Meusditos

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Local: Varanda em Pernambuco

segunda-feira, dezembro 31, 2007

Meusditos, Piedade, Brasil. Feliz 2008!


Quando me mudei para Piedade e se aproximava algum feriado prolongado, estranhava quando me perguntavam onde iria passá-lo.

Paulistano, filho de pai pernambucano da gema e mãe paulista idem, desde o primeiro ano de vida, tive o privilégio de vir para o Recife em férias. Minha primeira viagem para cá, foi para a comemoração das bodas de ouro de casamento de meus avós.

Apesar de meu pai ter emigrado para o Rio de Janeiro para estudar medicina e, formado, se mudado para São Paulo, sempre fez questão de nos ensinar sua terra e de nos trazer para cá nas férias. O Recife para mim teve sempre, essa magia das férias.

Entenda-se o Recife, não só o próprio, mas incluindo Piedade que mais tarde vim a saber que era em outro município, Jaboatão dos Guararapes. Na época, aliás, simplesmente Jaboatão.

Descobri-me moleque na praia de Piedade, pescando em seus arrecifes, jogando bola na areia, colhendo cajus atrás da casa de meus tios. Mais tarde a juventude me pegou em plena Boa Viagem, primeiros amores, primeiras intimidades, primeiras serestas.

Tempos depois, já casado e com filhos, mantive o hábito das férias pernambucanas.

E quando para cá me mudo perguntam onde vou passar os feriados?

Respondo que não vou, já cheguei!

sábado, dezembro 29, 2007

Sociopatafóbico?


Outro dia fiquei na dúvida se eu era um sociopata ou um sociofóbico. Em rápida pesquisa vi que não me enquadrava em nenhum dos tipos.

O sociopata tem repulsa pelos outros, um quase nojo, um desprezo total. Um “serial killer” é o melhor exemplo de um sociopata.

O sociofóbico é de timidez extrema e evita as pessoas por medo, por insegurança. Em aglomerações, sua, tonteia e entra em pânico.

O meu “ficar sozinho”, por vezes recluso, é tranquilíssimo, é uma escolha, uma preferência, uma seleção. Não é que eu tenha alguma coisa contra as pessoas, é que, normalmente, não tenho nada a favor da maioria delas.

Não há nessa preferência nenhum julgamento de valor individual mas há, sim, uma constatação de comportamentos recorrentes, que não me agradam e que me dão certo enfado do “déjà vu”, aos quais não tenho mais saco de me expor.

Não gosto de multidões. Não me causam nenhuma repulsa ou pânico, simplesmente o desconforto de estar em local desconfortável por definição.

Você jamais me verá, por exemplo, num show da Ivete Sangalo, por melhores que sejam suas coxas. Shows, com massas ululantes ao seu redor, não são lugares adequados para se apreciar um belo par de coxas cantando.

Quando muito, num barzinho charmoso, ela num banquinho alto, pernas cruzadas, cantando suave ao som de um único violão, de preferência Del Vecchio dos bons tempos, cordas de nylon, óbvio, e olhando para você com provocante ternura.

O melhor, mesmo, seria na intimidade da alcova. Mas, nem tudo é possível!

Você gosta, por exemplo, de pessoas que falam alto em lugares públicos? De carros com som de surdos batucando tambores em frente à sua barraca de praia? De bêbados contando vantagens permeadas por palavrões absolutamente dispensáveis na mesa ao lado? Ou, pior, na sua mesa?

São várias as situações que prefiro evitar pelo simples e bom motivo de não ver nelas nenhum atrativo. Mas, algumas, poucas e boas, me deleitam.

Cito, com agradável lembrança, a comemoração, há pouco tempo, dos 50 anos do meu primo Romero, na praia de Maria Farinha, litoral norte de Pernambuco. Amigos agradáveis, local deslumbrante, música de primeira e bêbados simpaticíssimos!

Concluí que não tenho nenhuma patia ou fobia social. Sou apenas um maduro cidadão em pleno e convicto exercício de suas preferências.

O que alguns me debitam como barreiras de relacionamento, na maioria das vezes, não passam da trivial boa educação, fundamental civilidade e, modestamente, refinado bom gosto.

quarta-feira, dezembro 26, 2007

Sem palavras!

Gisele Bündchen é estrela de um novo comercial da agência W/Brasil, para a Grendene, onde aparece vestida de água, usando sandálias.

No filme dirigido por Andrucha Waddington, uma máquina criada pelo artista alemão Julius Popp faz com que milhares de gotas transformem-se em palavras desenhadas pela água, à medida que jorram do alto e caem no solo.

Palavras como “vida”, “beleza”, “pense”, “preserve”, “respeite” aparecem em gotas de chuva como se caíssem do céu enquanto a modelo desfila maravilhosa por um cenário de águas.

Termina com uma locução em “off” dizendo “Ipanema Gisele Bündchen, porque a terra é azul”. Patético!

O objetivo do comercial, imagina-se, é vender a sandália e a idéia de que a Grendene se preocupa com o meio ambiente.

Na sua ficha técnica, o título do comercial é “Palavras”. Com tão fulgurante personagem em cena, modestissimamente, sugeriria terminar o filme com o texto, também sem locução e caindo do céu, “Ipanema, Gisele Bundchen, sem palavras”.

E só.

domingo, dezembro 23, 2007

Bem-vindos!

Tem pessoas que, de repente, se tornam imbecis desde criancinha.

Júlio Neves é um arquiteto de sucesso em projetos e negócios.

É presidente do MASP, Museu de Arte de São Paulo, há anos.

Logo após sua nova reeleição em 2005, propôs a criação de um anexo ao museu coroado com uma estrutura de 70 metros, 116 m acima da Avenida Paulista e 932 m acima do nível do mar.

Cobrando ingressos para a visita, serviria para ajudar a financiar os custos de manutenção do museu. Na época afirmou que não sabia se do mirante “daria para ver o mar, mas encomendarei um estudo sobre isso.” Foi um ensaio.

Jorge Wilheim, arquiteto e urbanista, ex-secretário municipal de Planejamento, poupou-lhe o trabalho. Segundo ele, "o espigão da Paulista continua até o Jabaquara e só isso seria razão suficiente para impedir a visão do mar."

Desde esses planos grandiosos até hoje, lá se vai um bom tempo. Na penúria, o segundo andar do MASP estava às escuras, com as luzes apagadas, por economia, quando foi assaltado na última quinta feira. Alarmes não havia.

Os ladrões levaram duas obras que estão entre as mais importantes de seu acervo, com valor estimado em mais de R$ 100 milhões: a tela "Retrato de Suzanne Bloch", de Pablo Picasso e "O Lavrador de Café", de Cândido Portinari.

Júlio Neves deu entrevista às TVs afirmando que os seguranças do museu, de plantão na madrugada do assalto, não eram treinados para essa situação, mas sim, para atender ao público.

Já que o museu só abre após as 11h da manhã, fiquei imaginando quem iria ao museu às 5,30h.

Para completar seu brilhante raciocínio justificou que “afinal, ninguém vai ao museu para roubar.”

Não é que foram?

sábado, dezembro 22, 2007

Verão!

Verão! Para mim é a melhor época, especialmente aqui em Piedade. Muito sol, mar de águas mornas e cristalinas, e um contagiante clima de férias.

Quem mora na praia e curte a natureza acompanha com grande prazer os ciclos da vida. Fases da lua, marés, o azimute do sol, e fenômenos típicos do verão. Em Piedade, dois são infalíveis, o sargaço e a Cris.

O sargaço é o conjunto de diversas espécies de algas marinhas que crescem nos rochedos da plataforma continental, e, principalmente no verão, se desprendem com o movimento das águas e vem bater à praia.

Quando em grande quantidade, causam desconforto para quem quer tomar um bom banho de mar.

A Cris é uma pernambucana, pequena marajá radicada em Brasília, que no verão retorna à terra para desfrutar suas férias. Ao contrário do sargaço que aparece inativo, a Cris é elétrica, movida à ansiedade, mesmo ao se torrar ao sol tomando umas e outras.

Sou incapaz de imaginar os efeitos de uma grande quantidade de Cris. Mas, com certeza, seriam devastadores!

domingo, dezembro 16, 2007

Mais som, mais eco, mais tudo!

É a primeira vez que termino um livro com saudade do personagem, sentindo sua falta.

Tim Maia, se não existisse, dificilmente seria criado por ficcionista, tal a riqueza de sua personalidade, de seus humores e atitudes. De alucinada fúria à candura de um bebê.

Com uma compulsão de viver tudo ao mesmo tempo, carente, meigo, louco, propositadamente irresponsável, marcou a história da música brasileira.

Nelson Motta faz uma narrativa magistral da vida desse músico temperada por sua amizade, admiração e cumplicidade com o personagem.

Escritor, jornalista, produtor, compositor, figura carimbada da vida carioca, consegue fazer de uma vida trágica, comédia e drama, ajudado aos borbotões pelo personagem, grande músico, arranjador de boca, frasista de primeira, compositor e um dos melhores cantores brasileiros.

“Vale Tudo, o som e a fúria de Tim Maia” é um livro imperdível!

sábado, dezembro 15, 2007

Meu Deus, as antas!

Até a invasão de Pedro Álvares Cabral, não temos registro de nossa existência. Imagina-se que comíamos nossos inimigos em orgias antropofágicas e arrotávamos peru. Nossa mania de grandeza é atávica.
Mas tudo num ambiente paradisíaco de belas praias, águas cristalinas e todos nós peladões caçando antas. Hoje, ao contrário, são elas que nos perseguem.

Em Pernambuco, em 1630, já domesticados pelos invasores portugueses, recebemos novos, desta vez, holandeses. Em 1637, enviado pelas Companhias das Índias Ocidentais, uma multinacional saqueadora holandesa, por aqui aporta novo administrador, o conde Maurício de Nassau.

Dizem que o fulano era o cão chupando manga. Criou nada mais nada menos do que a cidade do Recife. Fez aterros, construiu pontes, fortes, palácios, ocupou as outras ilhas, Santo Antonio e Santo Amaro, e o continente. Não é pouco. Para garantir-se de que não sofreria ataques da resistência portuguesa em duas frentes, interior e Olinda, simplesmente tocou fogo em Olinda.

Mas nos deixou uma bela cidade que começou no porto do Recife. À época, os portugueses ficaram extasiados com as pontes que mandou construir. A primeira ligando o porto à Ilha de Santo Antônio e depois esta à de Santo Amaro. Ninguém reclamou da modernidade, nem mesmo do primeiro pedágio cobrado no Brasil. Para o populacho passar pela ponte, pagava.

Para aumentar a arrecadação, nosso Conde divulgou que um boi voaria sôbre ela na inauguração. Sucesso de público! Como um bom marqueteiro, matou um boi, encheu seu couro de palha, amarrou-o com cordas e puxou-o com roldanas "voando" sôbre a ponte. O povão delirou com o boi voador! Estava lançada a idéia do vale tudo para tungar o bolso do contribuinte!

Enquanto Nassau criava a cidade do Recife, mais ao norte, desde 1624, os holandeses começaram a construir a Nova Amsterdã, no sul da ilha, hoje, Manhattan. Com a ajuda, mais tarde, de emigrantes judeus de Pernambuco.

Assim como aqui, começaram pelo porto. Diferentemente daqui, a histórica baixa Manhattan transformou-se no centro financeiro dos USA e do mundo. Modernos e altíssimos edifícios foram sendo construídos ao longo dos séculos. Lá ficavam as torres gêmeas derrubadas pelo terrorismo. Nem esse trauma parou o desenvolvimento da área.

À beira do rio Hudson, que banha Nova Iorque, estão maravilhosos e charmosos edifícios e marinas. Essa efervescência empreendedora do americano criou, na baixa Manhattan, uma das maiores e mais belas concentrações de arranha céus, onde o moderno convive com o histórico e o valoriza e não o contrário, como alguns supõem por aqui.

No Recife, durante todos esses séculos, não se criou nada de muito representativo na sua área histórica. Ao contrário, o centro antigo foi sendo abandonado, seus casarios desocupados e, rapidamente, se transformando em ruínas.

De repente, surge uma grande oportunidade para se iniciar uma recuperação da área. Imaginem vocês que uma construtora de magníficos edifícios residenciais resolveu construir duas torres de 41 andares na beira do rio Capibaribe, em área contígua ao porto, totalmente abandonada, caindo aos pedaços, dormitório a céu aberto de mendigos, trombadinhas, cheira-colas e todo tipo de desvalidos. Loucura total, não é? Não.


Acontece que o Recife é uma das cidades mais bonitas do mundo. Sua região central antiga poderia ser belíssima se habitada e conservada. Foram feitas algumas tentativas de recuperá-la como a criação de um pólo de bares e restaurantes. Durou pouco. Sem investimento na recuperação de seu casario e prédios antigos e, principalmente, sem a construção de novos prédios residenciais que fixassem lá a população, e a eterna falta de segurança da cidade, o que era um pólo turístico desandou, e está abandonado. Poucos, do tal pólo, ainda subsistem.

Foi quando a construtora Moura Dubeux descobriu o que para mim mostrou-se óbvio. Com coragem mercadológica e pioneirismo, lançou ali um grande empreendimento residencial.



Até o início das vendas, ouvi pessoas, que se dizem experts no ramo imobiliário, desdenhando da loucura da incorporadora e antevendo seu enorme fracasso. Muito bem, lançaram as torres e o sucesso foi estrondoso. Venderam os apartamentos, diga-se, com a mais bonita vista da cidade, em prazo recorde. Aí começaram seus problemas.

Disse Oliveira Lima, diplomata e historiador, que o Recife é a capital da inveja. Não diria tanto. Diria, que aquela definição do Tom Jobim de que no Brasil o sucesso do outro é quase uma ofensa pessoal, no Recife essa é uma característica bastante acentuada.

Se o lançamento das tais torres fosse um fracasso, mesmo que as lançassem, correndo por conta dos “loucos” o prejuízo, imagino que ninguém levantaria qualquer oposição à sua construção. Mas, diante do sucesso, começaram a chover ações do Ministério Publico, de professores, com acolhimento de alguns juízes, de que as torres não se adequavam às construções históricas do entorno.

Dizem que impactará negativamente o sítio histórico de igrejas, um forte, um mercado e ruínas menos votadas. Sim, ruínas. A tal igreja citada está fechada ao público por perigo eminente de desabamento de seu teto. O tal forte, hoje, fica debaixo de um viaduto e conhece-lo é extremamente depressivo. Quase jogado às traças. Transformado em Museu da Cidade, em 1982, pelo então prefeito Gustavo Krause, em sua portaria, até pouco tempo atrás, davam ao visitante um brevíssimo histórico xerocado numa solitária folha de papel. Soube que recentemente recuperaram sua pintura.

Não me recordo de nenhum personagem do Ministério Público que tenha cobrado da prefeitura ou do governo do estado, qualquer providência para a recuperação e manutenção desses ou de qualquer outro patrimônio histórico! Muito menos dos arquitetos de sala de aula que agora protestam. Em frente ao Marco Zero, o parque das esculturas de Francisco Brennand está entregue à sua própria sorte e qualquer dia sua torre de cristal vai ao chão, carcomida pela maresia.

As torres residenciais, já com suas estruturas quase terminadas, foram aprovadas por todos os órgãos responsáveis pela liberação da construção, mas um juiz da 6ª Vara da Justiça Federal, determinou sua demolição. Em Manhattan a prefeitura dá incentivos fiscais para quem investe em áreas degradadas.

Muito bem, mas o que faz esta belíssima foto do Museu do Louvre por aqui?

O primeiro Castelo do Louvre foi fundado por Felipe II em 1190 como uma fortaleza para defender Paris contra ataques dos Vickings. No século seguinte, Charles V transformou-o num palácio. Mais tarde, reis como Luis XIII e Luis XIV também dariam contribuições notáveis para a feição do atual Museu do Louvre.

As transformações nunca cessaram na sua história, e a antiga fortaleza militar medieval acabaria por se tornar um colossal complexo de prédios, hoje voltados inteiramente à cultura.

Dentre as mais recentes e significativas mudanças, desde o lançamento do projeto "Grand Louvre" pelo presidente Mitterrand, está a construção da controversa pirâmide de vidro desenhada pelo arquiteto sino-americano Leoh Ming Pei, com 21 metros de altura e 200 toneladas de vidro e vigas.

Esta foto é emblemática de que o que confere respeito ao patrimônio histórico, é sua conservação, seu uso e manutenção. A modernidade de novas edificações frente às antigas é visitada por milhões de pessoas de todo o mundo! Esta pirâmide gerou, quando de sua construção em 1983, grande controvérsia mas venceu o bom senso de que a nova entrada respeitava o museu e, mais, o valorizava, pela belíssima visão que o contraste propiciou.

O exemplo de Paris vem a calhar. No início da década de 70 do século passado, construíram em Paris um espigão. Houve reação e em 1975, fez-se um plano diretor da cidade proibindo a construção de edifícios com altura superior a 37 metros, 12 andares. Perguntei-me porque, somente no início dos anos 1970, construíram em Paris uma torre? Não é difícil responder, não fosse Paris a cidade luz. Por que na cidade seus prédios seculares são mantidos e utilizados e preservam sua magnífica arquitetura original.

Foi criado , então, no subúrbio, um moderno bairro, La Défense, centro econômico, onde se situam as sedes de muitas grandes empresas francesas e centros comerciais. Localiza-se no prolongamento do “eixo histórico” que começa no Louvre e prosegue pela avenida dos Champs Elysées, Arco do Triumfo, até à ponte de Neuilly e o Grande Arche.

Não se tem notícia de que a visão de tais construções tenham interferido negativamente nos monumentos seculares de Paris.

Quanto às antas, espero que com nossa cultura da pobreza e do atraso não voltemos a caçá-las. Peladões!

terça-feira, dezembro 11, 2007

Linha de produção.

Matéria de ontem do jornal Valor chamou minha atenção.

A Boeing, para reduzir os US$ 10 bilhões que lhe custariam desenvolver sozinha seu novo avião, o 787, resolveu, pela primeira vez em 91 anos de atividade, terceirizar, para uma série de fornecedores, não só a fabricação de importantes partes da aeronave como também seus desenhos.

Concentrada na tecnologia para aperfeiçoar o processo de fabricação de boa parte do avião em plástico de fibra de carbono em vez de alumínio, deparou-se com problemas na terceirização que acarretaram em pequeno atraso na produção.

Para montar o Dreamliner, este é o nome da engenhoca, são várias centenas de milhares de peças fornecidas por vários milhares de fornecedores.

Para se ter uma rápida idéia, a fuselagem é dividida entre quatro fornecedores. Duas dianteiras, uma para um fornecedor americano, outra para um japonês. A fuselagem central vem da Itália e a traseira de outra americana. As portas de passageiros vêm da França, as de carga da Suécia.

As asas vêm do Japão, as pontas das asas da Coréia e as bordas de ataque, aquela parte fronteira das asas, dos USA. E assim por diante.

Depois de muito pensar, extasiado, cheguei à conclusão de que é assim mesmo que as coisas funcionam.

Ocorreu-me que quando faço um misto frio, o pão é da padaria, o presunto da Sadia ou Perdigão, o queijo da “Produtos da Fazenda”, para garantir a qualidade, e a manteiga, talvez, da Batavo ou Sereníssima. Eu mesmo, sou o montador, só faço juntar as partes.

Vale também para o misto quente só acrescentando ao processo o equivalente à solda a laser de última geração, operada por magníficos e silenciosos robôs.

Já no McDonald’s as coisas ficam mais complexas. São dezenas de fornecedores locais, pelo mundo afora, para o hambúrguer, o queijo, as batatas, as alfaces, as cebolas, os molhos, o pão, com e sem gergelim, enfim, um porrilhão de fornecedores. Mas, na essência, o processo é igual ao do meu misto.

Daí ocorreu-me, também, que a complexidade da linha de produção do McDonald’s parece que já ultrapassou um pouco a nossa capacidade sul-americana de montagem.

Sim porque as lojas sul-americanas da cadeia internacional de fast food foram vendidas pela matriz por não apresentarem rentabilidade compensadora, como no resto do mundo.

Assumiu um argentino em sociedade com o Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central do Brasil, através de um dos fundos administrados por sua empresa Gávea.

Deduz-se que, mesmo a complexidade de uma montadora de hamburgers, por aqui, complica-se e requer a expertise de um hermano mágico e de um financista internacional, de primeira linha, que já operou, inclusive, fundo de investimentos do George Soros. Não me canso de repetir. Tinha razão o Tom Jobim quando afirmou que o Brasil não é para amadores.

Lucubrando mais sobre a terceirização, ficou patente, para mim, que as democracias também são grandes processos de terceirizar desejos e rumos pessoais, grupais e gerais para representantes nas assembléias, câmaras e quejandos.

No Congresso Nacional, por exemplo, pouco mais de 184 milhões de brasileiros são representados por seiscentos e poucos parlamentares, entre Câmara e Senado, para montar nossas leis. Convenhamos que é um número menor até do que o de uma cadeia de fornecedores para produzir, por exemplo, um Big Tasty do McDonald’s, com embalagem para viagem, por certo.

Continuando com minhas meditações, tive uma visão que me assustou, subiu-me um frio na espinha até o couro cabeludo e os cabelos se eriçaram, congelei!

Como é possível a Boeing terceirizar milhares de projetos e milhões de peças para produzir seu mais sofisticado jato, com produção vendida até 2014, e no Brasil tão poucos terceirizados parlamentares, para uma produção tão pífia de leis, a reboque do Executivo, conseguem nos entregar tamanho monte de merda?!!!!

domingo, dezembro 09, 2007

Timtim!

Hoje deveríamos estar comemorando. Afinal é o Dia Internacional Contra a Corrupção, estabelecido pela ONU, em 2003. Estamos em 72º lugar.

Infelizmente os primeiros do ranking são os menos corruptos entre 112 países analisados. Ou seja, estamos na metade mais podre.

Surpreende você? Lógico que não.

Nos últimos anos, vivemos uma seqüência interminável de escândalos. Dia após dia, semana após semana, meses a fio e sempre o mesmo do mesmo. Corrupção.

O cidadão brasileiro vale menos a cada dia. E tenho a impressão que merecemos. Valemos o que somos.

Como estranhar a débil reação da sociedade à prisão de uma menor numa cela com um punhado de homens?

Todas as declarações de autoridades, desde a governadora do Pará até o delegado geral de polícia, escancaram uma total falta de consideração e respeito com os cidadãos. Juíza fraudou documentos para se inocentar e corregedora apresentou relatório “aliviando” para os carcereiros da prisão.

Esse escárnio à dignidade humana não nasce de um dia para o outro. É trabalho de anos, séculos, de roubos, mamatas, chantagens, mordomias e a mais escancarada sem vergonhice das elites políticas do país. É o mesmo deslavado escárnio de um Renan Calheiros e de um bando de senadores gargalhando de todos nós no Senado.

A impressão que dá, e infelizmente nossa história confirma, é que desde o desembarque de Pedro Álvares Cabral, as únicas coisas que aperfeiçoamos foram o saque, o roubo e os privilégios.

Outro dia um amigo me perguntou se eu não achava que o Brasil tinha jeito. Fui categórico e afirmei que não, nem na nossa geração, nem na próxima, nem na próxima.

Talvez, se não subornarmos “otoridades”, se não nos embebedarmos na frente das crianças, não brigarmos em família, respeitarmos os outros, não xingarmos no trânsito, se nos indignarmos com as injustiças, com as condições dos presídios talvez, talvez dentro de três gerações o Brasil faça jus ao coração que imagina ter!

A cidadania não se conquista com uma “constituição cidadã” como apelidada a de 1988. Conquista-se com a educação e com a consolidação de valores de cidadãos. Também não é tarefa para o dia seguinte. Requer empenho de gerações.

O dia em que as pessoas não jogarem mais lixo nas ruas, nas praias, nos rios, nos cantinhos, acredito que poderemos ter esperança de dias melhores.

Para terminar este bostejo, que veio mais de dedos nervosos no teclado do que da clareza da razão, proponho comemorarmos o dia de hoje. Contra a Corrupção. Timtim!

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Repentes!


O que nos salva, como espécie, é que ainda existem pessoas surpreendentes. Dentre elas, o pernambucano José Paulo Cavalcanti Filho se destaca. Na foto, com sua esposa Maria Lecticia.

Advogado ilustre, ex-secretário geral do Ministério da Justiça quando era ministro Fernando Lyra, foi presidente do Conselho de Comunicação Social (CCS) desde sua instalação, em junho de 2002, e recém convidado para compor, ao lado de outros notáveis, o Conselho do novo xodó do governo, a TV Pública Brasil.

Não bastassem essas atividades é escritor, articulista, cronista e repentista da maior qualidade. Personagem conhecido por seu brilhantismo intelectual e cultura, tomou posse, nessa segunda-feira, como o mais novo imortal da Academia Pernambucana de Letras, ocupando a cadeira 27.

Apesar de seu porte avantajado dedica-se ao tênis com os amigos que lhe chamam carinhosamente de Zé Paulinho. Dizem as más línguas que usava o esporte para justificar sua fome, joãosextiana, por galetos na brasa que o acompanhavam para a quadra. E de preferência aqueles assados em barracas de rua, o que lhes dá um sabor diferenciado.

Se tão sabidamente eclético, como ainda pode surpreender? Explico.

Temos amigos comuns, mas só conheço o José Paulo por eventuais e-mails que trocamos. Sempre que tenho um assunto em meu blog que imagino vá lhe interessar, lhe comunico. Sempre gentil, lê e comenta.

Muito bem. No dia de sua posse na Academia resolvi provocá-lo enviando-lhe a seguinte mensagem:

“Meu caro José Paulo,

Parabéns pela merecida imortalidade.
Aproveito para pedir que você me esclareça uma dúvida que sempre tive em relação às Academias de Letras.
Porque, justamente na hora que o acadêmico precisa usufruir de sua imortalidade, tomam-lhe a cadeira?
Conhecendo seus dotes, responda-me em versos que publicarei no meu blog.

Um forte abraço,
Alfredo”

Respondeu-me, sem regatear, de bate pronto:

“Alfredo da Rosa Borges
Inventa de perguntar
Porque na Academia
Mal se acaba de sentar
Vem a morte, essa ingrata,
Já cobrando o seu lugar.

Não tenho resposta a dar
Querido amigo Alfredo
Só cabendo aqui dizer
E entre nós fique em segredo.
Que quando o dia chegar
E ela vier me buscar
Não tenho o que lamentar
Que vou-me embora sem medo.”

Abraço amigo,
José Paulo Cavalcanti Filho.”

Agora, termino eu.

"Meu caro José Paulo
Quando admiro alguém
Não grito, mas não me calo,
Não elogio em segredo.
Desculpe, mas vai para o ar
Esse nosso novo enredo.
E aproveito para enviar
Um abraço do amigo Alfredo."

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Que voltem os pasteizinhos!

Aqui em baixo, na esquina oposta do meu prédio, tem um barzinho-lanchonete criado pelo Washington, pernambucano da gema e Ronaldo Nunes, carioca idem.

Aliás, ninguém mais carioca do que o Ronaldo, mocíssimo e, lógico, já aposentado. Lançaram um delicioso cardápio com tira gostos ótimos como lingüiça acebolada, pasteizinhos de carne, bolinhos de bacalhau e o esquimbáu.

Se fosse em Paris seria um bistrô. Aqui em Piedade é um barzinho mesmo, com aperitivos, pratos do dia e um geladíssimo chope. Tem um feijão honestíssimo, galinha guisada ou assada, bife de fígado acebolado, carne ao molho, filé de peixe, e, aos sábados, um irrepreensível cozido!

Para morar sozinho, e viver bem, tem que ter certa manha, principalmente para dois problemas, limpeza do apartamento e refeições. Limpeza é mais fácil de resolver contratando-se uma faxineira. Já as refeições seria mais complicado, não fosse a sorte de ter o Piedade Chopp aqui na esquina. É descer, escolher o prato e traze-lo para casa. Sem panela suja, frituras ou trabalho. No máximo um forninho microondas.

Aliás tenho todo um processo para evitar esses desconfortos. No café da manhã, por exemplo, banana amassada, ovo quente, suco de tomate Raiola, pão, queijo, manteiga e chá. Fumaça e gordura zero.

Não gosto de frituras no apartamento. Quando inevitável, para grelhar um medalhão de filé, abro todas as portas e janelas e conto com a ajuda da brisa do mar como exaustor. Funciona.

De resto dou minhas cacetadas na cozinha com pratos cozidos como um papardele com frutos do mar, e, eventualmente, uma salada de camarões. Mas o dia a dia tem que ter aquele feijãozinho caseiro com arroz e farofa. Aí é imprescindível a magia das cozinheiras.

D. Rita, esposa do Washington, coordena a cozinha no Piedade Chopp, com a colaboração da Adriana e da Cláudia. No salão o simpático e eficiente Rogério, este aí da foto.

O Washington tem, também, um restaurante em Porto de Galinhas e recém adquiriu outro em Boa Viagem, juntamente com o Ronaldo que se mudou para lá de mala e cuia. Anteriormente o Ronaldo já tinha se associado a uma padaria, dava um duro danado, e mal aparecia por aqui.

Com o novo restaurante, o Cabana, perdemos de vez o Ronaldo no Piedade Chopp. Faz falta, o Ronaldo. Como todo bom carioca entende de boteco e é rei do “quanxxz”, ou seja, bom de papo e resolvedor de problemas do tipo bem brasileiro “deixa comigo”.

Gosto muito de pasteizinhos de carne, daqueles pequenos e bem recheados, não os de feira enormes e cheios de vento. Não sei por que o Piedade parou de oferecê-los, optando pelos de feira.

Caraca, Washington, volta com os pasteizinhos!