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Local: Varanda em Pernambuco

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

A laje do reitor

Não sei se vocês notaram a candura do reitor Timothy Mulholland da Universidade de Brasília justificando o quase meio milhão de reais gastos na decoração de sua cobertura.

Adorei sua abordagem da estética do projeto que deveria guardar uma consistência harmoniosa em seu conjunto.

Perguntei-me se não sairia mais em conta um projeto de decoração em total harmonia com o cerrado do planalto. Mesmo porque até uma oca certamente mantém uma estética em perfeita harmonia com a ocara e com seu meio ambiente.

Com uma flora riquíssima, nosso cândido reitor poderia escolher entre 1.000 espécies do estrato arbóreo-arbustivo, e 2000 do herbáceo-subarbustivo para ornamentar sua luxuosa laje.

Gravuras de vertebrados do cerrado certamente não faltariam para ornamentar suas paredes desde a jibóia, a cascavel, várias espécies de jararaca, o lagarto teiú, o urubu-rei, o tatu-peba, o tatu-galinha, o tatu-de-rabo-mole, o tamanduá-bandeira, o veado campeiro, o cateto, o cachorro-vinagre, o lobo-guará, a jaritataca, o gato mourisco, e quem sabe uma onça-parda ou pintada, e, finalmente, por que não, uma solene anta, espécime que mereceria especial destaque em sua decoração, como a representá-lo em sua moita.

Mas a grande apoteose seriam as aves do cerrado que gorjeariam em seu maravilhoso jardim suspenso: curiangos, urutaus, rola-caldo de feijão, pomba de bando, anu preto e anu branco, curió, azulão, periquito rei, inhambu-xororó, entre centenas de outros.

As lixeiras de R$ 900,00 seriam trocadas por autênticas e belíssimas cabaças, frutos dos cabaceiros, das cuieiras e dos porongos que partidos em vários formatos, esvaziados do miolo, polidos, tingidos e decorados com incisões de exímia precisão, servem como baldes, coiós, bacias, copos, tigelas ou como cuias de tomar água e teréré.

Para conforto de seus convidados, pesquisadores e professores, quem sabe também beneficiários de fartas verbas da Finatec, a Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos, escalaria uma criadagem de alguns candangos, de preferência autênticos, mas não tão alquebrados pela idade que pudessem comprometer o bom serviço.

Para mordomo, nada melhor do que um coloridíssimo indígena, com cocar fenomenal, pleno de coloridas miçangas, representando, orgulhosamente, todos nós brasileiros em flagrante desarmonia estética com os devassos.