D. João VI, o gari e a moita.
Meus dois ou três leitores devem ter notado que andei ausente. Por boas razões. A principal foi a visita de meu filho que veio de São Paulo passar meu aniversário comigo. A segunda preguiça, e a terceira leitura.
Devorei três livros. Um que já comentei sobre o Marcos Valério. Outro sobre os bastidores da cobertura da imprensa da morte do PC e sua namorada, uma imprensa que não aceitava o fato de ter sido homicídio seguido de suicídio e do show de estrelismo dos peritos criminais em busca de holofotes. Com o sugestivo título de “Basta” põe um ponto final no episódio. Interessante mas ligeiro.
Dei também umas bicadas no “Olho no lance!”, flashes da vida do repórter esportivo Silvio Luiz.
Mas o melhor e mais importante foi o “1808” de Laurentino Gomes. Jornalista de primeiro time conta a história da vinda de D. João VI ao Brasil, motivos de sua fuga, estada por aqui e retorno a Portugal.
Sem intenção de ser hilário, o é, pelo simples fato do Brasil ser cômico. Suas elites, seus corruptos, os apaniguados do poder, as benesses dos amigos do rei, tudo exatamente como é hoje. Vale a pena conferir nossa “consistência” nesses últimos 200 anos!
Mas o que me trouxe de volta aos Meusditos foi uma esperança no novo prefeito que assumiu aqui o glorioso Jaboatão dos Guararapes. Já escrevi sobre o lixo das ruas aqui defronte nas ruas a beira mar de Piedade. Passados alguns dias da posse lá veio uma brigada de garis e começaram a limpeza das ruas. Desci e os aplaudi. Finalmente descobriram essa região!
Não terminaram, no dia, o serviço. Ficou faltando a metade de uma rua. Imaginei que no dia seguinte voltariam e resolveriam o assunto. Nada. Passaram-se dias e o serviço ali por fazer.
Ontem finalmente volta a brigada dos garis. Vibrei de alegria. Olham a rua e passam reto. Menos um que olhou um dos terrenos vazios, estudou a situação, entrou, procurou a maior moita, baixou as calças e adubou a mamoneira!
Lembrou-me D. João que, como descrito no livro, em seus passeios de carroça quando lhe batia a necessidade, descia, seus serviçais armavam um grande urinol desmontável. Nele se aboletava o rei indiferente aos olhares de seu séquito. Aliviado, era limpo por um camareiro, vestido e retomava o passeio.
É fácil perceber que nos últimos duzentos anos nossa única evolução foi a moita!