Meusditos

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Local: Varanda em Pernambuco

quarta-feira, outubro 28, 2009

Renildo, meu rei

Prezado Alcaide Renildo Calheiros,

Recebi com surpresa cobrança de foro que Olinda me faz referente à Carta Foral de Duarte Coelho emitida em 1537 em nome de nosso adorado rei de Portugal. Permita-me, pois, chamá-lo de meu rei.

Sinto-me sumamente honrado em me saber foreiro de território da cidade que tanto admiro, Patrimônio Histórico da Humanidade.

Bem verdade que minha parte em seu glorioso território não é de monta, pois que habito um pequeno quarto, fundos da borracharia de meu tio numa pequena travessa da Avenida Recife que, até então, acreditava ser na cidade que lhe empresta o nome.

Passada a surpresa do momento logo me ocorreram todas as benfeitorias que, finalmente agora, poderemos usufruir tendo sua majestade como provedor dos serviços públicos de que tanto necessitamos.

Nada de grandes coisas, pequenas, aliás, como um asfaltozinho em nossa travessa, um esgoto que canalize o nosso a céu aberto e, quem sabe, uma boa escola e um posto de saúde, mesmo que modesto.

Imagine, meu rei, nossa alegria ao poder, por momentos que seja, ver desfilar bem em nossa porta o Pitombeiras e o Elefante, os bonecos gigantes e o Bacalhau do Batata!

Todavia, meu rei, preocupou-me uma declaração de um secretário seu de que Olinda, que Deus a proteja, é cidade grande com orçamento de cidade pequena. Achei uma afronta à nossa tão querida Olinda!

Como pequena uma cidade de tantas glórias, tantas belezas e de cultura tão rica? Pequena talvez seja a visão do tal secretário que não consegue vislumbrá-la grande e próspera digna de todos os louvores!

Por isso talvez , meu rei, tenha de buscar renda nos lugares mais insuspeitos. Se a situação for realmente de penúria e na impossibilidade de prover uma pequena obra de saneamento e calçamento, meu rei faça-nos pelo menos um favorzinho.

Quando chove nosso pedaço de tão abençoado chão vira rio. Talvez sua majestade possa nos mandar uma das suas famosas ladeiras. Para nós já bastaria visto que com o temporal a água e o esgoto correriam ladeira abaixo evitando que meu puxadinho ficasse inundado e fétido.

Agradecendo tão subida honra de ter sido escolhido foreiro de sua majestade, aceite os cumprimentos deste seu humilde súdito,

Duartinho dos Fundos

segunda-feira, outubro 26, 2009

Viver bem...


Viver bem é a melhor vingança, diz um provérbio basco. A partir de hoje vou adotá-lo como meu mantra. Vou repeti-lo toda manhã enquanto faço meu alongamento para me preparar para minhas braçadas no mar de Piedade.

Fico até meio encabulado de precisar de um pensamento positivo para começar meu dia a beira mar de uma praia maravilhosa. Mas talvez esse seja o motivo da precisão. A felicidade incomoda e atrai maus agouros. Nunca é demais isolá-los.

Melhor ainda do que ter um pensamento positivo é vivenciá-lo ostensivamente. Viver de bem com a vida, vendendo alegria e bom humor. É também a melhor maneira de identificar seus urubus. Eles não suportam vê-lo feliz e logo fazem um muxoxo e disfarçam desajeitadamente o incômodo com sua felicidade. Chega a ser hilário.

Aliás, uma coisa que tem me divertido ultimamente é identificar a simulação das pessoas. Na maioria dos casos são de um primarismo que causa pena. São tão óbvios em suas intenções que dissimulá-las só mesmo se lhe considerarem imbecil. E, invariavelmente, se revelam eles próprios os maiores dos imbecis. Ou maus caracteres. Ou ambos.

Para me divertir finjo que não vejo, que não percebo, e vou acompanhando para ver até onde conseguem levar a pantomima. Incrível como se tornam vulneráveis. Experimente dar uma estocada bem de leve, levíssima, e você verá explodir um vulcão em ataque de ira tentando, agora pela histeria, continuar com seu engodo.

Para os agouros do entorno, viver bem é a melhor vingança!

sábado, outubro 17, 2009

Lula, o S. Francisco e a Menina Fantástica

O que podem ter em comum assuntos tão diversos? Hoje assistia ao jornal do meio dia quando os temas foram abordados.





Lula e sua comitiva de elegíveis visitando várias cidades do semi-árido nordestino com a desculpa de vistoriar as obras da transposição do rio São Francisco buscava despudoradamente uma transposição de conhecimento para sua candidata Dilma à presidência.

Lula, nas cidades que visitou, discursava para pessoas com falta de tudo, água, comida, educação, saúde. Por essas mesmas cidades passaram repórteres do jornal Valor entrevistando pessoas que recebiam a bolsa família. Todas sem exceção votariam no Lula em 2010. Todas sem exceção desconheciam se Lula já tinha um candidato e muito menos quem seria ele.

Não poderia haver ambiente mais propício para a candidata. Agarrada ao Lula, sem desgrudar um segundo sequer, lá estava a Dilma. Dilma, quem? Talvez após o banho de esperança e benesses que ouviram, os desafortunados cidadãos já possam, com o tempo, reconhecê-la como a candidata do “padim Lula”.





Enquanto isso em Recife um caminhão da Menina Fantástica recebia inscrições para o concurso da TV, assim descrito pelo site da promoção:

“Assim que o ônibus chegou ao ponto, a fila já estava formada. A agitação entre as meninas, mães, namorados e familiares já dá uma prévia de como vai ser a etapa seletiva do concurso no Nordeste, que será realizada neste sábado, no Recife”.

“As inscrições seguem e já passamos de 500 fichas preenchidas em três dias”, calcula o booker Murilo Andrade, da agência Mega, que organiza o evento.

Então que relações podem ter assuntos tão diversos? Depende.

Se você é dos que não agüenta mais ver o Lula papagaiando e moçoilas nervosas buscando a fama certamente não vai esquentar com o assunto e nem procurará relação nenhuma.

Se, ao contrário, é dos pentelhos que busca explicações para tudo que acontece no mundo sempre pelo foco da exploração do ser humano por suas carências transformando-o em massa de manobra por meros objetivos comerciais e políticos, os fatos têm muitas relações.

Se percebe que há sim uma relação que urra por uma explicação, mas não consegue concluir qual é, faça como eu, tente.

terça-feira, outubro 13, 2009

Sonhos




"Está prevista para o próximo dia 9 de abril, a inauguração da primeira etapa da infra-estrutura do Centro Turístico de Guadalupe (CTG), que é a Via Litorânea de Guadalupe, uma estrada de 12,1 km de extensão. O evento irá coincidir com a visita do presidente do BID (Bando Interamericano de Desenvolvimento), Enrique Iglesias. "Com isso, os hotéis que desejarem se instalar na área de Guadalupe já poderão fazê-lo", afirmou o coordenador do Prodetur em Pernambuco, Amaro Queiroz.”

Quando essa nota foi publicada no dia 29 de março de 1998 pelo Jornal do Commercio de Pernambuco, nosso projeto para Guadalupe já estava a pleno vapor. Terminávamos a construção das seis primeiras casas que logo estariam a venda, aproveitando toda a valorização que a infraestrutura projetada traria para o local. Este era o nosso sonho.

Faço um parêntese para voltar no tempo.

Em 1996, lia a Gazeta Mercantil quando me deparei com uma matéria sobre o Centro Turístico de Guadalupe localizado em Sirinhaém, Pernambuco.

Paulista de pai pernambucano vinha com freqüência ao Recife desde meus tenros um, dois anos de idade. Fiquei surpreso ao tomar conhecimento do tal Centro Turístico pelo jornal, nunca havia ouvido falar dele.

Liguei para uma prima em Recife e perguntei se conhecia o projeto. Não, nunca ouvira falar. Pedi que me enviasse um folheto de Guadalupe que poderia retirar na AD Diper, agência de desenvolvimento de Pernambuco, que por coincidência era bem próxima à sua casa.

Quando recebi o folheto fiquei maravilhado. A área era de uma beleza espetacular. O projeto do Centro Turístico de Guadalupe previa asfaltamento de estradas, heliporto (já construído) plano de ocupação delimitando áreas residenciais, comerciais e hoteleiras, marinas e o esquimbáu! Mas esquimbáu de primeiro mundo!

Outra prima havia construído uma casa na praia de Guaiamum, em Sirinhaém, no coração de Guadalupe e também nunca ouvira falar do projeto. O sinal de alerta soou.

Se um projeto de tal magnitude não era bem divulgado localmente aí estava uma oportunidade para quem chegasse antes.

Eu e um grande amigo estávamos à procura de alguma oportunidade de negócio para tocarmos juntos. Apresentei a ele o projeto e nos animamos. Disse apenas que um de nós precisaria vir para cá. Não me fiz de rogado. Adorava Pernambuco e passar um tempo morando aqui cairia tremendamente bem.

Vim ao Recife e em reunião na AD Diper consegui mais informações. Recebi, inclusive, uma lista de grupos hoteleiros que estudavam o projeto para lá se implantarem. Cheguei a me reunir com uma grande construtora da época, a Maranhão, que estudava erguer um hotel com a bandeira do Meliá.

De volta a São Paulo, meu amigo e eu resolvemos encarar a parada e começar construindo casas para aproveitar o momento e estudar as reais chances do negócio.

Sirinhaém era uma praia que poucos conheciam. Paradisíaca, imenso coqueiral a beira mar formada pelas praias “Barra de Sirinhaém, “Guaiamum”, “Gamela” e “Guadalupe” esta na foz do rio Formoso, frente para a praia dos Carneiros, em Tamandaré, também de rara beleza.


Anos antes um visionário português lançou lá um loteamento muito bem planejado com plano de ocupação bem definido antevendo o desenvolvimento da área. Com uma campanha de propaganda vendeu alguns lotes. Hoje seu loteamento, entre as praias de Guaiamum e Gamela, dá nome ao lugar: Aver-o-mar. Infelizmente na época o desenvolvimento que esperava não aconteceu.

Aluguei um apartamento em Piedade, Jaboatão dos Guararapes, e comecei a ir toda semana para Guadalupe para garimpar terrenos para comprar. Compramos oito, dois à beira mar e seis pré- beira mar. Minha prima arquiteta chamou uma colega e amiga e desenvolveram seis projetos para seis casas, duas a beira mar e quatro pré.

Por definição minha, queria casas de muito bom gosto, materiais e construção de padrão diferenciado das que se construíam no local, normalmente geminadas, de primeiro andar. Em um terreno onde eu propunha uma casa construíam quatro. Lembro-me de ter dito que se era para construir merda que estragasse a beleza das praias era melhor não construí-las.

Contratamos dois engenheiros para tocar as obras. Um deles construía casas em Tamandaré. Quando viu os projetos das casas ficou desconfiado. Era uma overdose para o local. Insisti.






Como noticiaram os jornais, quando a estrada costeira ficou pronta vieram para a inauguração o governador Miguel Arraes e o presidente do BID, Enrique Iglesias. Armaram uma elegante tenda no início da estrada para a cerimônia.

Arraes, que nunca viu turismo com bons olhos, disse algumas palavras, pegou seu carro e ao invés de inaugurar a estrada percorrendo seus poucos quilômetros para, no mínimo, acenar para a população local em comemoração ao evento, deu as costas e foi embora para sua casa na praia de Maragogi em Alagoas!

Neste instante tive o presságio de que a coisa ia desandar. E desandou.


O governo literalmente voltou as costas para o projeto, os grupos hoteleiros não vieram, os investimentos também não e micamos com seis graciosas casas na mão. Confirmando as previsões do construtor, sem investimentos que dessem à área ares de modernidade e infraestrutura adequada, as casa ficaram realmente superestimadas para os modelos locais.



Sem conseguir respostas para as ofertas que fazíamos, o tempo foi passando e as casas se deteriorando pela ação de vândalos que roubavam de tudo, desde coqueiros que plantamos até janelas, portas e tudo que pudessem levar.

Várias queixas na delegacia e rondas pelo local e acabamos por entregar os pontos.

Há dois anos num prazo de meses vendemos todas as casas, com o devido prejuízo, e ficamos somente com uma para contar a história. História que conto agora quando vendemos a sexta e última.

Hoje, 13 de outubro de 2009, assinei o contrato. Nosso sonho terminou. Começaram os dos compradores que adoram e curtem as praias do ex Centro Turístico de Guadalupe.

Serão felizes!

quarta-feira, outubro 07, 2009

Lula, o brasileiro

Nunca antes em sua história este país teve um presidente tão brasileiro. Verdade. Tente imaginar qualquer outro, por mais popular e populista que fosse, pulando, gritando, agarrando e sendo agarrado em comemoração à conquista mesmo que de uma Olimpíada.

Juscelino, elegante, vendendo charme não era de grandes intimidades em público. Um bom sorriso era suficiente. Jânio Quadros feria a liturgia do cargo somente com a marvada, que lhe custou o cargo. Getúlio, gordeto baixote não levava jeito.

Sempre pensei que o atual entendia o caráter do brasileiro e sabia como manipulá-lo. Vendo-o espremido por autoridades e famosos em comemoração, suado, chorando, caiu a ficha: não é que ele entenda a alma do brasileiro, ele é a síntese dessa alma, para o bem e para o mal.

Quando seus aloprados deram bandeira como um bom brasileiro desconversou. Para os seus a moral e a ética são valores complacentes e adaptáveis ao interesse das amizades. Como os brasileiros.

Também sabe mentir para defender os amigos desde que, veja lá, não queiram levá-lo junto para o brejo. Aí a porca torce o rabo e o amigo que se dane. Depois com a cara dura de sempre retoma a amizade com benesses e fecha os olhos para novas estripulias.

Mário de Andrade escreveu em 1926 que "o brasileiro não tem caráter porque não possui nem civilização própria nem consciência tradicional. Os franceses têm caráter e assim os iorubas e mexicanos. Seja porque civilização própria, perigo iminente ou consciência de séculos tenham auxiliado, o certo é que esses uns têm caráter. Brasileiro não.”

Talvez por isso o brasileiro encontre no presidente macunaíma todas as justificativas para seu vagabundear, para suas pequenas ou grandes infrações éticas e morais o que lhe alivia e lhe torna seu fã incondicional.

O roubo, a devassidão e o ataque aos cofres públicos nada mais são do que fruto da esperteza bem-vinda dos brasileiros. Afinal se todos fazem e o presidente aplaude ou ignora porque não nos locupletarmos todos, como dizia o Stanislaw Ponte Preta.

O presidente é o espelho do nosso escracho, folgança, falta de educação e cultura e assim sua imagem nos redime. Não há quem resista à sua simpatia.

Assim também é no exterior em contatos com dirigentes estrangeiros, de primeiro, segundo ou terceiro mundos. Todos se encantam com a figura exótica, folgada, digna do melhor futebol do mundo, de uma boa bunda das praias cariocas e das fogosas mulatas de um eterno carnaval!

É o primeiro e único presidente genuinamente brasileiro. Não existiu outro nem existirá no curto prazo. É um amigo boa praça, joga sua pelada, toma sua cachaça e, suprema glória, é corintiano! .

Dos brasileiros ele é o mais esperto. Seu despudor me afronta, mas sua performance cativa os conterrâneos e o mundo. É o cara!

Que assim seja ó Lula, o brasileiro.

quinta-feira, outubro 01, 2009

Nós, a perereca e a vaca

A “Physalaemus soaresi” uma perereca de 2 cm, em extinção e em fase de acasalamento, interrompeu uma obra do PAC no Rio de Janeiro orçada em R$ 1 bilhão.

Apelidada de “Norminha” pelos cariocas, habita a mata em Seropédica por onde passa o Arco Metropolitano. Ou deveria passar.

Imagine se uma perereca de dois centímetros, no senso comum, pode interromper uma obra daquela importância. Chega a ter graça.

Nos EUA a Wal-Mart resolveu medir as pegadas de carbono da vaca na produção do leite um dos principais produtos de suas lojas. Chamam de pegadas de carbono o “rastro” que determinada cadeia produtiva deixa de emissão de carbono equivalente na sua produção.

A do leite é das mais complicadas, desde a ração da vaca até o varejo. Como são várias as metodologias para essa medição tenta-se dar precisão a um processo absolutamente impreciso.

Mas vamos lá. Uma medida de pegada de carbono para um galão de leite (3,8 litros) de vaca nos EUA é de 5 kg de CO² equivalente. Agora veja você como se distribui na cadeia produtiva: cultivo de ração 1 quilo, produção na fazenda 2,95 quilos, processar 340 gramas, embalar 340 gramas, distribuir 142 gramas e varejo 170 gramas.

Agora se divirta: os itens de maior peso na medição da produção na fazenda são a regurgitação, a flatulência e o estrume da vaca!

De qualquer maneira esses extremos ambientalistas servem para trazer o assunto à discussão e de alguma forma sensibilizar os comuns mortais de que algo está acontecendo com o clima e que devemos nos preocupar e fazer alguma coisa a respeito.

Fiquei me perguntando quantos brasileiros entendem isso. Poucos, imagino. O próprio presidente já ficou enfurecido com o fato. Não estranho.

Os mais desabonados que, como ele, subiram na escala social o que menos querem por perto são florestas, plantas e sua fauna. Assim que conseguem sua casinha a primeira providência é cimentar tudo, ladrilhar, por cerâmica ou empedrar, mesmo. Querem esquecer a miséria no mato, na lama em palafitas e favelas.

Só faltava quererem que se importassem com uma merreca de uma perereca de 2 cm.

Talvez um dia se alguém provar bem provadinho que se não tomarmos cuidado a perereca seremos nós. De preferência numa novela da Glória Perez na Globo: “Caminho do Caos”.

Are Baba!