, vamos ver o gado?
- Que gado? indaguei.
- Uai, moço, o gado que o Dr. Durval me ofereceu para comprar!
- Ah! Aquele gado? Não está mais a venda, não. Estava até ontem à tarde.
Peguei o barco, o monomotor, o avião em Goiânia e cheguei de volta em Congonhas.
Dia seguinte meu pai me liga:
- E aí filhinho, vendeu o gado?
- Não pai, o cara chegou quando eu estava de partida. Fica para a próxima.
Este sou eu, um vendedor inato.
Mas tudo isso para dizer que encontrei a compradora ideal. Ligou-me querendo comprar uma casa em Sirinhaém.
Pois não, o preço é tal e vou preparar o contrato. Quando ia enviar o contrato para o cartório, descobri que eu estava vendendo a casa sede da empresa que eu e meu sócio temos e que é dona da casa. Constrangido liguei para ela e expliquei que havia me enganado e que não poderia vender aquela casa. Talvez se interessasse por outra.
Ficou de ir a Sirinhaém no final de semana e depois me daria uma resposta. Segunda feira me liga:
-Vou ficar com a casa, pode preparar a documentação.
Por e-mail trocamos textos e contratos e marcamos para hoje, no cartório, a assinatura da escritura. Objetiva, sem nhémnhémnhém, direto ao ponto.
Por incrível que pareça, Inajan, cordial, e muito simpática, apesar da minha performance, comprou a casa.
Engraçado que há alguns meses atrás vendi uma outra casa, na mesma praia, para o Marcos, também simpaticíssimo, casado com a Adilene, que não conheci pessoalmente, mas soube que lê estes ditos.
Com meu aguçado tino comercial de vendedor, estou me convencendo de que as boas compradoras têm nomes raros e delicados.
Quem sabe não vendo a casa que ainda resta para a Adijan?
Com meu aguçado tino comercial de vendedor, estou me convencendo de que as boas compradoras têm nomes raros e delicados.
Quem sabe não vendo a casa que ainda resta para a Adijan?
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