Meusditos

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Local: Varanda em Pernambuco

segunda-feira, março 31, 2008

Cadê o meu?

Voltava de minha natação quando me deparei com funcionários da prefeitura carregando pedras em carrinhos de mão de um lado para o outro sem uma lógica aparente.

Curioso, perguntei o que faziam. Deram uma explicação ininteligível em monossílabos sussurrados entre dentes. Agradeci e tomei meu caminho.

Ouço me chamarem. Paro, dois se aproximam, perguntam se poderia dar uma ajudazinha para um lanche.

Foi a primeira vez em minha vida que funcionários vestindo uniformes da prefeitura me pediram um auxílio. Não fosse a pobreza do brasileiro, teria me indignado.

Fiz ver a eles que tinha ido nadar, não era dirigente do PT e não levava dinheiro no calção.

Já ia embora quando me bateu o remorso. Dez horas da manhã, eu vagabundeando na praia e os coitados carregando pedras debaixo de um sol de rachar.

Lembrei-me da minha lanchonete preferida, na esquina de fronte, a Piedade Chopp, e ofereci a eles um hambúrguer. Fossem lá que eu telefonaria autorizando suas despesas em minha conta. Não foram.

Queriam, mesmo, um dinheirinho. Não me prestavam nenhum serviço, era, portanto, pura e simplesmente, uma bicadinha, uma mordidinha, queriam, para ser mais claro, uma esmolinha.

Imediatamente pensei nos políticos exploradores da miséria. Por um nadinha podem facilmente comprar os votos dos desvalidos.

Dia seguinte chega o Lula ao Recife, o pai dos pobres, o rei do “bolsa-família”, o popstar dos coitadinhos, juntamente com o bufão Hugo Chavez.

Talvez pela má companhia e por uns mézinhos a mais comemorando sua fantástica popularidade, o presidente fez um discurso de fanfarrão dizendo que faria seu sucessor e, pasmem, vendo na platéia o Severino Cavalcanti, disse que ele era um injustiçado, um nordestino perseguido pelas elites de São Paulo e Paraná! O que faz a marvada!

A imprensa local reagiu dizendo o óbvio, que o presidente se perdeu numa declaração que vai de encontro aos fatos, já que o tal Severino renunciou para não ser cassado, por receber, ele também, uma gorjetinha do concessionário do restaurante da Câmara.

Ainda sob os efeitos da ressaca, etílica e cívica, o pop Lula não fez por menos. Chegando nas Alagoas, em seu primeiro discurso, rasgou elogios ao Renan Calheiros completando uma espécie de Caminho de Compostela da corrupção.

Lula está banalizando e endossando o achaque, a propina, o por fora. Pode-se dizer que ele é um gênio político, que compreendeu a índole do povo brasileiro e responde a seus anseios com escracho e bravatas.

Como diz a canção de Luiz Gonzaga, “uma esmola a um homem que é são ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”. Não estamos morrendo nem mais nem menos, estamos, sim, nos viciando.

Um povo sem educação, com sistema de saúde precário, sem segurança, vendo o despudor dos políticos, os escândalos seguidos, as mamatas correndo soltas, a leniência do presidente com a corrupção e sua profissão de fé em companheiros corruptos, esse povo está, sim, perdendo a vergonha na cara.

Some-se a isso a secular vocação do brasileiro em levar sua vantagenzinha em tudo e estamos diante da esculhambação geral do caráter do país.

Não é por acaso que funcionários da prefeitura, em serviço, estejam esmolando pelas praias.

segunda-feira, março 24, 2008

Decida-se!

Como todo bom ignorante tenho opiniões definitivas.

Vez em quando, em lampejo eventual de inteligência, não me conformando com minhas próprias assertivas, busco ajuda.

Não por humildade, infelizmente, mas por inconsistência conceitual, o que me incomoda.

Digo isto porque neste exato momento escrevo estas mal traçadas com visão parcial do texto. É como ter opinião baseada em informações imprecisas.

Há algum tempo meu micro vem me criando problemas no monitor. Vou ao especialista, fico sem micro uma semana e um mês depois, no máximo, o problema volta.

Apelei para o melhor argumento dos trogloditas, a porrada. Aos trancos ele volta a funcionar até que ontem resolveu se rebelar e sua tela ficou verde. O cursor absolutamente imbecil e duplo. E eu puto!

Para complicar ainda mais apresentou um sério problema 80072EE2. Liguei para o atendimento da Microsoft e após uma hora de espera e papo consegui baixar o que deveria resolver o problema. Ilusão, nada feito.

Toda essa introdução para perguntar o que vocês acham da possibilidade de utilizar células-tronco de embriões humanos para pesquisa?

No meu modo de ver, é óbvio que deveríamos utilizá-las o que poderá salvar vidas e minorar o sofrimento de milhares de pessoas. Fui me informar e, para variar, o que era óbvio deixou de sê-lo.

A maioria dos países europeus tem leis que vetam essas pesquisas. Talvez para eles essa manipulação genética possa no futuro buscar a raça pura, de nefasta lembrança.

Apelei para a doutora Mayana Katz, professora titular de genética humana do departamento de biologia da Universidade de São Paulo.

Para ela “alguns se opõem ao uso de células-tronco embrionárias obtidas em embriões congelados porque acreditam que o processo equivale a um aborto. Não é verdade. No aborto provocado, a vida do feto é interrompida dentro do útero da mãe.

No caso de embriões congelados, produzidos por reprodução assistida, o embrião foi feito em um tubo de ensaio nas clínicas de fertilização e o potencial de vida não existe enquanto não for introduzido dentro do útero. Na prática, esses embriões, que ficam congelados por anos, tornam-se inviáveis e são descartados.

Outro argumento é que utilizar células-tronco embrionárias para pesquisa é o mesmo que matar o embrião, pois a vida se inicia no momento da fecundação. Novamente, não é.

Embora não haja consenso sobre quando a vida começa, todos concordam, inclusive os religiosos, que ela termina quando pára a atividade cerebral.

Por que não adotar o mesmo critério para considerar que o início da vida coincide com o aparecimento dos primeiros vestígios de terminações nervosas, ou seja, no 14º dia após a fertilização e não no quinto dia, quando geralmente os embriões são congelados?”

E vocês, o que acham? O que fazer com os embriões que vão ser descartados, pesquisa ou lixo?

Quanto ao meu micro também estou dividido. Reluto em descartá-lo assim sem mais, como se fosse um embrião congelado.

No mínimo vou levá-lo ao crematório, para uma cerimônia simples, rápida, colorida e digna.

segunda-feira, março 17, 2008

Entrou no jogo? Vai ter que jogar!

Somente ontem assisti ao “Tropa de Elite”.

É um ótimo filme e ao contrário da recomendação estampada na caixa do DVD “para maiores de 16 anos”, penso que deveria ser recomendado para menores de 16.

Aos 16 quem tomou o caminho do crime dificilmente encontra o retorno. Aos dez ainda pode-se evitar o tropeço.

Não vou entrar no mérito se o autor / diretor defendeu, ou não, a posição do policial bandido, torturador, transgressor.

É um retrato da vida, com agravantes e atenuantes, mas da vida, da realidade. As situações existem e se o corte escolhido no filme foi num momento de fragilidade do policial estressado, dane-se. As situações, com ou sem o filme, continuam a existir.

E é muito bom e proveitoso que os moleques saibam que assim é a vida, as escolhas tem seu preço e quem escolhe o crime e a contravenção tem o direito e o dever de saber o que o espera.

Os modernetes riquinhos e maconheiros do filme retratam com perfeição uns moleques imbecis, filhinhos de papai que têm, principalmente eles, o direito de saber que sua opção calhorda é de difícil retorno, que o preço a ser pago é muito alto e que a vida vai se tornar um inferno na terra, até a morte, inevitável.

Sempre tenho um grande desconforto quando vejo a prisão de um jovem “mula” qualquer do tráfico que num momento de desvario cometeu um crime que o colocou em um mundo desgraçado e sem volta.

Se soubesse , com clareza, o que iria passar na vida e ao ser preso e jogado numa prisão superlotada sem nenhum direito a nada, dignidade, higiene, segurança, privacidade, integridade física, talvez pensasse duas vezes antes de fazer a escolha que fez.

Nesse sentido Tropa de Elite é um filme obrigatório para menores. Quando a vida é mostrada como ela é, sem firulas sociológicas, mesmo que carregando nas tintas, só pode fazer bem.

Ser alertado é um direito do menor e de todos nós.

sexta-feira, março 14, 2008

"Se non è vero, è ben trovato."

Toda vez que vejo o Guido Mantega no jornal, me dá um frio na espinha. Tenho sempre a impressão que ele vai por tudo a perder.

Há anos o FHC conseguiu por a economia do país nos eixos e por um milagre, que só os muito espertos sabem fazer, o Lula nomeou um banqueiro tucano para o BC que, com rédeas curtas e contra a maré petista, manteve a política econômica nos trilhos.

Dizia um dos irmãos Marx, não lembro qual, que se o fulano tem cara de imbecil, fala como imbecil, não se deixe enganar, ele é um imbecil. Essa é a impressão que tenho do Ministro da Fazenda.

Com os mercados mundiais em total rebuliço, com bancos e investidores perdendo bilhões de dólares, baixas contábeis astronômicas, o Mantega dá declarações de que “não vai deixar o país ter déficit comercial” e para tanto está armando algumas medidas pontuais para intervir no mercado. Com a placidez dos mentecaptos.

Intervenções pontuais são como comichão quando começam a coçar é difícil parar. Sempre foi assim, basta lembrar os pacotes e planos econômicos do passado recente.

Quando o Mantega assumiu o ministério, lembro-me que afirmei que não se podia confiar num Ministro da Fazenda que pisca. Reafirmo. Prefiro a empáfia empolada de um Meirelles ou mesmo a cara dura e a língua presa de um Palocci.

Para complicar ainda mais, o Lula resolveu abrir as torneiras da gastança. Parece inebriado com sua popularidade e quer aumentá-la ainda mais e a qualquer custo. Desancando o Judiciário, desprezando o Legislativo, dando esporro em aliados, enfim, saracoteando que nem pinto no lixo.

Dizem que com sua popularidade ele elegeria até um poste para sucedê-lo. Ouvi um não sei quem dizer que não, que ele não elegeria um poste pelo simples motivo de que ele nunca apoiou ninguém, só a ele mesmo.

Vou ser meio paranóico e completamente maquiavélico.

Abrindo as burras, com parcimônia, num ritmo bem calculado, entregará o país a seu sucessor, de preferência da oposição, na beirinha de um colapso econômico. O próximo presidente comeria o pão que o diabo amassou e em 2014, Lula volta triunfante nos braços do povo!

Se não é uma boa teoria pelo menos é uma boa história, a única que me inspira o ítalo brasileiro Mantega.

E o que faz a foto dessa bela mulher aqui? Resolvi publicar o que ministro tem de melhor, sua filha Marina.

terça-feira, março 11, 2008

O alojamento e o observador de mares!

Voltando ao assunto. Há três dias foram despejados num terreno sete ou oito trabalhadores no acampamento da obra de enrocamento da praia para contenção do avanço do mar aqui em Piedade.

O alojamento resume-se a dois contêineres e alguns colchonetes. Dez andares acima, sem mosquitos, durmo de janelas abertas, ventilador ligado, numa confortável cama, e, mesmo assim, sinto algum desconforto com o calor que anda fazendo.

Não consigo imaginar como um empresário espera que seus trabalhadores durmam dentro de um contêiner de zinco, sem ventilação e repleto de muriçocas, pernilongos. A temperatura interna deve cozinhar ovo.

Afora isso, como deve ter havido um descompasso entre a chegada dos operários, o planejamento e entrega do material de trabalho, os coitados passam o dia concentrados, sentados no chão, olhando um para o outro sem entender direito o que se passa.

Como sou muito luxento, chegado a certo conforto, avaliei que, de certa forma, esse pessoal é quase escravo. Ninguém, que tivesse outra opção, se sujeitaria a condição tão humilhante de trabalho. Ninguém dorme no teto de um contêiner por prazer. Não come sentado em chão batido por diletantismo, não passa o dia olhando o colega sem sequer ter o alívio de trabalho a realizar.

Como também sou meio tinhoso desci para saber o nome da empresa só para ter o prazer de expô-lo aqui. Na primeira tentativa nada consegui. O barraqueiro, que mora na casa onde estão depositados os contêineres, não soube me informar.

Na volta da minha agradável natação, encontrei no portão do terreno um camarada com cara de chefe dos peões. Aproximei-me, cumprimentei e perguntei o nome da empresa responsável pela obra. Hesitou, pensou e disse-me que não conseguia se lembrar, diabo, e ia assinar seu contrato com ela logo mais. Deu o lampejo, lembrou-se: Construtora Camilo Collier, a mesma que fez as obras de contenção em Boa Viagem.

Aproveitei o momento e perguntei se os contêineres eram de alumínio ou zinco? Não soube responder, mas foi socorrido pela mulher do barraqueiro, que ouvia a conversa, e foi categórica: zinco!

Perguntei sobre a obra e disse-me que só respondia pela mecanização, ou seja, é babá dos tratores. Mas arriscou um palpite: essa obra não é definitiva, está errada. Concordei com ele e informei-o de um estudo que a Universidade Federal de Pernambuco está fazendo para resolver o problema.

Respondeu-me com convicção:

“Precisa não. Eu mesmo tenho uma técnica que resolve o assunto. Sou engenheiro e observo o mar. Um amigo que faz windsurfe, também com experiência de mar, me pediu para resolver o mesmo problema em frente ao seu hotel e me ensinou a técnica. Foi tiro e queda. O mar devolve três a quatro metros de areia por ano à sua praia!”

Perguntei qual era a técnica. Disse-me que não tinha problema, era um dique curvo, indicando a curvatura com gestos de mão.

Achei o engenheiro meio atrevido. Não distingue zinco de alumínio e se diz detentor de uma técnica para deter o avanço do mar! Era só o que me faltava!

Achei melhor mudar de assunto e perguntei se o enrocamento manteria o acesso à praia. Disse-me que sim, que eu ficasse tranqüilo.

Confesso que, se já não estava tranqüilo, depois desse “deixa comigo” do engenheiro observador dos mares, fiquei quase em pânico.

O potencial de dar merda é enorme!

quinta-feira, março 06, 2008

Vide bula

Dois dedinhos de explicações.

Primeiro me perguntaram por que alguns comentários no “Meusditos”, já tão parcos, haviam sido eliminados. Não é censura, não. É que espertinhos colocam um comentário que quando aberto remete para um link para baixar um antivírus. Imaginando que sejam bem intencionados, o que duvido, que vão pegar carona na casa do caraca!

O segundo é quanto às obras de contenção do mar em Piedade. Não é que as obras sejam desnecessárias, é que não se sabe ao certo quanto são necessárias e que tipo de projeto deve ser executado. O que não dá mais é fazer intervenções pontuais, como há anos vem sendo feitas e que, simplesmente, transferem o problema para mais adiante.

A Universidade Federal de Pernambuco diz, também há anos, que está desenvolvendo um estudo definitivo para resolver o problema em toda a orla do estado. Marcou mais uma data para apresentá-lo: fim do ano.

Já chamaram técnicos do Rio Grande do Sul, da Espanha, da Holanda, e prometem que apresentarão uma solução final. Enquanto isso, ou por causa disso, as prefeituras deitam e rolam realizando obras ao seu bel prazer.

Vou relembrar um pouco do assunto que já abordei aqui. Em agosto do ano passado o mar derrubou alguns muros e danificou piscinas de alguns prédios, eles mesmos invasores de área pública da praia.

Como em Jaboatão tudo tem seu preço, alguns condomínios fizeram um puxadinho para cima da praia, aumentando sua área de lazer em alguns valorizados metros à beira mar. Por pressão dos moradores a prefeitura, mais uma vez, foi chamada para conter a vingança do mar e proteger suas invasões. Fizeram um enrocamento na praia em frente aos prédios ameaçados.

De lá para cá, nada mais foi feito a não ser despejarem rochas, que devem ter sobrado das obras, no meio de uma rua que dá acesso à praia. Lá estão há quatro meses. Agora, parece que, oportunamente, precisando de um dinheirinho extra para a campanha municipal deste ano, a prefeitura vai retomar as “obras”.

Agora à tarde, caminhões chegaram e descarregaram mais rochas na rua. Espero que, desta vez, tenham alguma serventia.

Não procure, não há bula. É remédio caseiro.

terça-feira, março 04, 2008

Caixa dois à vista!

Vamos supor que você fosse um prefeito meio amoral, populista, cercado de gente, digamos, pouco convencional. Neste ano de eleições municipais querendo se reeleger, precisando fazer caixa para sua campanha, que tipo de atividades ou obra pública você faria?

Shows milionários contratados por produtores independentes já está muito batido. Quem sabe talvez um grandioso projeto de renomado arquiteto? Também, não. Recife já está fazendo um com a turma do Niemeyer.

Que tal jogar rochas e sacos de areia na praia para combater o avanço do mar na costa do município?

Taí, parece ser uma boa idéia, mesmo porque é uma fórmula já testada por outros prefeitos e que funcionou perfeitamente. Caminhões e caminhões de pedras e rochas, quem irá contá-los?

O mesmo caminhão passa duas, três, quatro vezes pelos anotadores e assim vai se criando uma bela verbinha de caixa dois para sua campanha. Ou você acha que vai aparecer um doido que vai ficar contando pedras de manhã, à tarde e início da noite?

Sem contar o barulho ensurdecedor dos tratores indo e vindo numa dinâmica que confere à obra uma dimensão que na realidade não tem. Quanto mais transtorno e barulho maior a impressão de que a prefeitura trabalha sem parar, só não vê quem não quer!

O folclórico prefeito Newton Carneiro, de Jaboatão dos Guararapes, quer se reeleger e recomeçou, portanto, as oportunas obras de contenção do mar. Justiça seja feita, começou com show digno dos maiores elogios.



Ontem, fim da tarde, surge do nada um caminhão com um enorme guindaste carregando um contêiner. Sim, um contêiner. Como até hoje só havia visto contêineres em portos, em fotos ou em navios navegando aqui defronte, fiquei fascinado com o espetáculo.

Içado pelo guindaste foi caprichosamente colocado num terreno entre os coqueiros. Magnífico! Já voltava para minha rede quando outro caminhão aparece e despeja outro contêiner.

A repetição já quebrou um pouco da magia, afinal ficam fazendo barulho na frente de nossos apartamentos, porra, enchem o saco!

Hoje pela manhã o show continuou: várias kombis desembarcaram dúzias de peões numa balbúrdia de mercado persa.

Não resisti, saí de minha estupefação e desci para me inteirar de tão grandioso projeto. Foi uma lamentável decepção. Os peões sabiam que iam jogar sacos de areia e rochas na praia e só, sem detalhes.

Um mais atirado disse que seriam lançadas ao mar, junto aos arrecifes, o senhor sabe, para conter o avanço do mar. Tomara que ele esteja delirando!

E os contêineres, para que são? São alojamentos, escritório e tudo mais. Esse tudo mais não incluía banheiros. Espero que os trabalhadores não venham engrossar o pelotão dos desprovidos que fazem do mar seu banheiro e sala de banhos.


Nem bem chegaram e já estavam reclamando, não sem razão, de que iriam dormir no teto do contêiner, ao ar livre, para não morrerem assados dentro do improvisado quarto de alumínio ou zinco, sei lá. Se não chover, disse outro! Soubesse ele o calor que anda fazendo, torceria para chover em cima deles, e muito!

Durante todo o dia o espetáculo esvaziou-se, nada aconteceu, nem mesmo um único saquinho de areia foi cheio, nada. Os operários ficaram, agora eles, estupefatos olhando o mar e coçando. Um anticlímax total.

Pudemos continuar aproveitando o costumeiro silêncio das ondas do mar, até, pelo menos, o próximo capítulo.