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quinta-feira, agosto 31, 2006

Livros e rotina

“A primeira impressão não tem uma segunda chance” é um dito popular que pode ser definido como o paradigma principal do mundo dos negócios da última década do século passado. Não sem razão.

Estou lendo quatro livros. Capítulo aqui, capítulo acolá e vamos tocando. Ocorreu-me analisar as impressões iniciais dos livros para ver se realmente a primeira é a que vale. Vamos lá.

Comecei a ler “Viver para Contar” de Gabriel Garcia Marques, em seguida “A Arte da Política, a História que Vivi”, de Fernando Henrique Cardoso, mais “Tudo ou Nada” de Roberto Shinyashiki e finalmente “Contra o Brasil” de Diogo Mainardi.

Destes quatro o que jamais imaginei que leria é o”Tudo ou Nada”, por absoluta falta de afinidade com o gênero, auto ajuda.

Comprei-o por engano pensando tratar-se de um administrador que cagasse regras em management. Não, ele é um psiquiatra que caga regras em como você deve levar sua vida para ser feliz. Confesso que a primeira impressão foi péssima.

Imagine um livro de auto ajuda com o título “Tudo ou Nada” cuja introdução tem como chamada a frase “o passarinho voou”. Minha primeira reação foi fazer o livro voar pela janela, mas me contive. Afinal, tenho que superar o preconceito que me impediu, até agora, de ler qualquer livro do Paulo Coelho.

Fui em frente, li até o final e descobri que o preconceito realmente atrasa nossa vida. Para superá-lo fui capaz de ler até o fim uma merda de livro. Perdi meu tempo.

Acho admiráveis os escritores de auto ajuda. Não tem o menor pudor em escrever bobagens e obviedades. Porque sabem, com exatidão, gerenciar o sentimento do outro. O que é óbvio para todos, escrito de forma a ir de encontro ao que você está cansado de saber, é um reforço de “sua sabedoria”, coisa que todo mundo adora reforçar. E assim vendem milhões de livros. O psiquiatra Shinyashiki, com 5 ou 6 títulos, já vendeu 6,5 milhões de exemplares! É ou não é fantástico?

Já o “Contra o Brasil” do Diogo Mainardi causa a única primeira impressão possível: o jovem vai desancar o Brasil e todos nós brasileiros. É um garoto problema que vive “'pour épater le bourgeois”, e, lógico, ficar famoso e ganhar um dinheirinho. O livro é uma descoberta em sua estrutura: buscar opiniões de visitadores do Brasil, em todos os tempos, que denegriram sua imagem. Mesmo para os que discordam, é uma boa proposta. Entre a metade e os três quartos do livro o jovem Mainardi exagera, se repete e cansa. Mas vale a pena. Se quiser pare logo após a metade e pule para as últimas páginas. Para os que já leram, viva!

O “Viver para Contar” dei uma pausa no terceiro capítulo. Gabo em sua visita à casa me cansou. Volto em breve.

O do FHC precisa fôlego e a primeira impressão é a do seu sorriso envaidecido na foto da capa: vai derramar erudição! Não deu outra. É um livro denso mas agradável de ser lido. Não só relata sua vida de presidente como faz um verdadeiro tratado de sociologia para cada decisão que tomou antes, durante e talvez depois do governo. Ainda não cheguei lá, estou no Plano Real. Nem chegarei tão cedo.

Tive o privilégio, o prazer e a alegria de receber a visita de meus dois filhos que vieram de São Paulo passar uma semana comigo, em Piedade. Fora nos ocuparmos diletantemente com as cervejinhas, chopinhos, fartos e saborosos repastos e nos divertirmos muito me fizeram o favor de deixar mais dois livros: o do Ricardo Kotscho, “Do Golpe ao Planalto”, e o da Lucia Hippolito “Por Dentro do Governo Lula”. E ainda instalaram no meu pc o software LimeWire para baixar música da Internet. E ainda tenho que cuidar deste blog, ir à praia e não descuidar do chopinho de fim de tarde!

Tenho a impressão que não vou ter tempo para mais nada! Arre!

quarta-feira, agosto 23, 2006

Não me linchem, por favor

Ocorreu-me um pensamento horrível.
Não costumo ter pensamentos horríveis. Não institucionalmente.

Quando os tenho são a nível pessoal. Vejo-me perdido, buscando não sei o que, mas, com certeza, ansiosamente.

Se me ocorreu um pensamento horrível é porque razões existem.

Vou falar do tempo da Arena e MDB.

Me perdoem mas pensei que, mesmo com a pior das motivações e na pior das situações, até o bi partidarismo da “Redentora” foi uma época política melhor do que a atual. Sabíamos, então, quem eram os nossos e quem eram os outros, qualquer que fosse nossa coloração política.

Não havia maneira de termos no mesmo partido um Sarney e um Pedro Simon, um Lula implorando o apoio de Quércia em São Paulo, em Pernambuco, um Eduardo Campos, neto de Arraes, junto com Inocêncio de Oliveira e Severino Cavalcanti.

Não. Nós éramos nós e eles eram eles.

Bons tempos de "polícia é polícia, bandido é bandido", definição do, então, famoso bandido Lúcio Flávio.

Hoje é tudo igual, belo e maravilhoso!

sexta-feira, agosto 18, 2006

Tá ligado?


Aí, saiu outro ibope. Tamo no filme. Zé, dá um salve pros mano se prepará. Tá manero,vamo voltá todo mundo. Nada pega nóis não companheiro. Fica frio. Povão não tá nem aí, pega a quentinha e esquece. Gosta de nóis, são gente boa, acredita, tá ligado?

segunda-feira, agosto 14, 2006

Expressões necessárias

“Puta que pariu”! Como será que nasceu essa expressão? A dúvida me veio quando assistia a última entrevista do Lula.

Todas as palavras devem ter nascido por uma razão ou várias. Situações, sons, mais tarde letras e por aí vai. Imaginar como nasceram as expressões monossilábicas é até fácil.

O “Oh!”, de exclamação, deve ter sido regurgitado por um neandertal, saído das trevas dos primórdios, deslumbrado com um nascer do sol ou da lua cheia, uma cascata, floresta cheia de pássaros cantando, enfim, uma porção de possibilidades de desbunde. Até mesmo para um neandertal.

O “Ah!” expressa, talvez, a primeira satisfação, uma plenitude, nas priscas eras, de um pitecantropo refestelado após uma suculenta refeição de coxa de pterodopulus.

O “Ih!” deve ter acontecido imediatamente em seguida quando o pitecantropo viu um enorme animal voando enfurecido em sua direção com cara de pai do farto almoço que ele acabara de devorar. Nasceu também aí a exclamação composta no momento mesmo em que o furioso abriu a bocarra já em cima do pitecantropo que só teve tempo de completar o “Ih, fodeu!”

O “Uh!”, bom, este, com toda certeza, foi grunhido no primeiro exame de próstata, toque realizado, à época, por curandeiros, com tíbia de mamute.

Mas voltando à vaca fria, ao “puta que o pariu”. Dizem os homens de saber que foi uma evolução natural do famoso e detestado “filho da puta”.

Em tempos de antanho, o “filho da puta”, acredite, não era um xingamento. Era simplesmente um aposto de identificação. É, isso mesmo.

O filho da puta era, real e literalmente, o filho da puta, sem nenhum julgamento de valor. A mãe dele era a puta do lugar e, portanto, ele era o filho da própria. Assim como o Zeca do Gás, o Paulo do Peixe, o Mané da Lapada, ele era o “filho da puta”.

É notório que existem pessoas mal intencionadas. Começaram, por pura maldade, chamar de “filho da puta” desafetos seus, já como xingamento, para ofender mesmo já que, até onde se saiba, eram filhos de mães pacatas e de vida regrada . Daí para o “puta que o pariu” foi um pulo. Nada combina melhor com “filho da puta” do que mandá-lo à “puta que o pariu”.

Mas toda essa volta por causa da entrevista do Lula.

O xingamento é um impulso incontrolável quando você não pode contar com outras armas como o diálogo ou a argumentação, normalmente pelo calor da discussão ou mesmo pela impossibilidade física já que seu oponente está do lado de lá da telinha da televisão. Em linguagem presidencial, que argumento você pode usar com o juiz de futebol que apita um pênalti inexistente contra seu time, você em Recife e o “filho da puta” em Ribeirão Preto, em São Paulo? Só mesmo um sonoro palavrão.

Foi o que me aconteceu vendo a entrevista do Lula, ele insistindo em falar em ética, honestidade e decência.

Rapaz, veio lá do fundo da alma, lá da unha encravada, não um “puta que pariu” ligeiro, flat. Não!

Veio um robusto, forte, consistente, redondo, sonoro “pôoota que ôoo pariuuuu”, querendo mesmo que ele fosse e por lá ficasse!

Foi uma delícia!

quinta-feira, agosto 10, 2006

Academia Pernambucana da Boemia

Gustavo Krause Gonçalves Sobrinho nasceu em 1947, em Vitória de Santo Antão, agreste pernambucano.
Iniciou sua carreira política em 1975, quando foi secretário da Fazenda de Pernambuco. Foi prefeito do Recife, vice-governador e governador de Pernambuco , vereador pelo Recife e deputado federal.
Em 1992, assumiu o Ministério da Fazenda no governo Itamar e, em 1995, tornou-se ministro do Meio Ambiente, no governo FHC.

Culto, ilustrado e, sobretudo bem humorado é personagem obrigatória nos desfiles do maior bloco carnavalesco do mundo, o Galo da Madrugada. É torcedor fanático do Náutico.

Na década dos 70 do século passado lançou o que seria o segundo mais famoso “Dez Mandamentos” do mundo. O dos boêmios:

1º - O boêmio ama a noite sobre todas as coisas;
2º - O boêmio ama o próximo mais do que a si próprio;
3º - Para o boêmio, a mulher do próximo é a mais distante;
4º - O boêmio não briga
5º - O boêmio transforma suas ex-namoradas em grandes e
solidárias amigas;
6º - O boêmio vive como gosta;
7º - O boêmio está sempre duro. Deixa pendurada mas paga
a conta para não perder o crédito
8º - O boêmio não se embriaga. Tira mais da bebida do que a
bebida do boêmio;
9º - O boêmio bebe por prazer e come por obrigação;
10º -O boêmio é versado em muitos assuntos, mas não consegue falar sobre a vida alheia.

Sempre irreverente, Gustavo Krause, agora, lidera a fundação da Academia Pernambucana da Boemia com direito a fardão, brasão e até altar onde serão reverenciados Noel Rosa, Vinícius de Moraes e Antonio Maria.

Os trinta integrantes da Academia foram escolhidos arbitrariamente pela panelinha que teve a idéia de criá-la, como prevê seu estatuto.

Fazem parte desse núcleo duro, além de Krause, Rogério Robalinho, Rubem Valença, Marta Lima e Waldemar Borges.
Dentre os fundadores destaca-se o ex-governador de Pernambuco e candidato ao senado, Jarbas Vasconcelos.

Para participar da primeira sessão solene, na última terça feira, foi convidado o cartunista carioca Jaguar, que não refugou o convite.

Nem a morte escapa do humor dos "boêmicos", um misto de boêmios com acadêmicos.

Como em qualquer outra academia sua formação só será alterada com a morte de um dos “mortais”. Sim porque os boêmicos são mortais.

Quando, e se, morrerem por amor à vida ou cirrose hepática, serão cremados, suas cinzas jogadas no Rio Capibaribe, mausoléu da APB, e, em sessão festiva, declarados imortais.
Já que mortais, longa vida aos bôemicos!

domingo, agosto 06, 2006

Os Candidatos

Imagine convidar um, dois ou três amigos para caminhar pela Av. Paulista em São Paulo, ao meio dia. Imagine mais. Você contrata o flanelinha da esquina para andar atrás de seu grupinho empunhando uma bandeirola. Você conversa com seus amigos, sorri, olha para os transeuntes cumprimenta-os, sorri novamente e lá vai você todo fagueiro desfilando pela avenida!

O que será que pensam as pessoas que lhe vêem na multidão?

Como é tempo de eleição e o brasileiro é meio atrapalhado para essas coisas, alguns até podem pensar que você, além de palhaço, é candidato a algum cargo. Talvez síndico de prédio, gerente do sindicato de manicuros, chefe de quarteirão, enfim, qualquer coisa.

Mas, seguramente, não vão achar que você, esse bobo alegre andando que nem barata tonta acenando para o nada, é candidato à presidente da República Federativa do Brasil!

É mais fácil imaginarem que você é mesmo um bobo alegre que fez tanto sucesso com sua cara de idiota que veio até a TV Globo te filmar para uma daquelas matérias babacas, metidas a engraçadas, que terminam o Jornal Nacional.

Se for capaz, imagine repetir essa pantomima de quatro em quatro anos três vezes seguidas. Se conseguiu imaginar você deve ser o próprio, o famoso Eymael!

O incrível é que essa performance deve fazer bem. A cada candidatura Eymael fica mais moço!

Entre eleições ele deve se dedicar integralmente a sessões intermináveis de ioga, seguidas aplicações de botox, terapia ortomolecular, psicanálise, altíssimas doses de estimulantes e plásticas suficientes para tornar seu sovaco esquerdo em cavanhaque vencedor em 2010.

Sem falar na alimentação, toda a base de soja. Sim, porque Eymael é limítrofe, mas é precavido. Você nunca viu ele posar para fotos comendo carne de jibóia, usando cocar, andando de jegue, nem mesmo degustando uma saudável média com pão e manteiga no bar da esquina. Não, Eymael tem seu jeito único de fazer campanha, ser um imbecil urbano até a raiz dos cabelos!

Nesta eleição, Eymael está preocupado. Não é mais o único. Surgiu agora o Bivar, o empresário do bordão único, e, com perdão da má lembrança, cartola de futebol.

Sua campanha, além de passear com os amigos, é repetir à exaustão “temos que criar o imposto único, 1,7% para o pagador e 1,7% para o credor; com esses 3,4% resolveremos todos os nossos problemas de desenvolvimento, distribuição de renda, juros, taxa de inflação e câmbio, déficit da previdência e o que mais aparecer pela frente!”

Se ele for eleito, só para encher o saco, vou propor um substitutivo para o imposto, a lei pi: 3,1416% sendo 1,539% debitado ao pagador e 1,6047% ao credor.

É muito melhor!

sexta-feira, agosto 04, 2006

Piedade, Brasil


Hoje amanheceu assim, digamos, meio Brasil. Céu escuro, nuvens pesadas e uma chuva persistente.
5h25m. Levantei-me, armei a rede na varanda e fiquei a olhar a praia, admirando o feio.

Comecei a notar alguns contornos interessantes. Lá no fundo, no horizonte visível, vez por outra aparecia uma nesga de claro, uma tentativa de o sol aparecer, logo recoberta pelas nuvens.

As águas do mar turvas não só por refletirem o chumbo das nuvens mas também, porque, com o vento sudeste, junto com as chuvas, vêem as águas poluídas do Rio Jaboatão cuja foz é em Barra de Jangada, uns dois km ao sul da minha praia.

A areia molhada fica com uma cor bege escura e até as pombas brancas desaparecem.

Mesmo assim reparei que o contraste realçava a clareza e o brilho da espuma das pequenas ondas da maré baixa. Os arrecifes pareciam mais belos e seguros como pequenas fortalezas.

Engraçado, não há tempo ruim que me faça achar feia a praia de Piedade. E mais; com o mau tempo a gente sempre olha a praia com a certeza do bom tempo por vir e a esperança, em si, já dá um baita bem estar.

De repente, a chuva parou . Fiquei tão animado que saltei da rede, vesti meu calção e desci para a minha caminhada. ( Apesar de sunga, só chamo de calção. Sou do feliz tempo dos primórdios da parceria Toquinho e Vinicius e do "... velho calção de banho e um dia prá vadiar..." Eh, beleza!) Fui até a Igrejinha de Piedade, voltei e mergulhei para o banho de mar. Nada melhor.

Já em casa, debaixo do chuveiro, pensei que, para mim, com o Brasil é a mesma coisa. Há gente que não vai votar ou vai votar em protesto. Eu não. Vou procurar a dedo a nesga de céu e o brilho das espumas das ondas e encontrarei em quem votar e votarei.

Não há no mundo Lulas, Dirceus, Severinos, sanguessugas e filho da puta nenhum que me tire a alegria de ser um brasileiro completo. Como a praia de Piedade.

Saravá!