Meusditos

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Local: Varanda em Pernambuco

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Domingueiras!


Tenho ciúme da minha praia. Não gosto do domingo.

Domingo não é um dia de se ir à praia. É um dia de irem à praia. Quem vai à praia aos domingos vai em bando em número nunca inferior a sete, oito pessoas. Juntando todo mundo é uma horda que invade a sua sempre tranqüila paisagem.

As piscinas nos arrecifes de águas cálidas e translúcidas viram o piscinão de Ramos com xislhões de pessoas por metro quadrado, todas praticando alguma atividade inconveniente ou jogando bola, ou areia, ou água uns nos outros ou pura e simplesmente... mijando. É uma festa!

O caldinho de sururu com uma cervejinha gelada que em dias de semana você curte sossegado, no domingo tem que ser protegido das milhares de crianças que frenéticas gritam e correm ao seu redor. Não sei o que acontece com as criancinhas domingueiras que ao chegarem à praia pulam e gritam, berram, nas pontinhas dos pés, balançando as mâozinhas, aquele grito histérico, estridente e interminável externando não sei se seu ódio à humanidade ou, na falta de vocabulário mais apropriado, seu deslumbramento com as ondas do mar.

Tempos atrás um pai começou a jogar bola com um garotinho de 4 anos no meio das barracas. Como sou predestinado não deu outra: a bola veio certeira no meu copo de cerveja derrubando o precioso líquido no meu colo, na mesa e na areia.

Indignado berrei um “porra, cacete”! O imbecil, travestido de pai, responde: “não vê que o garoto tem só quatro anos?” Retruco: “mas você não!”, ainda em tom exaltado. Se mancou e ficou quieto.

Pois bem, justamente na mesa do imbecil sentava-se uma jovem senhora gorda que tinha por mau hábito urinar-se sentada na cadeira enquanto degustava sua cervejinha. Olha o padrão! Ela sorvendo a cervejinha e a mijada correndo solta por baixo da cadeira! Apelidei-a de cascatinha!

Mas a natureza é sábia. Com alguns meses mais o mar comeu aquele pedaço de praia, a barraca, a calçada e tudo mais. Todos tivemos que mudar de freguesia e a mijona sumiu. Nunca mais a vi!


Domingo é fogo. Vendedores de tudo: cds, redes, búzios, colares e miçangas em geral, ciganas cartomantes querendo ler sua mão, caldinhos e até uma horrorosa de uma batata frita! Todos os vendedores, lógico, com suas indefectíveis havaianas levantando areia no calcanhar quando passam entre as barracas!

E os negociadores de preço. Quanto é a cerveja? Dois e cinqüenta. Tá cara, lá na barraca no fim da praia tá por dois e quarenta! Quanto é o camarão? Cinco dois copos (é, é por copo mesmo). Tá, mas bota um choro aí. Deixa experimentar, e mete a mão em mais três camarões! È irritante!

E tem os criativos como um vendedor de camarão que se apropriou do refrão pentelho da Globo e vende gritando: camarão e voceeê, tuuudo a veeer!

Domingo não é dia de se ir à praia!

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Saravá!

Visto da minha varanda, este nascer do sol parece com milhares de outros que já vimos.

Mas, para mim, tem uma diferença: é o primeiro do meu próximo ano de vida, que espero completar com folga.

Sim, ontem foi meu aniversário.

Escrevo isto porque as pessoas freqüentemente perguntam como você se sente com “mais um aninho de vida?” Normalmente você se sente exatamente como se sentia ontem.

Lógico que tem os deprimidos que desde os vinte lamentam o envelhecimento. Os aniversários que fecham década, então, são de amargar: 20, 30, 40 e por aí vai. Por aí vai, não. A partir daí é depressão certa!

Os caras começam a contar somando e diminuindo. Somam mais um ano de vida e diminuem também mais um. Eu, para ser franco, comecei a me preocupar com o assunto.

Então para começar de uma maneira diferente este meu próximo ano resolvi pular da cama às 3:45 horas. Não foi planejado, não, foi de improviso, só para ver como é que é. Afinal nos meus idos tempos de boemia este horário era mais de chegada do que de partida.

Já fiz várias coisas, estou a escrever estas linhas e ainda são 4:20 da manhã. Para fotografar o nascer do sol para ilustrar esta postagem ainda falta uma hora mais ou menos.

Ah, o galo! O galo acabou de dar sinal de vida! É um bonito galo da casa aqui de frente que tem um belo cocorocó, mas tem um defeito: é um galo brasileiro. Não há a menor condição de respeitar horários. Nem se quer uma ligeira coerência. Pode cantar agora, de madrugada, como ao meio dia ou 5 da tarde! Mas sempre com aquela empáfia de dono do galinheiro! Parece o Inocêncio de Oliveira! Não sabe para que lado vai, se canta, se cala, mas sempre de peito estufado!

Fui para a rede na varanda e finalmente nasceu o sol, atrás de umas simpáticas nuvens que vieram dar volume ao cenário. Como que encomendados, dois barquinhos para completar.

É, certamente, vou ter um ano muito bom!

terça-feira, janeiro 16, 2007

Vamos fazer um teste?

Na foto Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Inocêncio de Oliveira (PL-PE) em conversa ontem na Câmara.


Na sua opinião:

a) são dois íntegros parlamentares discutindo projetos para o bem da nação e felicidade geral do povo brasileiro, tais como a reforma política para acabar com o permanente toma lá da cá de favores e cargos, a moralização do Congresso, a transparência das contas revelando as retiradas reais dos deputados e senadores entre salários, ajudas de custo, verbas indenizatórias e outros achaques, o fim da impunidade parlamentar para crimes comuns como roubo, estupro, fraude e que tais, regulamentação das medidas provisórias que engessam o Congresso tornando o parlamento refém do Planalto, enfim projetos que enobrecem nossos lídimos representantes.

b) são dois grandes escrotos discutindo a disputa pela presidência da Câmara e a distribuição de cargos da mesa diretora, seus vencimentos e mordomias, e dane-se a pátria amada Brasil e seu bravo povo varonil.

Coragem, vote.

Olhem com atenção!

As cinco maiores empreiteiras do país, Odebrecht, Queiroz Galvão, Camargo Correia, OAS e Andrade Gutierrez, formam o consórcio responsável pela construção da Via Amarela do metrô da Cidade de São Paulo.

Avisadas por moradores residentes nas proximidades da obra de que suas casas vinham apresentando rachaduras, os engenheiros, enviados para vistoria, frente a todas as evidências, comentavam com a ironia dos incompetentes e arrogância dos imbecis, que as casas não iam desabar, não.

Deu no que deu!

Olhem com atenção para essa foto. Lá embaixo bem no fundo veremos a cidadania, a decência, a honestidade, o respeito ao próximo, esmagados no fundo da cratera.

Na superfície, no entorno, pairam impunes a desonestidade, a propina, o suborno, a negligência, a omissão, a criminosa ganância!

Olhem bem essa cratera, mas olhem com olhos de ver!

quarta-feira, janeiro 10, 2007

O dia em que ganhei na sena!


Tomei meu café da manhã e comecei a ler o jornal. Tenho mania de organizar o jornal antes de ler. Descartei os classificados e dei uma rápida olhada no caderno de esportes para checar se tinha alguma notícia da minha prima campeã de vela Roberta ou de sua irmã Andréa. Nada, descartei.

Num rápido flash back meus números da megasena ficaram piscando na minha mente. Peguei de volta a página de esportes e lá estavam meus seis números nos resultados do teste de R$ 50 milhões. Fingi que não era comigo.

Como no jornal que leio a edição dos assinantes é a segunda, imediatamente pensei que poderia ter havido um engano. Calmamente liguei o micro e abri o site da Caixa. Confirmado. Um apostador de Pernambuco tinha ganhado, sozinho, os R$ 50 milhões. Só podia ser eu. Começou a me dar uma sensação de desconforto.

R$ 50 milhões é dinheiro prá cacete, porra! Cadê o bilhete? Meu Deus do céu, cadê o bilhete? Corri para a estante onde sempre deixo jogado o envelope com o jogo. Lá estava ele.

Não posso deixar essa porra jogada aí! Mas, pensei, há quinze anos que jogo os mesmos números na sena e sempre deixei aí os jogos. Nunca sumiram! É mas era só uma aposta, agora é um cheque de R$ 50 milhões! Vou trancar o bilhete na mala que tem segredo. Ai, meu Deus, e se a mala quebrar? Calma, Alfredo. Se a tranca da mala quebrar, arrebente a mala, porra. Não cria problema onde não existe, cacete!

Bom , muito bem, calma. Calma como, se estou com um jogo premiado com R$ 50 milhões?
Respira fundo, Alfredo, sem stress. Ganhei R$ 50 milhões de reais! Respira, calma, tudo bem.

Bom, vamos buscar a grana. Peraí. Como é que eu vou sair de casa com R$ 50 milhões no bolso? Não dá, posso ser assaltado, morrer no trânsito, não dá. Vou ligar para o Valmir, meu amigo, gerente da Caixa.

Para não arriscar, disfarcei: Valmir, um amigo meu parece que ganhou esse puta prêmio da sena, como é que ele faz para receber?

-Fala para ele ir a qualquer agencia da caixa. Lá resolvem tudo.

-Valmir, como que ele vai sair de casa com um bilhete premiado de R$ 50 milhões, você tá louco?

-Alfredo, com um ou com cinqüenta só tem um jeito de receber, ir numa agência da Caixa. Mas se ele está assim tão inseguro, eu passo na casa dele e trago ele para a Caixa.

-Ô Valmir, você tá de sacanagem, né cara? Todos os bandidos de Pernambuco, senão do Brasil, estão de campana nos gerentes da Caixa. Qualquer mudança de rotina e záz, lá se vão os milhões do meu amigo.

-Valmir, me diga uma coisa: não tem um serviço de recebimento de depósito domiciliar como os hospitais? Vocês trazem uma máquina de autenticação, recebem o bilhete e emitem o recibo e pronto, tá resolvido!

-Não, Alfredo, não existe esse serviço! Mas, Alfredo, você tá paranóico, cara! Ele não sai todo dia de casa e não chega nos lugares que tem que ir?

-Como paranóico! Sai todo dia pobre, Valmir! Rico é a primeira vez!

-Mas ninguém vai saber que ele está rico.

-Valmir, você não conhece o meu amigo. Na testa dele deve estar escrito IMBECIL com letras garrafais. Mesmo na praia cheia o primeiro que as ciganas vem querer ler a mão, é ele! O primeiro que quer uma ajudinha vai para ele! Agora quando ele sair vai estar escrito na testa IMBECIL E MILIONÀRIO! Não passa da primeira esquina!

-Valmir, te ligo mais tarde.

Não estou gostando nem um pouco desta enrascada. Prá que eu fui jogar? Se ainda ganhasse R$ 200, 300 mil, vá lá, era um tremendo dinheiro caído do céu, Tava bom! Se perdesse seria uma chateação a mais e pronto, mas perder R$ 50 milhões é dose! Se não te prenderem imediatamente numa camisa de força é suicídio na certa, porra!

Já sei. Vou chamar meus filhos de São Paulo. Afinal a grana vai para eles mesmo, eles que descasquem este abacaxi!

Convidei-os para passar uma semana comigo aqui em Piedade. Disse que era urgente uma conversa. Vieram. Expliquei a enrascada em que eu estava e entreguei o bilhete para eles. Sugeri: doem metade, dêem uma aliviada na vida de amigos e familiares e divirtam-se. Só não esqueçam de mandar uma mesadinha para minha praia e a cervejinha.

Que alívio me deu!

O engraçado é que meus filhos saíram exultantes com o abacaxi nas mãos! Vai entender essa molecada!

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Saudades de amanhã

Acordei com saudades
De um mundo que não verei,
Mais justo, alegre, sem rei.
Saudades dos filhos que tenho
Dos filhos dos filhos
Que não terei.
Saudades dos amores que amei,
Que amo e dos que não amarei.
Saudades dos amigos que fiz,
Dos amigos que não farei.
Uma saudade tão grande
Que sentei na cama
E, convulsivamente, chorei.
Chorei de saudade,
De saudade da vida,
Da vida que não viverei.

domingo, janeiro 07, 2007

Atendendo a pedido


Ontem encontrei o Ronaldo, um carioca boa praça que ajudava a tocar o Piedade Chopp, boteco na esquina aqui de casa.

Resolveu se associar numa padaria em Cavaleiro, um distrito interiorano e popular do município de Jaboatão dos Guararapes.

Ronaldo é um dos poucos, porém fiéis, leitores dos Meusditos. Cobrou-me trabalho. “Onde já se viu, desde que foi para São Paulo não escreveu mais nada. Tá ficando vagabundo, meu chapa?”

Confessei que sim. Não uma vagabundagem padrão, mas uma vagabundagem de enjôo. Cansei um pouco de dar atenção para o Brasil e para a maioria dos brasileiros.

É uma missão quase impossível. Quando você pensa que já chegamos no fundo do poço, eles, com a maior cara dura, provam que não: sempre podemos piorar. Agora mesmo, vários suplentes de deputados, senadores e vereadores pelo Brasil a fora vão assumir sua vaga por vinte e nove dias, embolsar coisa como R$ 40 mil, no caso dos federais, sem contar verbas de gabinete. Com um senão: os parlamentos estão em recesso. Mesmo que quisessem, o que não é o caso, não poderiam trabalhar.

Tom Jobim tinha razão, o Brasil não é para amadores.

Enquanto isso vou devorando o livro do Armando Conde, meu amigo e ex patrão: “A Riqueza da Vida, memórias de um banqueiro boêmio”.

O Armando é uma figuraça com uma vida riquíssima, cercado por amigos exóticos e bastante divertidos.

Anos atrás teve um câncer nas cordas vocais. Operou-se e se deu bem. Por coincidência também eu tive o problema. Quando internado na UTI do Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo, ouvi na cabine ao lado uma discussão de duas ou três enfermeiras com um tal de Dr. Julinho que não queria parar quieto. Mais tarde soube que era o Julinho Parente, boêmio de carteirinha que bebeu metade da Escócia e amicíssimo do Armando.

Semanas depois, ao telefone, Armando me disse que o Julinho também tinha tido câncer na “güela”. (é assim que ele diz goela). Perguntei como ele estava e o Armando disse: "Ele morreu. Aliás, Alfredo, o Julinho não morreu, ele gastou...!"

Recomendo o livro.

terça-feira, janeiro 02, 2007

Caminhando

Não fiz planos nem promessas.
Tampouco por ele esperei.

Caminhando continuei traçando meu caminho, sabendo que a vida é vivida no dia a dia do caminhar.

Chegou manso, sem alarde, numa manhã radiante de sol.
Dois mil e sete, meu novo parceiro por todo um ano!