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terça-feira, dezembro 11, 2007

Linha de produção.

Matéria de ontem do jornal Valor chamou minha atenção.

A Boeing, para reduzir os US$ 10 bilhões que lhe custariam desenvolver sozinha seu novo avião, o 787, resolveu, pela primeira vez em 91 anos de atividade, terceirizar, para uma série de fornecedores, não só a fabricação de importantes partes da aeronave como também seus desenhos.

Concentrada na tecnologia para aperfeiçoar o processo de fabricação de boa parte do avião em plástico de fibra de carbono em vez de alumínio, deparou-se com problemas na terceirização que acarretaram em pequeno atraso na produção.

Para montar o Dreamliner, este é o nome da engenhoca, são várias centenas de milhares de peças fornecidas por vários milhares de fornecedores.

Para se ter uma rápida idéia, a fuselagem é dividida entre quatro fornecedores. Duas dianteiras, uma para um fornecedor americano, outra para um japonês. A fuselagem central vem da Itália e a traseira de outra americana. As portas de passageiros vêm da França, as de carga da Suécia.

As asas vêm do Japão, as pontas das asas da Coréia e as bordas de ataque, aquela parte fronteira das asas, dos USA. E assim por diante.

Depois de muito pensar, extasiado, cheguei à conclusão de que é assim mesmo que as coisas funcionam.

Ocorreu-me que quando faço um misto frio, o pão é da padaria, o presunto da Sadia ou Perdigão, o queijo da “Produtos da Fazenda”, para garantir a qualidade, e a manteiga, talvez, da Batavo ou Sereníssima. Eu mesmo, sou o montador, só faço juntar as partes.

Vale também para o misto quente só acrescentando ao processo o equivalente à solda a laser de última geração, operada por magníficos e silenciosos robôs.

Já no McDonald’s as coisas ficam mais complexas. São dezenas de fornecedores locais, pelo mundo afora, para o hambúrguer, o queijo, as batatas, as alfaces, as cebolas, os molhos, o pão, com e sem gergelim, enfim, um porrilhão de fornecedores. Mas, na essência, o processo é igual ao do meu misto.

Daí ocorreu-me, também, que a complexidade da linha de produção do McDonald’s parece que já ultrapassou um pouco a nossa capacidade sul-americana de montagem.

Sim porque as lojas sul-americanas da cadeia internacional de fast food foram vendidas pela matriz por não apresentarem rentabilidade compensadora, como no resto do mundo.

Assumiu um argentino em sociedade com o Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central do Brasil, através de um dos fundos administrados por sua empresa Gávea.

Deduz-se que, mesmo a complexidade de uma montadora de hamburgers, por aqui, complica-se e requer a expertise de um hermano mágico e de um financista internacional, de primeira linha, que já operou, inclusive, fundo de investimentos do George Soros. Não me canso de repetir. Tinha razão o Tom Jobim quando afirmou que o Brasil não é para amadores.

Lucubrando mais sobre a terceirização, ficou patente, para mim, que as democracias também são grandes processos de terceirizar desejos e rumos pessoais, grupais e gerais para representantes nas assembléias, câmaras e quejandos.

No Congresso Nacional, por exemplo, pouco mais de 184 milhões de brasileiros são representados por seiscentos e poucos parlamentares, entre Câmara e Senado, para montar nossas leis. Convenhamos que é um número menor até do que o de uma cadeia de fornecedores para produzir, por exemplo, um Big Tasty do McDonald’s, com embalagem para viagem, por certo.

Continuando com minhas meditações, tive uma visão que me assustou, subiu-me um frio na espinha até o couro cabeludo e os cabelos se eriçaram, congelei!

Como é possível a Boeing terceirizar milhares de projetos e milhões de peças para produzir seu mais sofisticado jato, com produção vendida até 2014, e no Brasil tão poucos terceirizados parlamentares, para uma produção tão pífia de leis, a reboque do Executivo, conseguem nos entregar tamanho monte de merda?!!!!