Caixa dois à vista!
Vamos supor que você fosse um prefeito meio amoral, populista, cercado de gente, digamos, pouco convencional. Neste ano de eleições municipais querendo se reeleger, precisando fazer caixa para sua campanha, que tipo de atividades ou obra pública você faria?
Shows milionários contratados por produtores independentes já está muito batido. Quem sabe talvez um grandioso projeto de renomado arquiteto? Também, não. Recife já está fazendo um com a turma do Niemeyer.
Que tal jogar rochas e sacos de areia na praia para combater o avanço do mar na costa do município?
Taí, parece ser uma boa idéia, mesmo porque é uma fórmula já testada por outros prefeitos e que funcionou perfeitamente. Caminhões e caminhões de pedras e rochas, quem irá contá-los?
O mesmo caminhão passa duas, três, quatro vezes pelos anotadores e assim vai se criando uma bela verbinha de caixa dois para sua campanha. Ou você acha que vai aparecer um doido que vai ficar contando pedras de manhã, à tarde e início da noite?
Sem contar o barulho ensurdecedor dos tratores indo e vindo numa dinâmica que confere à obra uma dimensão que na realidade não tem. Quanto mais transtorno e barulho maior a impressão de que a prefeitura trabalha sem parar, só não vê quem não quer!
O folclórico prefeito Newton Carneiro, de Jaboatão dos Guararapes, quer se reeleger e recomeçou, portanto, as oportunas obras de contenção do mar. Justiça seja feita, começou com show digno dos maiores elogios.
Ontem, fim da tarde, surge do nada um caminhão com um enorme guindaste carregando um contêiner. Sim, um contêiner. Como até hoje só havia visto contêineres em portos, em fotos ou em navios navegando aqui defronte, fiquei fascinado com o espetáculo.
Içado pelo guindaste foi caprichosamente colocado num terreno entre os coqueiros. Magnífico! Já voltava para minha rede quando outro caminhão aparece e despeja outro contêiner.
A repetição já quebrou um pouco da magia, afinal ficam fazendo barulho na frente de nossos apartamentos, porra, enchem o saco!
Hoje pela manhã o show continuou: várias kombis desembarcaram dúzias de peões numa balbúrdia de mercado persa.
Não resisti, saí de minha estupefação e desci para me inteirar de tão grandioso projeto. Foi uma lamentável decepção. Os peões sabiam que iam jogar sacos de areia e rochas na praia e só, sem detalhes.
Um mais atirado disse que seriam lançadas ao mar, junto aos arrecifes, o senhor sabe, para conter o avanço do mar. Tomara que ele esteja delirando!
E os contêineres, para que são? São alojamentos, escritório e tudo mais. Esse tudo mais não incluía banheiros. Espero que os trabalhadores não venham engrossar o pelotão dos desprovidos que fazem do mar seu banheiro e sala de banhos.
Nem bem chegaram e já estavam reclamando, não sem razão, de que iriam dormir no teto do contêiner, ao ar livre, para não morrerem assados dentro do improvisado quarto de alumínio ou zinco, sei lá. Se não chover, disse outro! Soubesse ele o calor que anda fazendo, torceria para chover em cima deles, e muito!
Durante todo o dia o espetáculo esvaziou-se, nada aconteceu, nem mesmo um único saquinho de areia foi cheio, nada. Os operários ficaram, agora eles, estupefatos olhando o mar e coçando. Um anticlímax total.
Pudemos continuar aproveitando o costumeiro silêncio das ondas do mar, até, pelo menos, o próximo capítulo.
1 Comments:
Olá, meu nome é Luiz Fraga e fui indicado para procurar a Dra. Mayana, vc teria como me passar o E-Mail dela? Meu filho tem displasia fibrosa e fui indicado por outro médico que ouviu falar da pesquisa da Dra mas não tem os dados dela.
Meu E-Mail é luizspecialist@gmail.com, agradeço seu tempo.
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