Aqui ó

Palavras de Miguel Reale Filho ditas em pequena entrevista da última Veja:
”Creio que a população brasileira se cansou da reiteração dos diversos episódios de corrupção a que assistiu: houve Collor, anões do Orçamento, Severino Cavalcanti e onze meses de crise do mensalão. Tudo isso leva a uma crescente descrença na política e a uma ausência de mobilização – o que, a meu ver, é um fenômeno extremamente perigoso.
Porque, se tudo o que está ocorrendo não tiver como resultado um impeachment nas urnas, isso gerará no grupo que tomou o poder a sensação da onipotência e da impunidade. Se Lula for eleito depois de todos esses fatos, nós não estaremos dando uma carta-branca para que um autoritarismo desbragado tome conta do país? Não estaremos emprestando nossa anuência a tudo o que aconteceu? Temo o que possa vir depois disso.”
Com todas as denúncias apuradas até agora Lula ainda tem quase 38% na preferência de voto nas pesquisas. São os lulalélés, eleitores não arrependidos de Lula.
São, no mínimo, de três tipos: o alienado, que se nega a debitar ao Lula a festa da uva em que se transformou o Brasil, o empedernido petista que releva a roubalheira geral justificando com argumentos brilhantes como “ é são ladrões, mas são os nossos ladrões” e o da boquinha.
O alienado, Lula tira de letra. Basta fingir que nada é com ele, papel que desempenha com brilhantismo. Paira olimpicamente acima das mundanas acusações. O alienado não lê, não se informa e no máximo assiste distraidamente o Jornal Nacional da Globo contrariado por intervalo tão longo entre suas novelas. No JN Lula está sempre discursando sobre o melhor governo que este país já teve nos últimos quinhentos anos levando bolsa família para mais de nove milhões de famílias no maior programa de distribuição de renda do universo! Sem vírgulas, num só fôlego!
Vendo-o tão retumbante, o alienado é incapaz de relacioná-lo com os crimes apresentados a seguir, se é que a essa hora já não se levantou impaciente para ir fazer xixi se preparando para Belíssima. Por economia de neurônios, seu ouvido só capta frases feitas e manchetes. Por isso o alienado é alvo perfeito para os chavões populistas.
Para ele somente um Lula amargurado, arrependido, acabado, se entregando às algemas o levaria a desconfiar que talvez seja culpado. Mas se aos prantos Lula pedir perdão, perdoará no ato, incontinente.
Com o empedernido petista, Lula não precisa nem se preocupar. Ele é conivente com o saque. Como disse cinicamente o ator Antônio Fagundes com orgulho “somos novos no poder, somos ladrões mais fresquinhos”. Quando chamados à razão desfilam as mais pobres teorias da conspiração com discurso hoje restrito a maquinações de difusas elites já que não mais podem clamar contra os banqueiros, juros e FMI.
O da boquinha não é somente eleitor, é cabo eleitoral por motivos óbvios. Ele é parceiro, companheiro no assalto. Nestes três primeiros anos somente na administração federal Lula criou 37.000 empregos. Fora o aparelhamento de todas as estatais e cargos federais. Sem contar também com os mensalões, mensalinhos e tocos dos mais variados tipos.
Lula em três anos e pouco provou sua antiga tese de que a Câmara é um punhado de 300 picaretas. Conseguiu como ninguém nivelar por baixo a política no Brasil. Mostrou que a lama é seu reino e aí se chafurda governando bem a vontade. Tornou evidente a desimportância dos deputados e senadores para gerir o país. No último affaire do orçamento escancarou a sem vergonhice dos políticos que chantagearam por favores e a sua e de seus ministros que concederam o resgate.
Por essas e outras nas próximas eleições aqui para vocês, ó!
Já que comecei com uma citação, termino com outra, lembrando o poema “No caminho com Maiakovski” de Eduardo Alves da Costa do qual transcrevo parte:
“[...]”.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
[...]"