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Local: Varanda em Pernambuco

quinta-feira, setembro 27, 2007

Nooossaaa, Inocêêêncio!!!


Inocêncio de Oliveira é desses políticos das trevas, dos grotões do sertão pernambucano, espécie em extinção que viceja na pobreza e no analfabetismo do eleitor nordestino.

Formado em medicina em 1963 abraçou a política em 1975 elegendo-se deputado. Desde então se reelege.

Caronista contumaz do poder, nesses 32 anos enriqueceu na política. Tem hoje mais de 30 imóveis, hospitais, é sócio da TV Asa Branca de Caruaru e dono da Rádio A Voz do Sertão em Serra Talhada. Apesar de ter sua base eleitoral no sertão, mora à beira mar na Avenida Boa Viagem, o mais nobre endereço do Recife. Tem, também, algumas propriedades rurais.

Uma delas lhe trouxe sérias dores de cabeça. Foi condenado pelo juiz Manoel Lopes Veloso Sobrinho, da Justiça do Trabalho do Maranhão, ao pagamento de indenização por dano moral no valor de R$ 530 mil por manter 53 trabalhadores em condições análogas a de escravo na sua Fazenda Caraíbas, localizada no município de Gonçalves Dias a 348 km de São Luís.

Anteriormente já havia se enroscado com a justiça por perfurar poços financiados pelo Dnocs em suas propriedades. Justifica até hoje, sem nenhum pudor, que eram perfurados em suas propriedades mas que, magnanimamente, colocava à disposição do povo! Cara dura ou não?

Esta semana Inocêncio saudou o deputado Clodovil Hernandes que trocou o PTC pelo seu partido, o PR.

Clodovil, maquiado levemente, blush e lápis no olho, brincou:”Eu sou muito mais macho que o Inocêncio. Mexe comigo para ver!!”

Inocêncio não perdeu o rebolado. Mãos na cintura, num só fôlego, afirmou que o PR não vai combater opções sexuais e que no passado ele era um cangaceiro mas hoje é um liberal de centro.

Liberal de centro? Sei, não, há fortes indícios de franga solta no sertão!

quinta-feira, setembro 20, 2007

Do mar e Daspu

Moro num edifício na quadra da praia de Piedade. Como à sua frente só tem três pequenos terrenos, sem edificações, pode-se dizer que é a beira mar. Se não é verdadeiramente a beira mar, mais dia menos dia, será.

O mar em Pernambuco, desde o litoral norte até parte do litoral sul, tem avançado sobre a praia comendo nacos impressionantes de areia. Há anos.

Dizem que aqui em Piedade tudo começou quando um espertalhaço aterrou o mar em frente a um terreno seu para criar alguns milhares de m² a mais na sua propriedade original.

A área do fulano é na foz do rio Jaboatão, ao sul, e o dique ali criado desviou o rumo das correntes marítimas que passaram a levar areia para o mar aberto ao invés de lançá-las nas praias contíguas, ao norte.

Outros dizem que foi a construção do porto de Suape a causa de tudo.

Alguns outros diques já foram feitos o que só provocou o deslocamento do problema para algumas centenas de metros à frente.

Estas são somente algumas das tantas teorias que freqüentam as conversas dos moradores do local. O certo é que o mar já derrubou muros, parte de piscinas e amedronta diuturnamente vários moradores de edifícios a beira mar. Além, é claro, de desvalorizar seus imóveis.

Parte das praias, outrora belíssimas com extensos areais, tornaram-se bunkers protegidos por muralhas de pedras horrorosas que seguram a força das marés.

As obras de contenção do mar, para os prefeitos, são um prato cheio para a corrupção. São caminhões e caminhões de pedras jogadas na praia e no mar. Como, convenientemente, não existem fiscais contando pedras e caminhões não deixa de ser um bom negócio. Que venha o mar!

Não sei por que entrei neste assunto. Queria somente dizer que moro numa praia familiar. A bem da verdade, quase familiar. Minto. Familiar é, mas, eventualmente, pouco ortodoxa.

Outro dia uma jovem mãe tomou um senhor porre, e sabe como é, os diabos afloram. Despiu-se em plena praia e seu marido, que a tudo assistia da varanda de seu apartamento, desceu espavorido com uma toalha nas mãos para cobrir a nudez de sua cara metade, ou meia bunda, sei lá. Fez o maior sucesso entre os barraqueiros.

Uma parceira dela, que veste um fio dental tão mínimo que não se vê nem o fio, nem os dentes, quiçá o esôfago, também tem uns diabinhos que não param quietos e vira e mexe lhe apresentam as mais esdrúxulas companhias que ela acolhe de braços abertos. Braços e pernas, a bem da verdade.

Lembrei-me disso lendo uma nota no jornal de ontem informando que Gabriela Leite, criadora da Daspu, está escrevendo sua biografia. O livro vai se chamar “Mulher, mãe, avó e puta”.

Registre-se que as senhoras da praia ainda não são avós!

terça-feira, setembro 18, 2007

Democracia...

No começo deste mês o ministro da Defesa, Nelson Jobim, referindo-se ao lançamento do livro “Direito à Memória e à Verdade”, que reescreve a história oficial sobre presos políticos desaparecidos no regime militar (1964-1985), soprou o clarim e afirmou que quem reagisse ao livro “teria resposta”.

Os três comandantes das Forças Armadas, que não compareceram à cerimônia de lançamento da publicação, no dia seguinte divulgaram nota dizendo ser “inaceitável o cala-boca” de Jobim. Da sombra, quem teve resposta foi o ministro que em tese é o chefe dos comandantes militares.

Mãos no bolso, assobiou e saiu de fininho!

Será que este foi um fato isolado, pontual? Estão os militares quietos em seu canto não interferindo nas políticas de governo e acatando o comando civil da defesa e das instituições?

Jorge Zaverucha, mestre em Ciência Política pela Universidade Hebraica de Jerusalém e doutor pela Universidade de Chicago, coordenador do Núcleo de Instituições Coercitivas da Universidade Federal de Pernambuco, acha que não.

Aliás, cientista não acha, prova. Nossa democracia ainda é, de certa forma, consentida pelos militares, com o conluio das classes dirigentes, que vêm nas forças armadas uma espécie de “hedge” para garantir regras palatáveis de estado, seus privilégios e suas propriedades.

Não é um livro fácil, esse do Zaverucha. Como pesquisador, foi fundo na análise de nossa democracia que define como híbrida ainda repleta de ranços autoritários.

Em assunto tão árido, se por um breve capítulo torna-se cansativo por citações de leis, artigos, parágrafos e notas de rodapés, necessários, diga-se, para fundamentar sua tese, no conjunto é um livro incitante, de ler de um só fôlego.

Para mim, um simples leitor simples, o livro escancarou uma nova abordagem que não me ocorreria, com tanto método, senão por esta ótima leitura.

“FHC, forças armadas e polícia”, de Jorge Zaverucha, editora Record, foi escolhido o melhor livro em língua portuguesa pela Seção - Brasil da Latin American Studies Association (Lasa). O prêmio foi concedido em 6 de setembro passado, na cidade de Montreal (Canadá), durante o 27º Congresso Internacional da Lasa.

Leia e você vai compreender porque, ainda por muito tempo, vamos ter que conviver com uma democracia adjetivada.

domingo, setembro 16, 2007

Decoro parlamentar

Depois de cem dias mergulhado na mais profunda meditação para entender o que é decoro e, principalmente, falta do próprio, fui buscar luzes nas normas do Congresso.

Diz lá que perturbar a ordem das sessões é falta de decoro. Não encontrei nada que justificasse, nem mesmo rebolar as banhas comemorando resultados de votações.

Quem sabe praticar ofensas físicas ou morais nas dependências do Congresso ou desacatar, por atos ou palavras, outro parlamentar?

Não, também não. O máximo que encontrei foi um se dirigir ao outro com trejeitos dizendo “Calma, menina, calma boneca!” Definitivamente, não é falta de decoro.

De repente, a esperança: praticar atos que infrinjam as regras de boa conduta e do bom comportamento nas dependências da Casa. Finalmente, boas maneiras, compostura!

É isso! Suas Excelências não podem peidar nos elevadores do Congresso!

Mas, veja bem, em elevadores com até duas pessoas porque com três, já é como votação secreta, ninguém sabe quem foi!

sexta-feira, setembro 14, 2007

Coisas da noite!

Escreveria hoje mais uma vez sobre nosso grande Alagoas. Contive-me para não ser redundante com o tanto que já escrevi e, principalmente, depois de ler duas crônicas magistrais sobre o assunto. Uma, no jornal Valor de ontem, de Maria Inês Nassif e outra hoje, no Diário de Pernambuco, da Miriam Leitão. Recomendo.

Para minha sorte, enquanto lia a Miriam, chamou minha atenção o jornal NETV da Globo, no começo da tarde. Tenho essa mania. Sou um receptor multimídia. Leio livro, jornal, internet, vejo TV, ouço rádio, normalmente dois ao mesmo tempo. Não recomendo. É um saco. Vira compulsão.

Mas, como dizia, aparece-me em entrevista no NETV o Altemar Dutra Filho que fará um show hoje aqui no Recife. É a cara do pai, a voz do pai, o repertório do pai mas com um gestual mais solto, menos formal.

Lembrou-me imediatamente meus idos e bons tempos de boemia em São Paulo. Tive períodos distintos de boemia. Comecei em casa quando ainda morava com meus pais e aprendia violão com Roberto Ribeiro, que ficou meu amigo inseparável de noitadas. Violonista de primeiríssima, cabelos precocemente grisalhos, voz suave e o maior come quieto que já conheci!

Depois tive um tempo em que freqüentava o Jogral, boate do Luis Carlos Paraná, reduto das melhores canjas dos melhores cantores da música popular da noite paulistana. Sempre às segundas. Foi um período longo e extremamente divertido.

Na época começava a aparecer o Trio Mocotó (na foto), como atração fixa da casa, mais Pedrinho Miguel, Adauto Santos, Vera Regina, Geraldo Cunha, Regional do Evandro, e tantos outros.

Com o passar do tempo diminuí minhas excursões noturnas até ter uma recaída quando comecei a freqüentar a Baiúca, já na Avenida Faria Lima, cujo dono era meu amigo e vizinho, Artur Audrá, vulgo Tutu.

Éramos um trio, Tutu, Arnaldo e eu, e eventualmente um ou outro agregado. Arnaldo era um cirurgião boêmio de carteirinha e excelente cantor. Como o Tutu era gago, o Arnaldo dizia que o verdadeiro apelido dele era Tu, mas como ele não conseguia parar no monossílabo, virou Tutu.

Arnaldo era bom piadista. Um dos agregados eventuais era o Rubinho que tinha o mau hábito de cair em sono profundo na mesa do bar. Normalmente derrubava o copo de uísque que tomava. O Arnaldo não perdeu o mote, passou a chamá-lo de Derrubinho!

Lembrei-me de tudo isso por dois motivos. O primeiro é o óbvio, estou ficando velho e as recordações têm sabor especial, e o segundo por um caso acontecido com o Altemar Dutra, o pai.

Como disse, o Arnaldo era um cantor fantástico. Imitava com perfeição o Altemar. Certa noite, num boteco, lá pelas bocas do luxo na cidade, fomos assistir a um show do cancioneiro.

Altemar cantava andando entre as mesas, hipnotizando a todos com seu vozeirão. Ao notar o Arnaldo em nossa mesa, figura que já conhecia de longa data, veio cantando, tipo distraído, e, quando passou por ele, jogou o microfone em seu colo e ficou de costas para a maioria do público.

Arnaldo, imediatamente, passou a mão no microfone e continuou a cantar como se Altemar fosse. A galera só notou quando o próprio se virou e começou a aplaudir o improvisado cover.

Surpresa e delírio geral! Coisas da noite!

quarta-feira, setembro 12, 2007

Renan escafedeu-se!

E com ele o pouco que restava de dignidade no Senado.

Somos, sim, um imenso grotão de picaretas da pior espécie.

Vou repetir o que já disse aqui: mesmo que o dinheiro para pagar a pensão de sua amante, mãe de sua filha, fosse dele, Renan faltou com o decoro ao utilizar um lobista de fornecedor do governo para pagar suas despesas personalíssimas.

Só isto já bastava para cassar seu mandato.

Cambada de sem vergonhas!

Porradas, gênios e criatividade.

Enquanto deputados, senadores e seguranças trocam porradas no Senado, resolvi falar de encantamentos.

Encanta-me a criatividade dos publicitários e marqueteiros. Mais ainda suas explicações para apresentar e justificar suas performances mercadológicas.

Em todos os níveis, desde o diretor de criação de uma grande agência, passando pelos diretores de marketing de grandes anunciantes, até o pintor de uma singela placa de beira de muro.

Todos sabem que não se pode desperdiçar oportunidades para mostrar a importância de seus afazeres.

Sempre que penso nisso lembro-me do Sola. Não me recordo de seu primeiro nome. Era dono de uma empresa de painéis luminosos, desde simples letreiros de fachada até relógios imensos como o do Banco Itaú no topo do Conjunto Nacional, na Avenida Paulista em São Paulo.

Ainda não estávamos na era digital, era tudo mecânico e elétrico, mesmo, e ele nos apresentava o projeto do famoso relógio do Itaú.

Não bastava o porte grandioso da empreitada, por si só, já referência para qualquer empresa de luminosos. Não. Ele começava a valorizar seu trabalho desde a apresentação dos parafusos.

No fundo eram simples parafusos, mas ele contorcia-se como a personificar o parafuso fixando as peças num teatro que vez por outra me fazia rir. Para provocar, cortava sua performance e abreviava: tá bom, Sola, é um parafuso, já entendemos!

Não se dava por achado. Enquanto o maldito parafuso não completasse todas as voltas por ele imaginadas não parava com seu contorcionismo. Grande figura, o Sola. Pelo menos seus luminosos eram muito eficientes.

Dei toda essa volta para falar na culinária pernambucana, ou quase.

É riquíssima. Ultimamente, como em todo Brasil, tem havido uma valorização de chefs e uma modernização dos cardápios contemplando todas as cozinhas do mundo: italiana, espanhola, japonesa, francesa, mediterrânea em geral, fora as grandes e ótimas churrascarias de espeto corrido e seus maravilhosos buffets com sortidíssimas opções de frutos do mar.

Não abandonamos, entretanto, os pratos típicos da região cada vez mais deliciosos. Um escondidinho de charque, um sarapatel, favas, galinha a cabidela, cozido, buchadinha, pituzada, quiabada, e por aí vai.

De tão farta, saborosa, colorida e magistralmente tocada por mãos de grandes chefes internacionais e locais, a culinária pernambucana é um prato cheio para ótimas peças publicitárias. Certo?

Veja bem, não é bem assim. Seria por demais conservador para os gênios do marketing de plantão criar prosaicos anúncios salientando o óbvio: a delicia dos pratos a nosso dispor. Preferem buscar aquele lampejo de gênio que, normalmente, só eles mesmos reconhecem.

Exemplifico. O restaurante de um hotel cinco estrelas do Recife, não me lembro qual, resolveu promover diferentes fondues, no inverno (como se no Recife tivesse inverno).

Eram fondues de camarão, agulha branca, avestruz e também carne e queijo. Infelizmente não guardei um anúncio de recordação, mas vou tentar descrever.

Ao invés de fotos optaram pela economia do desenho. Desenhos simples, de traço, de menino de primário, preto e branco mesmo. Num ambiente visual tão insosso, o raio da genialidade!

Os desenhos mostravam a avestruz, os camarões e as agulhinhas correndo apavoradas dos implacáveis garfos dos glutões! Verdade. Como se comêssemos o boi, a avestruz e as agulhas e não apetitosos nacos de filés para a fondue.

É de dar pena. Dos bichinhos. Há uma rejeição imediata à proposta e uma irresistível sensação de proteção aos coitadinhos chorando de pavor de nossos talheres. Não sei o que deu essa campanha mas certamente deve haver uma explicação maravilhosa para tal disparate!

Agora vamos olhar a foto do anúncio que ilustra esse meu dito. A idéia é ótima. É uma espécie de rodízio de chefs no restaurante da afamada Casa dos Frios, durante três semanas.

Olhe bem. Você tomaria uma canja de galinha que fosse dessas mulheres tão mal humoradas? Será possível que precisavam colocar cinco prestigiadas chefs com tamanha cara de poucos amigos?

Como seria belo este anúncio com cinco sorrisos francos e abertos nos convidando para o almoço!

Ah, meu Deus, a criatividade! Voltemos às porradas parlamentares!

terça-feira, setembro 11, 2007

Neguinha

Bem-vinda má-criação desse moleque, filhinho do Renan. Mais uma afronta a se somar as já tantas praticadas por seu pai.

Veio a tempo de escancarar a prepotência, a pequenez e a jeguice de um fuleirinho de pequena província dos grotões das Alagoas.

Devemos agradecê-lo, assim como ao seu pai, por nos mostrar a que ponto chegamos, que representantes temos no Congresso, que derrocada moral atingimos. Que amanhã é hora de começar a jogar o lixo no lixo!

Acostumado às benesses e à impunidade da província, pensa estar num imenso Alagoas a ponto de jogar seu carro em cima dos repórteres que estavam em frente à residência oficial do presidente do Senado. Xingou os jornalistas e ameaçou "contratar um negão" para agredi-los.

Deve ter sido um ato falho, uma projeção de desejo seu de sair do armário e enroscar-se com seu capanga.

Descuide-se e irá preso e com essa roupitcha e nervosinho que é, sua vontade, certamente, será feita. Na prisão, vai ser neguinha de negão.

domingo, setembro 09, 2007

O café, óleo sôbre tela, Portinari. Brodowski,1925.

Terminei de ler um livro fenomenal.

De um grande cabotino. Por justa causa, porém.

Testemunha e ator de vários capítulos da história contemporânea do país, com um texto direto, escorreito, preciso, descreve uma trama de casos num ritmo e numa dinâmica magistrais.

É de perder o fôlego!

Conta parte de sua vida de grande advogado, dos melhores de sua geração, intercalando o caso de um processo judicial de uma família, cheio de artimanhas e suspense, com outros que vivenciou nos seus tantos anos.

Uma vida profissional riquíssima desde seu tempo de estudante de Direito em Santos, passando pelo governo de Jânio Quadros até o de Sarney de quem se tornou amigo figadal.

Sua amizade por Sarney torna suas análises políticas descaradas e propositalmente parciais levando-o a eventuais delírios principalmente quando analisa o presidente Fernando Henrique Cardoso. Nesse capítulo, estranhamente, fica ligeiro, um pouco turvo, sem consistência.

Desconta, entretanto, na melhor, mais lúcida e invejável análise que já li do governo de Lula e do PT. Também aqui, através de um personagem ficcional, faz arriscadas e graves conjecturas, mas com tamanha competência do bom advogado que é, que nos torna cúmplices, ou quase, dos fatos por ele descritos. É realmente genial.

Por momentos tive a impressão de que a única “verdade verdadeira” de sua história foi que nasceu em Brodowski, interior de São Paulo. Mas de tanto repetir, numa falsa modéstia, sua infância pobre de pai fazendeiro de café, sempre endividado, mas que dirigia uma baratinha Chrysler, desconfio que nasceu em Ribeirão Preto, cidade maior e vizinha, e, romanticamente, adotou Brodowski para ser conterrâneo de Portinari.

No final de sua análise sobre Lula, numa deliciosa ironia, pede a seu amigo Sarney que lhe prometa que não deixará que o maior sabe tudo que este país já viu nos últimos quinhentos anos, entre para a Academia Brasileira de Letras!

Foi a forma que encontrou de implorar ao amigo que o indicasse à imortalidade, enquanto é tempo!

Se não foi, debitem aos meus delírios de simples leitor, aos quais também tenho direito.

O livro é “Código da vida”, autor Saulo Ramos, editora Planeta. Vale a pena!

domingo, setembro 02, 2007

Decoro?

Falemos de decoro, decência, dignidade, honradez, pundonor.

Confesso que ando meio perdido nos últimos tempos. Não sei mais sequer definir o que é decoro, muito menos pundonor, mas achei o termo a cara dos nossos políticos.

Se você, cidadão, entrar na câmara municipal de uma cidadezinha qualquer do fim do mundo e começar a rebolar e dar saltinhos numa alegria incontida, mesmo que sem nenhum motivo, certamente vão lhe retirar do local.

Na hipótese mais civilizada, vão abrir um processo por desacato à autoridade. Na hipótese mais provável vão lhe retirar do recinto debaixo de porrada e estamos conversados.

Na câmara dos deputados, em Brasília, rebole à vontade. Lá, isto não é falta de decoro.

Se você, cidadão, numa discussão de trabalho mais acalorada dirigir-se ao seu par com trejeitos e dizendo “calma, boneca!” , “calma, menina!”, mesmo que seu contendor seja uma mulher, vão certamente excluí-lo da reunião por comportamento incompatível para a situação.

Se é que existe compatibilidade deste comportamento em qualquer situação que não a de deboche total entre amigos em desfile das Virgens de Olinda no maravilhoso carnaval de Pernambuco!

No senado do Brasil, este comportamento entre senadores, não é falta de decoro!

Imagine você, cidadão, pedir ao seu amigo, diretor de uma das principais fornecedoras de serviços da empresa em que você trabalha, que lhe faça o favor de pagar um por fora para uma ex-amante sua. Você será despedido por corrupção. Todos sabem que não existe almoço grátis.

No senado do Brasil, isto não é falta de decoro.

Imagine você, cidadão, apresentando notas frias em seu emprego para receber reembolso de despesas que você não teve. É demissão por justa causa no ato!

No congresso nacional não é, sequer, falta de decoro!

Imagine se você, cidadão, vender uma rês para uma empresa fantasma dizendo que é sua e ser de sua mãe, seu irmão, ou mesmo ser uma rês que simplesmente não existe. A receita federal manda você para o xilindró por falsidade ideológica e sonegação fiscal.

No senado não é falta de decoro, muito menos crime!

O que tem tudo isso a ver com a foto desse personagem que ilustra este meu dito?

Tudo.

Este fulano não teve um voto sequer e é senador da república, suplente, se não me engano, do Hélio Costa, ministro das comunicações.

O fato de existirem suplentes que não são eleitos e simplesmente compram a suplência financiando a campanha do senador titular, para mim, já é falta de decoro.

Para eles, não!

E vou dizer uma coisa, estou com o saco cheio e vou radicalizar. Para mim um senador com essa cara já configura falta de decoro!

E das graves!