Meusditos

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Local: Varanda em Pernambuco

quarta-feira, abril 25, 2007

Que gente, afinal, somos nós?

Depois da reeleição, concluí que Lula é um gênio político.

Com o passar do tempo percebe-se, com clareza, que ele compreendeu, com rara sabedoria, o caráter nacional.

Como ele próprio afirmou, não é muito chegado à leitura. Poucos ou nenhum livro passou por suas mãos. Cinema, talvez, agora no conforto do Alvorada.

Em conversas, alguém pode ter lhe falado em Macunaíma, o herói preguiçoso e sem nenhum caráter, personagem do antropofágico Mário de Andrade.

Só para relembrar, cito uma pequena parte da definição que o autor nunca publicou com o livro, sobre seu personagem:

“O que me interessou por Macunaíma foi incontestavelmente a preocupação em que vivo de trabalhar e descobrir o mais que possa a entidade nacional dos brasileiros. Ora depois de pelejar muito verifiquei uma coisa que me parece certa: o brasileiro não tem caráter. Pode ser que alguém já tenha falado isso antes de mim, porém a minha conclusão é uma novidade para mim porque tirada da minha experiência pessoal. E com a palavra caráter não determino apenas uma realidade moral não, em vez entendo a entidade psíquica permanente, se manifestando por tudo, nos costumes, na ação exterior, no sentimento, na língua, na História, na andadura, tanto no bem como no mal. O brasileiro não tem caráter porque não possui nem civilização própria nem consciência tradicional.”

Quando deputado federal, a única contribuição de Lula ao parlamento foi declarar que o Congresso era formado por trezentos picaretas. Começou aí seu aprendizado. De volta a vida sindical e líder do PT acostumou-se ao verbo, às mesas de bar, às despesas pagas pelo partido e por amigos, mas nunca com a entediante rotina do trabalho. Tinha tempo de sobra para ouvir, auscultar e observar nosso mundo político.

Não se pode imaginar Lula, presidente do PT, e mesmo antes como líder sindical, sem vê-lo navegando fundo no patrimonialismo confundindo despesas pessoais com as do partido e vice-versa. Não fez parte de sua formação distinguir este tipo de coisa que acaba sendo aceito como um direito seu, já que tanto batalhava “pelo bem dos outros”.

Se assim foi na oposição não seria diferente no poder, a não ser pela dimensão dos valores envolvidos. Foi surpreendido pela voracidade pantagruélica de seus auxiliares pelas verbas públicas e tomou sua primeira porrada vendo-se enredado em negociatas de todos os tipos, pego chafurdando-se na lama.

Anotou e mais uma vez aprendeu. Estava sim, num mundo de picaretas, não 300, mas milhares em todos os poderes doutorados e togados em roubos, chantagens, propinas, mensalões, infraeros, ambulâncias, bolsas família, hospitais, verbas de merenda escolar. Tudo, absolutamente tudo era roubado, extraviado, comissionado, contrabandeado.

Começou a se sentir totalmente à vontade para fazer o jogo que bem entendesse gerenciando o preço de cada um de nós. Aos desvalidos dinheiro, puro e simples, para outros cargos, poder, agrados a vaidade, afagos políticos. Passou a nos comprar, sem nenhum escrúpulo.

Aí está o pulo do gato. Lula perdeu o escrúpulo de chantagear, de comprar. Viu com a clarividência dos gênios que não havia virgens no puteiro. Podia afrontar qualquer um, ao seu bel prazer, sem compostura, peitar a todos com propostas das mais indecorosas, sem hora ou cerimônia, tudo valendo para lambuzar-se em orgasmos múltiplos de poder!

Negociou, por meses a fio, ministérios, secretarias, primeiro escalão, terceiro, décimo. Compôs um ministério de folha corrida, sem nenhuma expressão extra policial.

Cercou-se do que há de pior na política desde simples ventanistas até figuras carimbadas da alta ladroagem.

Um "brazileiro", professor de direito em Harvard, fundador do partido dos bispos evangélicos, que em artigo aportuguesado e inflamado no jornal Folha de São Paulo, há um ano e seis meses, afirmou que o governo Lula era o mais corrupto da história do Brasil e conclamava o Congresso a cassar-lhe, de imediato, o mandato, foi nomeado, com status de ministro, chefe da Secretaria Especial de Ações de Longo Prazo.

Que longo prazo podemos esperar gerenciados por um bando de escroques que se uniram para dar a Lula um novo mandato sem surpresas, todos comendo em suas mãos?

Um dia perguntaram ao Einstein se ele anotava as idéias que tinha. Respondeu: “Engraçado, só tive uma idéia até hoje!”.

Lula teve a sua e passa na nossa cara, diariamente, que, assim como Macunaíma, somos uma gente sem nenhum caráter.

terça-feira, abril 24, 2007

Alô, tchau!

Minha relação com o telefone não é muito amigável.

Sou conciso, quase monossilábico e restrito ao essencial. Nada de muito papo.

Considero um aparelho tão útil quanto inconveniente. Dá acesso à sua casa a pessoas que por outros meios, não passariam da esquina. Você fica sujeito a ser importunado por todo tipo de chato de todos os call centers do Brasil.

Como moro sozinho e não tenho secretária em casa, resolvi comprar um telefone fixo da Siemens que opera como um celular. Tem identificador de chamadas, pago é lógico, que a Telemar não é de prestar favores, registra chamadas recebidas e enviadas, enfim deixa rastro para eu saber quem me procurou.

Acostumei, antes de atender aos chamados, a olhar o nº que está me chamando para ver se estou disposto a atender o intruso.

Mas intrusos são intrusos e se escondem atrás de um codificador que inibe o identificador de chamadas e aparece no display colchetes, 000s ou que tais. Esses, por princípio não atendo.

Normalmente são os telechatos da Telemar ou os vendedores de assinaturas ou cartões de crédito. Desligo, solenemente, sem o menor remorso. Lógico que pago meus micos.

Mês passado meus filhos foram passar uma semana em Cancun. Num sábado a tarde toca o telefone e lá estava um 0000. Desliguei, incontinente. Volta a chamar. Já mal humorado, desligo novamente. Mais uma tentativa e desistiram.

Na volta meus filhos me passaram uma descompostura por ter desligado três vezes o telefone em suas caras. Acontece.

As vezes atendo um número desconhecido. Normalmente é engano ou televendas. Nos enganos, não sei por que diabos, normalmente, o fulano que liga não tem a menor educação.

No que você atende o animal regurgita “o José”. Quando estou de bom humor, o que digamos não é muito comum em se tratando de telefone, estico a conversa.

Respondo:

- Sim, o que tem o José?
- O José?
- Que José?
- O José tá aí?
- Não, aqui não está. Procura no armário do teu quarto!

Outras vezes é aquela anta de televendas que pergunta:

- Falo com quem?
- Quer falar com quem?
- Com o dono da casa.
- Mas qual?
- Quem está falando?
- Não digo, você quer falar com quem?
- Aqui é do Jornal do Commercio...
- Sem interesse, tchau!

Ou aquela insistente:

- A Gisela está?
- Você ligou errado, desligo.

Toca novamente:

- A Gisela está?
- Para que nº você ligou?
- XXXXXXXXX
- Este nº não é da Gisela, você está com o nº errado, desligo.

Toca novamente:

- A Gisela está?
- Tá cagando, liga mais tarde!

Bom, agora um parêntese.

Quero dizer que até meu filho ligou perguntando se era verdade que o Chico tinha me telefonado ou se era uma pegadinha. Não, não é uma pegadinha. Tudo o que escrevi aconteceu exatamente como descrevi, sem uma vírgula a mais ou a menos. Lógico que não publiquei a conversa que ninguém tem nada a ver com isso, pois não?

Mas o curioso foi o seguinte. Eu realmente estava na rede da varanda com todas as luzes apagadas e ouvindo Gonzaguinha na Tribuna FM. Eram 17,55 h.

Tocou o telefone e atendi, por causa da penumbra, sem olhar o display do telefone. Como já disse era o Chico.

Muito bem. Mais tarde, resolvi ver o nº do qual ele havia me chamado. Adivinhem, eram colchetes!

Se a luz estivesse acesa, vendo aqueles infernais colchetes, eu teria desligado o telefone!

Meu santo é forte!

domingo, abril 22, 2007

Carioca

-Alô!

-Alfredo?

-É!?

-Chico Buarque.

-Rapaz, que bom te ouvir!

Não é todo dia que se recebe um telefonema do Chico Buarque.

Calma, me explico.

Eu e Carioca (era assim que o chamávamos) fomos colegas de ginásio no Colégio Santa Cruz, em São Paulo. Éramos da mesma turma e do mesmo grupo de amigos. Praticávamos todos os esportes, mas o Carioca já era vidrado em futebol.

Foi a única turma de escola na minha vida que me marcou profundamente e creio que aos meus colegas também. Convivíamos em regime de semi-internato com aquela alegria maravilhosa e descompromissada da adolescência.

No primeiro científico, já meio farrista, fui reprovado e os padres canadenses, que dirigiam o colégio, resolveram se livrar de mim não aceitando minha nova matrícula. Separei-me da turma indo estudar no Colégio Rio Branco.

Nunca mais vi o Carioca.

Anualmente nossa turma de Santa Cruz se reunia nos finais de ano para por a conversa em dia. Chico, já de volta ao Rio, nunca compareceu.

Quando anunciaram que ele viria apresentar seu show “Carioca” aqui no Recife, Flávia, minha consultora para assuntos de internet, ficou em polvorosa. Assim como o resto do Brasil, é apaixonada pelo Chico.

Disse-lhe que se descobrisse o hotel onde o Chico ficaria não teria nenhum constrangimento em mandar-lhe uma mensagem sugerindo um encontro. No máximo, poderia, solenemente, ignorar meu bilhete.

Passou-se o tempo e não falamos mais no assunto. Mas aquilo ficou na minha cabeça.

Um dia, lendo jornal, vi uma nota dizendo que o Chico iria se hospedar no Hotel Recife Palace.

Liguei para o hotel e disse que queria mandar uma mensagem, por e-mail, para um hóspede. Disseram que não havia esse serviço e me transferiram para Fátima. Expliquei-lhe novamente e ela me disse para mandar a mensagem para tal e-mail, em nome dela, que ela faria chegar ao destinatário. Mandei-lhe a seguinte mensagem:

“Prezada Fátima,

Como conversamos, gostaria que você fizesse chegar a mensagem abaixo ao Chico Buarque. Agradeço sua atenção.

“Meu caro Carioca

Lá se vão 50 anos de nosso convívio no Santa Cruz.

Sempre acompanhei seu sucesso, admirado, pois convenhamos, não tínhamos a afinação necessária ao canto, como comprovamos com nosso trio, você, eu e o Joaquim Alcântara Machado, que se desfez imediatamente após o primeiro ensaio de Coqueiros de Itapuã!

Há dez anos estou morando nesta terra num retorno às origens paternas. Gostaria de revê-lo. Se houver tempo e oportunidade meus telefones são xxxxs.

Se não, fica o abraço de boas vindas e muito sucesso do amigo

Alfredo

19/04/2007”

Ontem, começo da noite, estava na rede em minha varanda ouvindo um programa especial de canções de Gonzaguinha, na Tribuna FM, quando toca o telefone. Contrariado, levanto-me e atendo.

Era o Carioca, o Chico Buarque. Foi só festa!

sexta-feira, abril 20, 2007

Kessíphoda

Numa matéria, no último dia 10, do Jornal do Commercio, sobre o descaso da administração pública com a conservação do Parque das Esculturas nos arrecifes do porto em frente à praça do Marco Zero, no Bairro do Recife, o jornal entrevistou o artista plástico Francisco Brennand autor das maravilhosas obras lá expostas. A base da principal delas, a Torre de Cristal, com 32 metros de altura, corre o risco de cair, comprometida pela ferrugem.

Disse, Brennand, já estar cansado de recorrer às autoridades apresentando sugestões para manutenção do Parque e que, infelizmente, não é um fato que ocorra somente no Recife.

Dizia o texto:

“Francisco Brennand observa, porém, que esse tipo de problema não é novo nem específico do Recife”. No Rio de Janeiro, um conjunto de casas coloniais, onde morou Augusto Rodrigues (pintor português nascido em 1848 e que morreu no Rio de Janeiro no ano de 1888), foi invadido por sem-teto. O mundo todo está atravessando períodos difíceis, diz.”

Referia-se, Brennand, ao Largo do Boticário no Cosme Velho no Rio de Janeiro, tombado pelo poder público, que deve seu nome ao sargento mor da Colônia Joaquim da Silva Souto, militar reformado, boticário da Corte e que lá vivia em sua fazenda.

Na década de 20 e 30 do século passado, as casas foram reconstruídas e restauradas por seus proprietários em seu estilo colonial original. Destacava-se a casa nº 20 reconstruída por Lucio Costa com jardins de Burle Marx e que, hoje, está invadida por sem-teto como lembrou Brennand.

Como vocês puderam ler também, na matéria, o repórter ou a repórter esclarecia ao leitor, através de informação entre parênteses, após o nome de Augusto Rodrigues, tratar-se de escritor português nascido em 1848 e falecido em 1888, no Rio de Janeiro.

Brennand, obviamente, referiu-se a Augusto Rodrigues, seu conterrâneo, nascido em Recife, em 1913, filho de tradicional família pernambucana.

Pintor, desenhista, gravador, ilustrador, fotógrafo, caricaturista e poeta, trabalhou no ateliê de Percy Lau e realizou sua primeira exposição individual em 1933, ainda no Recife.

Em 1935 mudou-se para o Rio de Janeiro. Durante anos, morou no Largo do Boticário tendo sua casa se transformado em ponto de encontro de amigos e artistas. Em meados dos anos 60 do século passado, liderou uma luta vitoriosa pela preservação do histórico Largo que poderia ter sido destruído quando da construção do túnel Rebouças.

Em 1989 lançou o livro “Largo do Boticário - Em Preto e Branco” com 80 fotografias tiradas ao longo dos anos. Morreu em 1993.

O pintor português citado pelo jornal seria o Augusto Rodrigues Duarte, nascido em Nespereira (Portugal) em 1848 e falecido no Rio de Janeiro em 1888, cidade aonde chegou menino, e onde realizou seu aprendizado artístico, matriculando-se em 1866 na Academia Imperial de Belas-Artes. Sua obra mais célebre, Exéquias de Atala, está hoje exposta no Museu Nacional de Belas-Artes. Augusto Duarte, brilhante aluno de Vitor Meireles foi pintor de história e de gênero paisagista e infelizmente não se tem notícia de onde morou e, certamente, não se referiu a ele Francisco Brennand.

Só posso encontrar explicação para erro tão grosseiro no fato do jornalista desconhecer tanto um quanto outro pintor e ter acessado o Google para socorrer-se. Estampou-se em sua tela o nome de Augusto Rodrigues Duarte logo tomado como informação para o texto do jornal.

Esperei dez dias para ver se o Jornal do Commercio dava uma nota retificando sua informação. Nada, nem um pio. Infelizmente não é rara esta atitude do JC. Finge-se de morto fiel ao lema, corporativista, de “esqueçam, que esquecerão” subestimando seus leitores e pondo em cheque sua própria credibilidade.

Hoje, inclusive, perdeu nova oportunidade de se redimir em editorial sobre a mesma matéria de 10 dias atrás sobre o abandono do Parque das Esculturas.

Em homenagem a este tipo de comportamento sonso de levar com a barriga com ar de “num tô nem aí”, criei o personagem grego Kessíphoda, pai da escola kessiphoidiana, segundo a qual a não ação é a melhor solução para ações equivocadas ou inconvenientes, grosseiramente incorporada ao nosso dia a dia como a teoria do “fez merda, não mexe que espalha!”

Devemos ficar atentos aos adeptos de Kessíphoda!

sexta-feira, abril 13, 2007

Ridículo's


Esta mania de pretensamente se valorar usando palavras estrangeiras está cada vez pior.

Fatos, coisas, lojas e lugares dos mais triviais aparecem com um “toque de charme”, normalmente, inapropriados e de péssimo gosto.

Alguns são hilários como o restaurante “Pai D’Égua Delivery” !

Outros beiram a imbecilidade como uma construtora pernambucana que, em consórcio com uma corretora imobiliária, teve a boa idéia de abrir uma loja para vender imóveis no Shopping Recife, o maior e melhor da cidade. Idéia pioneira e única por aqui.

Mas, tem sempre um mas, comprometeram a boa idéia com um pequeno toque criativo.

Talvez por não se acharem a altura do lugar, no meio de tantas grifes, lançaram uma campanha anunciando a novidade como “Agora no Shopping Recife, Pernambuco Construtora by Sérgio Miranda”. É dose!

Por falar em grifes, veja esta. Dia 14 vai haver um leilão de cavalos campolina na pista auxiliar do Parque de Exposições do Cordeiro, em Recife. Nome? “2º Leilão Griffes Campolina”, com "deux" fs. Fantastique!
A raça foi criada por Cassiano Campolina em Minas Gerais, a partir de raça lusitana com infusão de sangue de raça inglesa e uma pequena lambida de francês. Na pista auxiliar, cairia melhor um 2º Leilão Uai de Campolina!

Mas o melhor deixei para o fim.

Um grupo de extermínio, isso mesmo, pistoleiros justiceiros, há cinco anos aterrorizava a comunidade de Planeta dos Macacos no Jardim São Paulo, zona oeste do Recife. Já mataram mais de 30.

Um quadrilheiro conhecido por Salsicha, jurado de morte pelo bando, entregou os ex-companheiros. Cinco estão presos.

O grupo se auto denominava os “Thundercats” inspirado num desenho animado norte americano, que desconheço.

Certamente, por mérito e justiça, ficarão conhecidos como os “Thundercats by Salsicha”.

quinta-feira, abril 12, 2007

Tem uma loira no meu blog

Tenho um amigo que, avesso à estonteante tecnologia de hoje, diz que o equipamento mais moderno de seu escritório é uma caneta Bic.

Não chego a esse extremo. Convivo até bem com meu PC, mas não nasci digital. Sou do tempo do disco de vinil, do incrível desenvolvimento do long-play, do gravador de fita Geloso e da TV preto e branco.

O relógio digital começou a bagunçar minha visão analógica do mundo. Ficava pasmo com meus filhos que, com a maior naturalidade, acertavam os seus.

Numa época de minha vida me apaixonei por fotografia e cheguei a fotografar razoavelmente bem com uma bela Asahi Pentax. Hoje peno para entender e ter controle rápido para instantâneos digitais. Mas um dia chego lá.

A primeira vez que me dei conta do que era um blog foi numa conversa com uma jovem prima minha. Não só me mostrou o que era um blog como criou um para mim. Explicou-me como funcionava, o que eu deveria fazer para postar meusditos e, lógico, tudo com aquela pressuposição de que falava de igual para igual, apesar da minha expressão de paisagem.

De vez em quando me repreendia com um “ô tio!”

Esta expressão, nunca lhe disse, mas sempre que a escuto, tenho um reflexo condicionado como se fosse fechar os vidros e trancar a porta!

Mas dei toda esta volta para prestar a ela minha homenagem neste primeiro ano de blog.

Flávia é jornalista, loira, tão esperta e inteligente que penso até que está ficando morena!

segunda-feira, abril 09, 2007

Tá Prá Tu!


Dizem que o baiano não nasce, se inaugura. E é verdade.

Se pela teoria do caos o bater de asas de uma borboleta na Amazônia pode causar um maremoto na Índia, as coxas da Ivete Sangalo têm o mesmo efeito: criam ondas de alucinados pulando e saracoteando como canibais em festa!

Se o Caetano diz uma asneira, mas com aquele olhar lânguido de sábio blasé, vira tema de discussão por meses. O Ministro da Cultura dá shows, literalmente, por todo o mundo! Até a decantada preguiça do Caymi vira exemplo de virtude, de paciência. E olha que ele já mora no Rio há décadas!

Agora é esse tal de Ó, Paí, Ó.

Começa com a expressão, naturalmente, marketing puro. O filme tem por personagem principal o Pelourinho, seus tipos e entorno. Até mesmo o ator, Lázaro Ramos, de primeiríssima, vira coadjuvante do bairro!

A trilha sonora explode nas rádios. E eu ainda nem vi o filme!

Fiquei pensando por que a Bahia é assim e Pernambuco, não.

Não consegui chegar a uma conclusão, mas para um forasteiro, como eu, fica a impressão que o pernambucano está sempre se cotejando com alguém e o estado com algum outro lugar. Nunca é Pernambuco se bastando! O melhor nunca está presente, está sempre em outro lugar, antigamente é que era melhor, o futuro é que será.

O baiano se basta, se curte, e para ele, o melhor é o momento que vive e o lugar em que está!

Pernambuco tem uma expressão rica, uma onomatopéia de frevos e maracatus que, de hoje em diante, proponho sinalize nosso prazer em desfrutar as maravilhas deste lugar privilegiado!

Tá pra tu!

quarta-feira, abril 04, 2007

Trrriiiiimmmmmmm!!!!!!

Tenho leitores que não lêem, ou melhor, não tem o hábito da leitura. Qualquer coisa onde o texto predomine às figurinhas, é um sacrifício. Ou um brutal hipnótico.

Na primeira oportunidade oferecida por um ponto, ou até mesmo por uma simples vírgula, caem no sono!

Outro dia, um desses leitores, que muito prezo, diga-se, reclamou que “Meusditos” estavam ficando muito longos. Ironicamente disse que eu estava muito criativo. Que outro dia se pegou pulando parágrafos para saber o final!

Senti-me, de repente, uma Agatha Christie que impõem aos impacientes um mistério insuportável que os faz quase que começar a ler pelo final, para não se angustiarem. São, normalmente pessoas muito falantes, agitadas, que ao pular o texto e saciar a ansiedade, caem em estupor, aguardando, ansiosas, a próxima oportunidade de ficarem ansiosas.

No interregno, dão preferência à televisão, esta mágica invenção de acalmar hiperativos. Relaxam o corpo, quase se deitam no sofá e ficam com aquela cara de homo videns, expressão usada pelo cientista político italiano Giovanni Sartori para descrever cidadãos, digamos, monofocados na telinha, refratários a uma boa abstração.

Ei acorda, já terminei, pronto!

segunda-feira, abril 02, 2007

Explicando o inexplicável!

Pedreiro, negro, evangélico, marido e pai amantíssimo, ótimo profissional, muito querido na comunidade de “Entra a Pulso”, favela em que mora.

Biu andava meio nervoso. O salário começou a apertar, seu filho mais novo com problemas de asma, enfim, Biu começou a beber umas a mais.

Nada de muito grave, mas destoante de seu comportamento habitual.

Seu filho mais velho já trabalhando e a mulher, doméstica. Iam tocando a vida.

Um dia, Biu foi ao supermercado já um pouquinho calibrado. Antes, uma parada no Bar do Bode e deu mais uma golada.

Percorrendo as gôndolas da loja deu de cara com umas Havaianas de tiras verde escuro que seu filho tanto pedia. Biu foi comprar pão e não tinha dinheiro para extravagâncias.

Sabe-se lá porque, sua cabeça rodou e ele pegou as sandálias colocou-as nos pés, deixando na prateleira as suas usadas. Comprou seu pão e foi-se embora para casa.

No caminho foi abordado por uma viatura da PM. Afirmou aos policiais que não tinha feito nada. Disseram que a câmara do supermercado havia filmado seu furto. Descontrolou-se, começou a chorar.

Foi levado para a delegacia. Balbuciando, queria dizer ao delegado que aquele que furtou as havaianas não era o verdadeiro Biu, que estava fora de seu juízo.

No que começou a falar, não terminou a palavra “doutor”, e já tomou o primeiro pé de ouvido que lhe jogou na parede do outro lado da sala. Tentou novamente e veio a segunda porrada, desta vez no estômago. Dobrou-se em dor e caiu gemendo. O PM não hesitou, emendou um bico artilheiro nas suas costelas aos gritos de “Crioulo safado, ladrão filho da puta” e por aí foi.

Sem fôlego, sem poder falar, foi jogado numa cela junto com todo tipo de marginal. Biu está preso há três meses.

Coitado do Biu. Aquele, definitivamente, não era o seu dia de rabino!