Meusditos

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Local: Varanda em Pernambuco

segunda-feira, setembro 28, 2009

Saque emblemático

Caminhão tomba na BR 232, em Pesqueira, agreste pernambucano, ferindo duas pessoas e é saqueado. Sua carga de frios, lingüiça, salsicha, presunto, costela salgada foi quase totalmente roubada. Roubo famélico? Não. Pessoas de classe média paravam seus carros, motos e roubavam tudo o que podiam.

Uma equipe da Globo Nordeste no local, comandada pelo experiente e competente repórter Francisco José documentou o saque e entrevistou saqueadores. Um senhor muito bem vestido e bem apessoado justificou que não era certo o que fazia, mas como todo mundo pegava, pegou também.

Um jovem de moto chegou a debochar da situação. Perguntado se uma pessoa cometesse um crime para ele bastava como justificativa para também cometê-lo respondeu que não. Insistiu o repórter que ele cometia um crime, era roubo o que fazia. Ih, é? Então todo mundo também é, e abriu-se numa franca risada.

Uma Kombi da livraria Proec com logotipo e nome estampados na carroceria pára descem três ou quatro pessoas, funcionários da empresa, e se locupletam. Notando que estavam sendo gravados não se inibem, só aceleram os passos.

Ocorreu-me que naquele momento e naquela situação criou-se uma comunidade corporativa que, tacitamente de forma não verbalizada e talvez nem percebida como tal, se protegia e se apoiava para consumar o saque.

Nem mesmo o registro por câmeras e repórter os inibia de saquear e até debochar da situação.

Essas pessoas certamente em suas vidas privadas são pessoas comuns que levam uma vida comum. Trabalhadores honestos até que se apresenta uma oportunidade de roubo sem perspectiva aparente de repressão. Aí se tornam saqueadores, justificam seus atos equiparando-se ao grupo e voltam para casa com a sensação, muito comum no Brasil, de terem sido espertos. Ladrões, não, espertos.

E assim voltam para suas famílias e com elas compartilham a aventura por que passaram. Seguramente serão abraçados e parabenizados pelos belos presentes que trouxeram para todos.

Você nota que essa situação é exatamente a mesma nas câmaras municipais, assembléias estaduais e congresso nacional? A roubalheira e a falta de pudor com que saqueiam o dinheiro público não diferem em nada do saque do caminhão tombado. Olhando por esse prisma esses políticos representam sim o povo brasileiro.

Assim como os saqueadores, reconhecem oportunidades de se locupletarem sem nenhum risco e partem para o saque. Não como ladrões, mas como pessoas normais que sabem aproveitar oportunidades que se apresentem. Só que no caso dos políticos institucionalizaram as oportunidades, dando-lhes um caráter oficial. Daí as verbas de gabinetes, as indenizatórias, o nepotismo, os funcionários fantasmas e tantos mais.

Mesmo diuturnamente denunciados pela imprensa e por outros órgãos civis não se dão por achados e, não raro, debocham de todos nós com a mesma desfaçatez do saqueador de moto do caminhão.

Fiquei entristecido por ter que admitir que esses políticos representam sim a todos nós, com raras exceções. É uma falta de educação, de valores de moral e ética que assolam o país. Somente a educação pode mudar esse quadro. Infelizmente para se notar algum progresso vão se passar gerações.

Por isso é urgente que todos nós ao invés de tentar mudar os personagens do presente, a meu critério irrecuperáveis, devemos centrar esforços em educar os personagens do futuro. Sem descanso.

Quem sabe assim, lá na frente, ao invés de saquearem os caminhões, somente prestem atenção e socorro às vítimas dos acidentes.

sábado, setembro 26, 2009

Réquiem da lagosta

Tomava meu chopinho quando passa frente ao bar um rapaz com uma caixa de papelão com 4 lagostas de bom tamanho, vivas.

Veio oferecer todas por R$ 40,00. Entusiasmei-me. A choperia que vou é aqui defronte por isso levo no bolso somente o dinheiro do chope ou do assalto, dependendo da sorte do dia. Como sou um tomador de chope regrado minha graninha não dava para comprar nem uma lagosta.

Não por isso, disse o dono do bar, você é da casa. Quantas você quer levar? Respondi que uma era suficiente para testar minha expertise em cozinhá-la.

Peguei a dita e aí começou uma sensação esquisita. A pobrezinha mexia as perninhas e as antenas sem atropelo, quase confiando em seu destino que, imagino eu, imaginasse que fosse a volta ao mar. Mal sabia ela.

Pedi umas instruções de como matá-la sem sofrimento. È fácil, basta água numa panela grande, um pouco de sal e ponha para ferver. Quando levantar fervura basta jogá-la dentro. Fiquei arrepiado. Insisti, mas como fazer para que ela não sofra? Respondeu-me que ao cair na fervura nem notaria que já estava morta.

Desconfiado, coloquei-a num saco plástico e voltei para casa. Joguei-a na pia e a miserável voltou a se mexer com a dignidade de um louva-deus do mar. Desviei o olhar e preparei a panela. Percebi que a panela não era grande o suficiente para acolhê-la com algum conforto. Vacilei. E agora?

Dei uma andada pelo apartamento, criei coragem, voltei e num gesto rápido arranquei suas antenas. Brigou um pouco, mas logo voltou à sua majestade. Fiquei a observá-la. Bonita, elegante, com cara de nova, apesar do tamanho.

Comecei a duvidar se comê-la era a melhor opção. Certamente para ela não era, mas para mim a tanto tempo sem degustar uma me pareceu o mais certo a fazer e deixar de frescura. Joga a dita na panela e pronto!

Meu Deus, a água começou a ferver. Tinha que decidir agora. Decidi pelo menos recitar algum poema para ela enquanto a sacrificava. Seria um conforto, pensei.

Ocorreram-me versos do poema do “Fado Tropical” do Chico Buarque: “ se a pena se apresenta bruta, mas que depressa a mão cega a executa, pois que senão o coração perdoa.”

Incontinenti, lancei-a na panela.

sexta-feira, setembro 25, 2009

Rapaz, aí tem...

Esta semana que passou lembrei-me de um bom amigo que tive aqui em Piedade. Lúcio Jatobá era uma personagem marcante. De vasta e eclética vida profissional, foi funcionário público, locutor de rádio e, temporão, aos 45 anos formou-se em direito tendo se tornado um brilhante advogado criminalista.

Conheci-o em minhas caminhadas matinais pela praia de Piedade. Eu costumava andar só e sempre cruzava com uma turma imensa que caminhava sempre de bem com a vida logo às seis da manhã. Encabeçava a turma o amigo Jatobá.

Certa vez entre eles estava um amigo comum que me convocou para o grupo. Era realmente um agradél e saudável começar de dia. Na conversa valia qualquer assunto desde que não fosse sério. Eram os chamados papos de jogar conversa fora, falar merda, esporte que praticávamos com maestria.

O melhor dentre nós era o Jatobá. Dono de um humor ferino não deixava fato sem julgamento, normalmente mordaz.

Lembro-me bem de um recorrente. Sempre que acontecia um crime bárbaro envolvendo um padre morto por um jovem da paróquia ou um professor que recebia alunos em seu apartamento no centro da cidade ou um empresário seqüestrado e morto a pauladas em seu carro, nu numa praia deserta, Jatobá, para gargalhada geral, vaticinava: Rapaz, aí tem cu no meio!

Pois bem, esta semana lembrei-me do Jatobá ao ler sobre uma discussão pública para lá de virulenta entre o governador de Mato Grosso do Sul e o ministro do meio ambiente. Ambos grosseiramente se explodiram em ataques de baixíssimo nível acusando-se de bichas enrustidos.

Se você, com a maior isenção, analisar direito o embate verá com clareza meridiana que ali se deu o início de uma violenta paixão!

Rapaz, aí tem...

quarta-feira, setembro 23, 2009

Sem lustro? Caprichei na foto.

Resolvi escrever sobre essas nomeações de ministros para os tribunais de justiça e de contas. Sempre me encafifaram. Mas quando abro minha 1ª muleta, o Google, para me informar sobre o currículo do tal de Toffoli deparei-me com uma enxurrada de artigos e crônicas lascando o cidadão.

De Zé Múcio, como esperado, registraram suas lágrimas em gratidão por sua aprovação. Nada mais justo. Afinal é realmente comovente ser agraciado com uma nomeação ao TCU, para onde são enviados apenas os amigos, chegados e simpatizantes em fim de carreira.

Desanimei. À bem da verdade cheguei quase a ter pena do Toffoli. Um rapaz de 40 e pouquíssimos anos começa seu promissor final com críticas avassaladoras.

Afinal cadê o notável saber jurídico de quem foi bombado duas vezes em concursos para juiz? Chamaram até seu currículo de indigente, sem mestrado ou doutorado! Como se bastasse um juiz no Amapá o condenou a devolver uns milhares de reais aos cofres daquele estado.

Não consegui seguir em frente. Debitei meu “branco” à falta de vontade de continuar escrevendo sobre políticos e suas mazelas. Não dá mais.

No mesmo dia leio o Arnaldo Jabor dizendo-se em depressão, já de saco cheio com as mesmices canalhas do país. Mas nunca vi uma depressão descrita com tamanho brilhantismo, tão maravilhosamente substantivada, adjetivada e verbalizada!

Causou-me inveja. Comparada à dele a minha ficou bem mixuruca, sem lustro. Era só o que me faltava: uma depressão sem lustro!

quinta-feira, setembro 17, 2009

A primeira injeção a gente nunca esquece!

Principalmente por que a primeira eu não tomei. Com uns seis, sete anos, acamado, febril, com uma gripe e garganta inflamada vi meu avô, médico, adentrar meu quarto de seringa em punho já devidamente armada com uma boa dose de penicilina. Corcoveei, pulei e saí correndo. Atrás corria meu avô arma em punho.

Naquele tempo não existia essa profusão de antibióticos de hoje. Os médicos se encantavam com a tal penicilina e aparentadas via injeção intramuscular. Eram uma ampola de parte líquida injetada em outra com o pó do antibiótico. Sacudidos misturavam-se e tinham de ser aplicados logo para evitar que cristalizasse e entupisse a agulha da seringa.

Eu não sabia nada disso, mas o pavor e a corrida salvaram-me da injeção cristalizada na seringa nas mãos de meu avô. Desde então sempre evitei tomar injeções. Até mesmo para tirar sangue para exames sou incapaz de olhar a agulha e a seringa. Como na música do Chico, egípcio viro a cara.

Mês passado quando fui a São Paulo meus filhos marcaram médicos para mim. Mandaram-me fazer exames e meu hemograma apresentou uma ligeira anemia no parecer do médico e na minha opinião um péssimo resultado. Na série vermelha não batia nada nem seis com meia dúzia. Recomendou-me entre outras adivinhem o que? Injeções de vitamina B12.

Sem poder contar mais com o conforto de uma corrida sem passar por um baita vexame negociei e consegui diminuir o número de picadas. Mas daí a tomar a injeção vai chão. Nas farmácias aqui de Piedade, onde moro, não se aplicam mais injeções. Uma chegou a me indicar um posto de saúde. Afinal em outra me indicaram uma atendente que era enfermeira, credenciada para me atacar.

Chamei-a. Por sorte era baixinha e ficava de boa altura para me furar a nádega. Sim a nádega porque no braço não tenho músculo necessário para aceitar o desaforo. A moça era uma mão de anjo. Não fosse a B12 que queima da bunda até a unha do dedão do pé nem teria notado que tomava uma injeção. Lógico que fiquei o tempo todo de lado. A coitada pensou que eu estava com torcicolo. Expliquei que não, era pavor mesmo.

Egípcio, já espero ansioso pela próxima.

segunda-feira, setembro 14, 2009

E na bundinha não vai nada?


Em dezembro de 1972 o então ministro da Fazenda do governo Médici, Delfim Netto, foi um dos que assinaram a criação da Infraero que nasceu a partir de um compromisso das autoridades da Aeronáutica de que seria uma empresa para regular o setor com, no máximo, 600 funcionários.

Hoje a Infraero emprega 28 mil trabalhadores, administra 67 aeroportos, 81 unidades de apoio à navegação aérea e 32 terminais de logística. E o Delfim, hoje deputado federal, a chama de Frankenstein. Esta parece ser a sina das empresas estatais: crescer, inchar até se transformar em cobiça dos partidos e políticos quando se instala a corrupção. E assim gira o patrimonialismo brasileiro.

Note que estamos falando dos tempos da ditadura e os responsáveis pela criação do Frankenstein não eram políticos nem votados pelo povo. Eram funcionários de carreira militar que ascenderam ao topo por mérito, formação ou tempo de serviço.

Hoje se cogita a criação da Petrosal, entidade para regular a exploração dos campos petrolíferos situados abaixo das camadas do pré-sal. Não é difícil entender que o projeto já nasça sob fogo cruzado dos políticos antevendo oportunidades de se locupletarem.

Semana passada noticiou-se que as obras da Procuradoria Geral do Trabalho foram retomadas e seu projeto previa a instalação de vasos sanitários com duchas higiênicas internas com temperatura de água regulável pela bagatela de R$ 23 mil a unidade. Pegou mal. Reviram o projeto e optaram por outra da mesma marca, Geberit, de apenas R$ 4,7 mil!

Nenhum dos procuradores "bunda limpa" foi eleito pelo povo. Todos foram aprovados em concurso por sua boa formação e capacidade. Mas a sina do estado prevalece mesmo assim. Se o dinheiro é público, locupletemo-nos! Em suas casas devem fornecer aos seus funcionários domésticos papel higiênico Tico Tico, lixa 5. Para economizar.

Enquanto isso os pobres que recebem do governo a bolsa família ao comprarem uma manteiga pagam 56% de imposto real. Pagam 12 bananas e comem somente oito, as outras quatro são impostos. E assim vai, no açúcar pagam 44% de imposto, no óleo de cozinha 35%. Ou seja, com uma mão o governo provê a bolsa e com outra toma, em média, 36% em impostos.

Assim que saem dos bolsos privados, pobres ou ricos, a grana vira verba pública para financiar essas lambanças promovidas pelas estruturas do estado. Não adianta ficarmos olhando o presente e a corrupção solta de nossos políticos sem pararmos para repensar o estado brasileiro, seu renascimento. Temos que refundá-lo a partir de seus legítimos donos os cidadãos brasileiros e não pelos amigos do rei que se lambuzam em podridões.

Temos que pensar além da atualidade e tentar participar de um novo país, diretamente ou apoiando mudanças fundamentais com outros agentes que não os atuais. Temos que esquecer os personagens de hoje, evitá-los, eliminá-los, todos, da vida pública.

Senão na bundinha deles vai duchinha temperada e nas nossas, nabo.

quarta-feira, setembro 02, 2009