Minha foto
Nome:
Local: Varanda em Pernambuco

segunda-feira, agosto 11, 2008

Roubei, mas devolvo. Tá bem assim?

Em 1666 o governador da capitania de Pernambuco, Jerônimo de Mendonça Furtado foi deposto pela Câmara de Olinda. Cometeu o pecado capital de meter a mão no dinheiro da Coroa Portuguesa e de quebra embolsar parte dos recursos destinados ao sustento da tropa, e mais, desviado oito mil cruzados da receita do imposto destinado a pagar o dote de D. Catarina de Bragança, casada com Carlos II, da Inglaterra. Seus bens foram seqüestrados pela justiça.

De acordo com o historiador Evaldo Cabral de Mello “como compensação pelos modestos ordenados pagos às autoridades ultramarinas, o recrutamento em Portugal de governadores, magistrados e outros funcionários já pressupunha que a Coroa fecharia os olhos às irregularidades cometidas por seus agentes, desde que atendidas duas condições implícitas: a primeira, a de não atentarem contra as receitas régias; a segunda, a de agirem com um mínimo de discrição.”

O tal governador não respeitou as regras da corrupção.

Passados 342 anos nos vemos diante do costume secular dos agentes do estado meterem a mão nas verbas públicas, fraudando documentos, notas fiscais, para receberem uma tal verba indenizatória, ou de gabinete, na Câmara dos vereadores do Recife. O problema maior é que já não somos colônia e não temos rei. Hoje, a Coroa é o povo a quem os vereadores devem servir. Atentaram, portanto, contra as receitas da Coroa sem a menor discrição.

Dos 36 vereadores, 26 apresentaram notas fiscais falsas para justificar despesas que não tiveram e serem reembolsados pela tal verba. Os outros dez apresentaram despesas não contempladas com o reembolso, mas recebidas mesmo assim, conforme apurou auditoria especial do Tribunal de Contas do Estado.

Preocupados com a repercussão do caso, justamente em época de eleições, os larápios, em vereança, já restituíram R$ 1 milhão aos cofres públicos, certos de que o caso, assim, fica resolvido.

Fico imaginando um ladrãozinho de praia preso por roubar uma câmera digital de um desavisado turista argumentando com o policial que o prendeu: “roubei, mas tô devolvendo, igual meu vereador, me solta que eu tô com pressa. Sou cabo eleitoral!”